segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Paremiologia, Provérbios em Tavira

O II Colóquio Internacional já rola na cidade tavirense, com a presença de cerca de setenta participantes.

Ontem, domingo dia 9, houve a sessão de abertura ou recepção de honra dos participantes e convidados.

Teve lugar durante a tarde no Hotel da Porta Nova, finalizando com um pôr-do-sol no terraço do mesmo, sob um fim de dia outono, claro e radiante.

Na mesa de honra, entre os representantes da organização, tomaram igualmente lugar o membro da autarquia local em representação do respectivo presidente, ausente no estrangeiro.

Igualmente tomou lugar na mesa de honra o convidado especial, o digno embaixador da Finlândia junto de Portugal, país que está representado por uma larga comitiva e que muito tem acarinhado esta iniciativa.

E hoje, segunda feira dia 10, iniciaram-se os trabalhos técnicos, com as diversas comunicações inscritas, que se desenvolveram ao longo da manha e tarde no hotel Vila Galé.

O programa desenvolve-se em sessões de trabalho até à próxima sexta-feira.

sábado, 8 de novembro de 2008

Tavira e os Militares

Como se sabe durante o século XX esta cidade viveu muito da existência de estabelecimentos militares os quais devido às suas guarnições providenciaram a esta cidade uma certa vivência e igualmente uma certa economia nas actividades locais.

A existência de muitos mancebos que por aqui passavam durante os seus treinos, que eram ministrados nas unidades aqui sediadas, os quais não só criavam uma certa vivência na sociedade local como igualmente alimentavam um vasto tecido comercial desde o comércio, cafés, restaurantes e casas de pasto, como também o aluguer de alojamentos e prestação de serviços, lavandaria e outros.

No último quartel do século XX, o encerramento da unidade de formação de quadros militares que existia em Tavira levou a uma redução drástica dos efectivos e disponibilização de instalações.

Fruto de uma nova orientação dos altos comandos militares, que de repente se aperceberam que a região algarvia não possuía nenhuma infraestrutura militar digna desse nome, levou a que o aquartelamento de Tavira fosse reactivado, inicialmente com a passagem bimensal de destacamentos de diversas especialidades do Exercito e mais recentemente com a colocação definitiva do Regimento de Infantaria Nº 1.

Desta forma, Tavira volta a ter a vertente militar que sempre a caracterizou ao longo dos séculos, e o monumento do Alto de Santo Amaro volta a ter uma face actual, embora as circunstancias da vida militar de hoje, século XXI, já nada tenham a ver com as que existiam no século XX.

Felicidades ao RI 1 e que a sua vivência na linda Tavira seja duradoura!

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Paremiologia em Tavira

O tempo corre e quem estiver interessado em Paremiologia tem oportunidade de se inscrever no 2º Colóquio Internacional, que mais uma vez, a exemplo de 2007 vai reunir-se de novo em Tavira.

No ano passado e igualmente em Novembro, um grupo de entusiastas conseguiu efectuar a Primeira Reunião Internacional sobre o tema da Paremiologia.

Só não dizemos Mundial mas quase, uma vez que reuniu os mais significativos representantes do estudo dos Provérbios vindos dos mais diversos locais e quase que representando as Sete partidas do Mundo.

Este ano, já integrados numa Associação, voltamos a unir os esforços para que não se perca o impulso inicial e se possível iniciar uma expansão que torne tal reunião além de Internacional em Mundial.

Para isso contamos com o movimento dos interessados no tema que, se não tiverem disponibilidade de assistir aos trabalhos, pelo menos, associem-se na Associação e obtenham através desta toda a informação pertinente.

Entretanto, vá consultando o sítio do colóquio e da Associação no endereço:

http://www.colloquium-proverbs.org/index.php?lang=pt

E bons Provérbios!


Se o teu amigo é de mel, não o lambas todo !!!

Tavira deixa de estar triste!!!

Pois os ares no Alto de Santo Amaro já são mais alegres!

O Par voltou a ser Par!

Há cerca de três dias voltou ao seu local de eleição a estátua da moça tavirense no seu eterno adeus, até breve! ao jovem moçoilo que junto da porta da estação dos Caminhos de Ferro no seu traje militar se despede com a mágoa de todos os momentos vividos na cidade.

A estátua da moça, colocada na placa central do Alto de santo Amaro tinha sofrido um acidente que obrigou a remoção para a unidade de cuidados intensivos conveniente.

Durante cerca de três meses o bravo jovem militar acenou em vão para a placa vazia do seu derriço, quiçá trilho comum futuro.

Todos nós que em Tavira deambulamos na nossa labuta diária ficamos mais contentes por ver aquela partida representada pelo par.

Para muitos é a recordação de um momento semelhante que já está inscrito no nosso album pessoal.

Para alguns representa até um antes do que veio a ser o presente!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Tavira e a Paremiologia

O que é a Paremiologia???

Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, no seu volume II a páginas 2756 podemos ler:

PAREMIOLOGIA -s.f., com origem da palavra grega (provérbio) + logia.
1 - Tratado acerca dos provérbios;
2 - Conjunto de provérbios.

Com esta informação já somos capazes de ver um pouco mais de luz sobre o assunto.

Mas, e o que é Tavira tem a ver com tudo isto ?

Ora bem, os provérbios também se estudam e podem-se sentir algumas dúvidas como por exemplo a seguinte:

Será que existem provérbios em diversas línguas e originados em civilizações e culturas diversas que sejam similares ?

Será que um provérbio tão vulgar como o nosso: MUITA PARRA, POUCA UVA! também existe com o mesmo sentido numa civilização asiática ou africana, sendo nativo dessas mesmas civilizações e não importado ?

Ora foi em Tavira que pela primeira vez se reuniu uma Conferência a nível mundial com especialistas dos mais diversos países para debater este tipo de assuntos.

Tal sucedeu em 2007, no mês de Novembro, com a esperança que daí viessem a frutificar outras iniciativas.

Não se pode dizer que não houvesse progresso e daí que este ano, em 2008 e igualmente no mês de Novembro, mais precisamente entre os dias 10 e 16 irá ter lugar o II Congresso.

No entretanto, e como forma de apoio à organização dos Congressos também nasceu uma associação da qual todos os que gostam do tema podem ser sócios.

Portanto, Tavira está de parabéns com o evento em dois anos consecutivos.

Tavira está triste!!!

Pois é verdade! Tavira está triste.

Vai para três meses que um dos seus ex-libris mais significativo e simpático está reduzido a metade.

Para quem não sabe, esta cidade no século XX, mais significativamente após a II Guerra Mundial, viveu muito do facto de nela estar localizado um aquartelamento militar especialmente preparado para a formação de quadros do Exército.

Tal circunstância obrigou muitos cidadões de outras paragens do país a deslocarem-se para esta cidade e nela integrando parte da sua vivência de juventude enquanto cumpriam as suas obrigações militares.

A cidade beneficiou disto pois além de ter uma população flutuante apreciável muitos negócios locais foram sobrevivendo com essas presenças.

Também o aspecto de relacionamento ocorreu de tal forma que muitos jovens aqui encontraram o seu par do resto da vida e muitos acabaram por se fixarem em Tavira.

Só no último quartel do século XX terminou esta circunstância com as alterações políticas e consequentes necessidades militares que conduziram mesmo ao encerramento da unidade militar.

Agradecida dessa vivência resolveu a cidade criar um monumento que dignificasse essa memória, o qual teve uma feliz concepção e melhor localização, no Alto de Santo Amaro, junto à estação da CP, que tantas vezes foi testemunha das chegadas e partidas desses jovens.

O monumento escolhido, constituído por duas figuras, um jovem militar que junto da porta da estação faz adeus a uma jovem que se encontra na parte central do Alto de Santo Amaro, de frente para a estação.

Assim o artista e a cidade quizeram manifestar o momento tantas vezes repetido.

Pois recentemente, por desastre ou outra razão, a jovem da placa central teve que ser recolhida para recuperação deixando o ex-libris incompleto.

Esperamos que, com bastante brevidade, possamos ter de novo o monumento em toda a sua expressão!!!!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A Evolução da Vida no Planeta TERRA

Mais um avanço na compreensão do desenvolvimento da vida no Planeta Azul.

Citando o Público de 2008.10.16:


Informativo-Notícia 2008-10-15 21:31:00

A conquista da terra começou por um pescoço

Dois anos e muito estudo depois, a anatomia interna do crânio do fóssil mostra os passos intermédios da transformação das estruturas que levaram animais incapazes de mexer a cabeça a seres que não precisam de água para se sustentar.

"Pensávamos que esta transição do pescoço e do crânio fosse uma passagem rápida", disse um dos autores do estudo a publicar amanhã na revista "Nature", Neil Shubin, da Universidade de Chicago. "Faltava-nos a informação sobre os animais intermédios. O Tiktaalik preenche este buraco morfológico. Mostra-nos muitos dos passos individuais e esclarece a questão do timing nesta transição complexa."

O vertebrado viveu há cerca de 375 milhões de anos no Devónico. Era um predador com 1,80 metros e vivia em águas pouco profundas.

Os ossos foram descobertos em 2004 na ilha de Ellesmere, no Canadá. Tinha o crânio, o pescoço, as costelas e parte dos membros como os tetrápodes, mas as mandíbulas primitivas, as escamas e as guelras eram iguais aos dos peixes.

Os novos estudos deram mais informação. "Vemos que as características do crânio que antes eram associadas a animais que viviam em terra apareceram primeiro como adaptações a águas pouco profundas", explicou o primeiro autor do estudo, Jason Downs.

A cabeça do Tiktaalik tinha uma construção mais sólida do que os seus antepassados e era móvel relativamente ao resto do corpo, o que permitia sustentar-se no leito dos cursos de água. O fóssil tinha um osso mandibular que nos peixes coordena o movimento, a alimentação e a respiração, mas muito reduzido. Nos tetrápodes a estrutura também é mínima e evoluiu para um dos ossos do ouvido. Todas estas mudanças foram essenciais para o que estava por vir, a colonização da terra.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Al-munákh (2)

Está um fim de tarde muito calmo e sereno, praticamente sem bafo de vento mais de um fim de Verão Setembrino do que de um Outonal Outubro.

E falemos de outra lenda das Arábias ainda relacionado com esse digno animal, de porte, que é o CAVALO.


Há muitos anos, no deserto da Arábia, vivia um guerreiro beduíno que possuía uma égua especial.

A égua acompanhava-o sempre e podia ler os seus pensamentos, permitindo-lhe a vitória nas batalhas e suscitando a inveja das tribos.

Um dia, o beduíno foi ferido gravemente numa luta. Com o seu amo inconsciente e a quilómetros do acampamento, a égua carregou-o sobre o seu lombo, com cuidado.

Avançou durante dias sem comida ou água.

Quando a corajosa égua chegou ao seu destino, estava exausta e o seu amo estava morto. Removeram o corpo: no lombo havia uma mancha de sangue.

Eles perderam o seu sayyd (chefe) mas estavam gratos pela devolução do corpo à família. A viagem foi dura, a égua estava prenhe. Temiam.

Mas na Lua Nova o potro nasceu vigoroso, saudável, de qualidade excepcional.

No lombo tinha uma mancha, idêntica à que o sangue do amo deixara no lombo da mãe.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Al-munákh

Num bom fim de tarde, mesmo que não tenhamos a felicidade de estar num deserto mas podemos substituir pela calma planície alentejana, façamos um "al-munákh".

Normalmente nestas ocasiões cria-se um bom ambiente para que as conversas se desfiem, sem nenhuma linha definida podendo passar de um comentário a um acontecimento do dia a uma história contada como uma lenda.

Uma lenda como a da criação do CAVALO por Alá, que segundo consta criou tal animal tomando uma mão cheia de El Marees (vento sul) bafejando-a.

"Eu criei-te para que sejas único.
Terás o olhar da águia, a coragem do leão e a velocidade da pantera.

Do elefante dou-te a memória, do tigre a força, da gazela a elegância.

Os teus cascos terão a dureza do sílex e o teu pêlo a maciez da plumagem da
pomba.

Irás saltar mais do que o gamo, e terás do lobo o faro.
Serão teus à noite os olhos do leopardo, e orientar-te-às como o falcão, que
regressa sempre a casa.

Serás incansável como o camelo, e fiel como o cão !

E para sempre te dou a beleza da rainha e a majestade do rei.

Hossane, que a doçura da vitória repouse sobre os teus olhos. Que carregues
no teu dorso tesouros. Que a tua sela seja o meu templo.

Que voes sem possuir asas e conquistes sem o uso de nenhuma espada."

E com o sentimento desta lenda o fim da tarde fez-se noite.

sábado, 27 de setembro de 2008

O Ocidente e o Império do Meio em 2008 (3)

Pelo seu interesse transcrevemos o terceiro e último artigo desta série dado à estampa no Público de 10 de Setembro de 2008.




O poder militar chinês: a ameaça futura

Pedro Jordão - 20080910

A China planeia a muito longo prazo. É legítimo que nos interroguemos sobre os reais objectivos do seu esforço militarDiversos países, designadamente os Estados Unidos, sentem um paranóico temor perante o crescente poderio militar da China. Embora em matéria de segurança todos os cenários devam ser previstos, são pouco plausíveis as visões mais pessimistas no que se refere à China.Logicamente, seria imprudente desvalorizar militarmente este país. A China é o país mais populoso do mundo, possui as maiores forças armadas, com 2,3 milhões de efectivos, é uma potência nuclear e desenvolve um consistente processo de modernização das suas capacidades de combate, inclusive em domínios de sofisticada tecnologia da próxima geração.

É iniludível a convergência entre a ascensão desta força militar e a transformação da China numa futura superpotência económica, de que decorrerá um grande peso político global. A China pensa e planeia a muito longo prazo. É legítimo que nos interroguemos sobre os reais objectivos de todo este esforço militar.

Os norte-americanos assustam-se pelo facto de o orçamento militar chinês ter crescido 17,8 por cento em 2007 e 17,6 por cento em 2008. Mas devemos manter a noção das proporções. Em valores absolutos, o orçamento de defesa dos Estados Unidos é nove vezes superior ao da China e o poder militar norte-americano tem já um avanço gigantesco e crescente relativamente a qualquer outro país ou à Europa. Os EUA não só possuem uma enorme superioridade como também desenvolvem já novas gerações de armas e tecnologias que lhes assegurarão uma supremacia militar durante muitas décadas. O orçamento de investigação e desenvolvimento militar dos EUA é superior a todo o orçamento da defesa da Alemanha. Nem a Europa nem a China terão uma capacidade comparável num longuíssimo horizonte temporal.

A China será a grande potência militar da Ásia e terá capacidade para intervir noutras regiões do mundo, inclusive, se necessário, para proteger as suas fontes e rotas de abastecimento de petróleo, alimentos e matérias-primas essenciais. A forte aposta na capacidade naval tem esses propósitos mas também o de ser um contrapoder à influência naval norte-americana na região. A China possui mísseis balísticos intercontinentais, designadamente o DF-31, que podem atingir território europeu e norte-americano.

A modernização chinesa privilegia os submarinos avançados, os aviões não-tripulados, os mísseis ar-terra de alta precisão, as comunicações militares de longa distância, os mísseis anti-satélite e a capacidade de rápido ataque da Força Aérea a objectivos longínquos. Mas, inteligentemente, a China aposta em novas tecnologias não-convencionais que poderão revelar-se cruciais em futuros conflitos, sendo esse o caso da capacidade de guerra electrónica e informática e de tecnologias como o impulso electromagnético (que poderia ter um efeito determinante na fase inicial de um conflito com Taiwan).

As capacidades chinesas de ciberguerra são um exemplo da perspicácia com que este país antecipa metodologias vitais em conflitos do futuro, planeando atingir a superioridade de guerra electrónica em 2050. A China desenvolveu modelos de ataque informático a frotas de porta-aviões dos Estados Unidos. Ciberataques ensaiados a partir da China têm sido quase constantes, embora se negue o envolvimento oficial. Desde 2005 foram registadas no Pentágono 79.000 tentativas de intromissão informática, das quais 1300 com algum grau de sucesso. Um ataque conseguiu fechar parte do sistema de computadores do gabinete do próprio secretário da Defesa.Toda esta preparação militar de vanguarda pode ser perigosa ou benigna. Ter armas não é necessariamente um perigo. Um indivíduo pacífico com um míssil é menos perigoso que um psicopata com um punhal. O que verdadeiramente define a perigosidade de uma estrutura militar é a mente de quem a controla. É imperioso avaliar o que motiva os chineses.

A China é uma civilização com 4 mil anos que geralmente deteve uma superioridade perante o resto do mundo nos planos científico, tecnológico e cultural. Habituou-se a olhar os outros povos como bárbaros. Em lugar de tentar controlar o mundo "bárbaro" a China optou por isolar-se dele. A famosa muralha traduz essa postura. Mas nos últimos 170 anos a China sofreu duras derrotas, ocupações e humilhações. Na verdade, o mundo não está habituado a agressões da China, mas ela sofreu agressões estrangeiras.

A China está determinada a exorcizar aquelas humilhações, a recuperar o estatuto de grande potência e a inspirar respeito e dignidade. As mentalidades pacificaram-se, não existe uma postura internacional agressiva, os contenciosos com os vizinhos estão a ser resolvidos e mesmo com Taiwan o desanuviamento progrediu imenso.

O poder militar chinês será muito mais provavelmente defensivo do que aventureiro. A China não deseja tutelar o mundo. Simplesmente não aceita que o mundo a tutele.

Presidente do CINT (ped.jordao@gmail.com)

Último de uma série de três artigos

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O Ocidente e o Império do Meio em 2008 (2)

Na continuação dos artigos de opinião no Público acerca deste tema, foi publicado em 8 de Setembro de 2008, o segundo artigo que se transcreve:




Como a China mudará a economia global

Pedro Jordão - 20080908

Os 29 milhões de empresas privadas representam mais de dois terços da economia chinesa

Aascensão da economia chinesa impressiona pelo enorme crescimento ao longo de muitos anos consecutivos, mas também pela transformação qualitativa, que é uma das mais vibrantes experiências económicas da história. Este processo ocorre num país com um quinto da população mundial, o que torna inevitáveis as ondas de choque na economia global.

Esta dinâmica da China insere-se na tendência mais geral da emergência económica dos países em desenvolvimento. Esse vasto conjunto de economias emergentes, apesar da conjuntura de crise internacional, deverá, em 2008, crescer economicamente a um ritmo médio quatro vezes superior ao da zona euro. Neste ano a economia da China deverá crescer 9,8 por cento (quase seis vezes o ritmo da zona euro) e a da Índia 7,7 por cento.

O arranque económico da China, com as reformas iniciadas em 1978, surgiu num país de economia agrícola com uma indústria atrasada. A falta de gestão moderna, mão-de-obra especializada, recursos financeiros, tecnologia e experiência internacional impôs um modelo de crescimento assente em indústrias de baixo valor acrescentado e em mão-de-obra pouco qualificada e intensiva.Mas os chineses aprendem depressa. Nas décadas seguintes a transformação da economia foi inimaginável. As empresas chinesas elevaram enormemente o seu nível tecnológico e muitas já lideram sofisticados segmentos de mercado internacionais. No início, a economia era completamente controlada pelas empresas estatais, mas agora os 29 milhões de empresas privadas representam mais de dois terços da economia. Mesmo as empresas estatais, no passado disfuncionais, tornaram-se agora rentáveis no seu conjunto, com lucros que nos últimos três anos cresceram 223 por cento.

Os lucros das empresas conferiram-lhes capacidade financeira para adquirir a mais avançada tecnologia do mundo. As receitas fiscais numa economia expansiva permitiram financiar fortemente a educação, a ciência, a defesa, infra-estruturas e programas sociais. A economia e o país mudaram extraordinariamente.

A China possui agora algumas das maiores empresas e alguns dos maiores bancos do mundo. A Lenovo é o segundo maior produtor mundial de PC e adquiriu toda a lendária divisão de computadores pessoais da IBM. A China é o país do mundo com o maior número de utilizadores da Internet e o número de assinantes de telemóveis é muito superior a toda a população da Europa. Em 2007 o número de registos de patentes chinesas aumentou 20 por cento, suplantando os Estados Unidos e o Japão. Em 2003 a China passou a exportar mais tecnologias da informação do que todos os países da União Europeia juntos. Em 2004 superou os Estados Unidos e tornou-se no maior exportador mundial dessas tecnologias.

Na próxima década os chineses emergirão como uma potência nos serviços de alta gama, captando uma quota crescente do mercado mundial de offshoring de serviços.

Este contexto induziu a maior prosperidade dos cidadãos em geral e o consumo interno cresce explosivamente. A classe média de 300 milhões de habitantes é ainda minoritária mas é numericamente idêntica a toda a população dos Estados Unidos. Este mercado de consumo passou de irrelevante para o nível de um mercado gigantesco, no qual quase todas as empresas globais competem para se implantar. Em 2007 venderam-se 8,3 milhões de veículos e 40 milhões de turistas chineses viajaram no estrangeiro. Nos produtos de luxo a China é já importante, sendo o maior mercado de crescimento para grandes marcas globais enquanto absorve 15 por cento da produção da Rolls Royce.

As assimetrias de desenvolvimento são acentuadas, nomeadamente entre zonas rurais e urbanas. Todos beneficiam com as reformas, mas uns mais rapidamente que outros. A China retirou da pobreza centenas de milhões de cidadãos, o que configura o maior sucesso de erradicação de pobreza na história mundial.

As empresas chinesas passaram a ser fortes investidores no resto do mundo, tendência que acelerará imenso nos próximos anos, inclusive com aquisições aparatosas na Europa já em preparação. Nos últimos cinco anos o número de aquisições de empresas no estrangeiro aumentou 10 vezes.

Embora o PIB per capita seja ainda baixo, a economia da China é (em ppp) já a segunda maior do mundo e previsivelmente ultrapassará a norte-americana nas próximas décadas.

Mas esta ascensão da China é apenas a ponta de um iceberg que é a imparável competição e o consumo das economias emergentes. O que nas próximas décadas alterará dramaticamente o modus operandi e as linhas de força da economia mundial não é apenas a China mas esse conjunto de países. O mundo da economia, da política e do poder, como o conhecemos no séc. XX, está a desaparecer parcialmente.

Torna-se indispensável a inteligência estratégica de nos reinventarmos em tempo útil.

Presidente do CINT (ped.jordao@gmail.com).

Segundo de uma série de três artigos

domingo, 7 de setembro de 2008

O Ocidente e o Império do Meio em 2008

Transcreve-se o artigo de opinião publicado no Público de 7 de Setembro de 2008.




China: mitos e impacto global

Pedro Jordão - 20080907

Quem imagina a economia chinesa assente em baixa tecnologia e mão-de-obra primitiva está atrasado 15 anos

Durante décadas o Ocidente exortou a China a abrir-se e a integrar o comércio e a política globais. Mas quando a China o fez o Ocidente apavorou-se com o impacto dessa abertura. A miopia estratégica ocidental é pungente. O que poderia esperar-se quando um país que contém mais de um quinto da humanidade se integra na economia e na sociedade mundiais? O impacto global da China é profundo. E irreversível.Desde 1990 as exportações da China cresceram 17 vezes e o seu PIB quintuplicou. Os excedentes comerciais criam gigantescas reservas de moeda estrangeira. Os lucros das empresas geram sólidas receitas fiscais. O investimento externo tem entrado a um ritmo de mil milhões de euros por semana.

As remunerações dos trabalhadores elevam-se. O crescente poder de compra criou uma classe média de algumas centenas de milhões de chineses. A China era essencialmente um produtor mas agora é também um mercado consumidor, inclusive para produtos de luxo. Os cosméticos são já um mercado de 15 mil milhões de dólares.

A liquidez nacional permite o financiamento de reformas a um ritmo alucinante, desde a ciência às infra-estruturas e às condições sociais. Só em 2005 a China comprou 215 aviões comerciais. Até 2020 serão construídos mais 55 aeroportos. Há 200 milhões de passageiros aéreos internos por ano. Dentro de três anos a China produzirá anualmente mais doutorados em tecnologias que os Estados Unidos. Os utilizadores da Internet são já 260 milhões e há 660 milhões de assinantes de telemóveis. Em 2008 o orçamento da educação aumentou 45 por cento.

Quem imagina a economia chinesa assente em baixa tecnologia e mão-de-obra primitiva está atrasado 15 anos. A China detém tecnologia de vanguarda e é já o maior exportador mundial de tecnologias da informação.

Apesar dos êxitos, os problemas são ainda sensíveis. Embora toda a população tenha beneficiado com as reformas, as assimetrias são acentuadas, entre zonas rurais e urbanas e no seio destas. A luta contra a pobreza na China é o ex-líbris da ONU. Apesar de persistirem muitos milhões de pobres, centenas de milhões de chineses foram retirados da pobreza. Enquanto os Objectivos do Milénio da ONU para a erradicação da pobreza não serão atingidos pelo mundo no prazo estabelecido, 2015, a China ultrapassou-os com 14 anos de antecedência, o que é a maior conquista na luta contra a pobreza na história da humanidade.

As condições sociais melhoraram mas muito falta ainda. O desenvolvimento tem consequências positivas e negativas, incluindo poluição. A China introduz ambiciosos programas ambientais, é já um dos líderes mundiais em tecnologias de energias alternativas e aposta numa nova geração de automóveis híbridos.

A gestão urbana é um desafio crucial. Na Europa existem 35 cidades com mais de 1 milhão de habitantes, mas na China esse número será de 219 em 2025 e em 2030 mil milhões viverão em cidades.

As mentalidades evoluíram radicalmente mas subsistem diferenças geracionais entre alguns que foram formatados no regime comunista e os que se estruturaram já na fase de abertura. Visões de vanguarda coexistem com casos de inabilidade e de atraso conceptual, mas a tendência predominante é de modernidade.

O Ocidente justamente insiste com a China para que intensifique a democratização. Mas é necessário manter-se a autoridade moral e a justiça na avaliação dos progressos já produzidos.

A democracia chinesa carece de maturação. Mas estão os europeus conscientes de que na Europa, perante um tratado que afectaria a vida de gerações, foi montado um antidemocrático complot para impedir que os cidadãos europeus decidissem o seu futuro? Esquece-se que um presidente europeu considerou um perigo consultar-se os cidadãos e que, depois, os políticos poderiam ter que "corrigir" essa decisão democrática?

A China deve respeitar mais os direitos humanos. Mas países pioneiros da integração europeia mantiveram a pena de morte (e aplicaram-na) ainda durante décadas e um membro da zona euro aboliu-a formalmente há apenas quatro anos.

Os europeus condenam os baixos salários chineses. Mas os salários aumentam com a prosperidade. O custo da mão-de-obra na Noruega é cinco vezes superior ao de Portugal, país que um norueguês deveria considerar como local atrasado cujos cidadãos são explorados e auferem misérias.

Num país que durante milénios deteve uma superioridade científica, cultural e tecnológica, as humilhações sofridas desde o séc. XIX induzem o anseio de reassumir uma dignidade global.

A China e países como a Índia induzirão mudanças tectónicas na dinâmica internacional. O mundo não voltará a ser o mesmo. E este é apenas o início desse processo.

Presidente do CINT (ped.jordao@gmail.com). Primeiro de uma série de três artigos

sábado, 6 de setembro de 2008

A Física e o Humor

Do Blog DE RERUM NATURA , a 6 de Setembro de 2008, transcreve-se:



Não sei se os caros leitores já repararam que o "Inimigo Público", o jornal das Produções Fictícias incluído no "Público" às sextas-feiras, tem publicado o melhor humor científico português, isto é, o melhor humor usando temas ou a linguagem da ciência. Quem o assina é David Marçal, um jovem cientista a terminar o doutoramento em Química e que já trabalhou como jornalista do "Público" no âmbito do programa "Cientistas na Redacção". Eis um exemplo do seu humor científico tirado do "Inimigo Público" de ontem (motivado pelo recente assalto à caixa multibanco do Tribunal de Cascais, onde o alarme não soou e as câmaras não funcionaram):

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"MECÂNICA QUÂNTICA SOBRE... O DESAPARECIMENTO DA CAIXA MULTIBANCO DO TRIBUNAL DE CASCAIS

Segundo a mecânica quântica, quando uma partícula faz uma trajectória entre o ponto A e o ponto B, não se sabe muito bem o que aconteceu no caminho. Mas, segundo a mecânica quântica, isso também não interessa. Aliás, de acordo com o princípio de incerteza de Heisenberg, não sabemos muito bem onde está a caixa multibanco, sequer. Ou sabemos onde está ou a velocidade com que se desloca. Assim, a caixa multibanco pode perfeitamente num momento estar dentro do tribunal e no seguinte integrada na colecção Berardo de arte moderna, de onde já não sai por menos de dois milhões de euros....

CÂMARAS DE VIGILÂNCIA E ASSALTOS

De acordo com a mecânica quântica, quando observamos um sistema estamos a perturbá-lo e, logo, a influenciá-lo. Assim, quando se colocam câmaras de vigilância nos postos de gasolina, as câmaras estão a alterar a realidade. Podemos perguntar se os assaltos ocorreriam se não estivessem lá as câmaras para os ver."

David Marçal

Portugal e os Contratos Públicos

Publicado no Público de 6 de Setembro de 2008 da autoria de Manuel Carvalho, na sua página de Opinião, a seguir transcrevemos o artigo dada a sua mais de actualidade e descrição de uma realidade actual e que não se pretendia futura:




sábado, 6 de Setembro de 2008

A medida dos contratos públicos

É nas grandes empresas públicas que mais contratos suspeitos se fazem, sob a protecção do profissionalismo e a cumplicidade do labirinto burocrático de um Estado centralizado

Dezenas de inquéritos, sindicâncias, processos judiciais e inquéritos parlamentares, milhares de denúncias e protestos não bastam para erradicar da administração pública portuguesa as suspeitas de conluio, nepotismo e corrupção. Oito anos depois do escândalo que determinou a extinção de um serviço histórico do país, a Junta Autónoma das Estradas, ainda há altos quadros da Estradas de Portugal a manterem relações suspeitas com empresas de consultadoria que prestam serviços em áreas sensíveis como a arqueologia e o ambiente. No país onde o jeitinho é tradição, a relativização de princípios norma e o compadrio tradição, enraizou-se uma cultura de tolerância para com a pequena corrupção que acaba por favorecer a arbitrariedade, a concorrência desleal e a ilegalidade nos grandes negócios. Com este padrão de comportamento, é normal que o número de casos de compadrio e corrupção seja maior e mais facilmente detectado nas instâncias da administração pública com maior exposição a empreiteiros e consultores, como é o caso das autarquias. Mas é nas grandes empresas públicas que mais contratos suspeitos se fazem, sob a protecção do profissionalismo e a cumplicidade do labirinto burocrático de um Estado centralizado.

Percebe-se porque é que João Cravinho se converteu num dos principais arautos do combate à corrupção em Portugal. O tempo que passou no Ministério das Obras Públicas foi suficiente para ficar com uma ideia do que é a dimensão da ilicitude nos contratos entre o Estado e os privados. Cravinho mandou fechar a JAE por acreditar que aquele serviço era insusceptível de regeneração, mas a sua ousadia não bastaria nunca para evitar que a linha ténue e perigosa que separa o negócio transparente do favor e do nepotismo se rompesse em definitivo. A investigação do jornalista José António Cerejo que publicamos nesta edição tanto pode indiciar práticas generalizadas como um único foco isolado, mas serve para tornar claro que o pântano está ainda longe de ser drenado.

O caso de altos quadros da Estradas de Portugal com poder para decidir contratos em favor de empresas nas quais, directa ou indirectamente, têm interesse tem também o mérito de nos chamar a atenção para um fenómeno recente e potencialmente perigoso: o da proliferação dos estudos. Olhando o passado recente, constata-se que o investimento da administração pública em empresas de consultadoria é enorme e está a crescer: no Orçamento do Estado do ano em curso estavam previstos 190 milhões de euros em estudos; em 2006 foram efectivamente gastos 77 milhões de euros; só para justificar a opção pela Ota, a Naer terá gasto aproximadamente 40 milhões.

Além de deixar em aberto a questão de se saber porque é que muitas destas consultas não são feitas através dos recursos internos, o que esta onda põe em causa é a transparência com que são adjudicados e a qualidade intrínseca das suas conclusões. Um parecer recente do Tribunal de Contas tinha já alertado para o drama da primeira questão, ao dizer que a Estradas de Portugal tinha subscrito contratos de dois milhões de euros com consultoras sem qualquer concurso público. Depois, no que à segunda questão diz respeito, vale a pena recordar alguns dos erros trágicos das obras públicas, como o túnel do Metro de Lisboa ou as obras de modernização da Linha do Norte da CP, para se questionar a valia técnica de certos pareceres.

Sem uma maior vigilância e controlo por parte dos gestores públicos e os titulares dos cargos políticos na esfera de contacto entre o Estado e os privados jamais se acabará com negócios como o que faz hoje a manchete do PÚBLICO. Mas enquanto o Governo continuar a distribuir estudos como um maná, haverá sempre novas possibilidades de formar empresas com testas-de-ferro que hão-de ganhar os concursos decididos pelos seus manipuladores.

Teorias estáticas em Portugal

Em Portugal sucede que, infelizmente, a maioria dos políticos e outras classes gravitantes nos mesmos meios têm pontos de visão muito limitados.

Face a essa circunstância a única medida que conseguem imaginar é a medida limitativa de que ninguém seja melhor do que o existente e assim a mediocridade não será evidente.

A mediocridade só se torna evidente se à sua volta surgirem aspectos superiores, caso contrário se ela apenas estiver rodeada de iguais ou menores ela será sem dúvida a melhor.

A um passo de uma entrevista, José Morais afirma acerca do construtivismo no Brasil e igualmente em Portugal, o que a seguir se transcreve:



"(...) No Brasil há uma espécie de imperialismo de uma corrente que se chama construtivista e que tem pouco conhecimento científico. Na verdade, se funda em teorias que foram importantes numa época, mas que atualmente perderam a importância porque o trabalho experimental mostrou que na realidade não tem essa importância que se julgava. Eu acredito nos fatos, nos dados experimentais quando são bem construídos, e portanto, bem analisados. Eu desconfio das afirmações baseadas em impressões e intuição. Todas as nossas intuições devem passar por um exame experimental. A partir de uma hipótese, criamos uma situação que vai nos permitir dizer se a hipótese é boa ou não. A psicolingüística, atualmente se desenvolveu muito, justamente porque ela seguiu esse método científico. E os resultados disponíveis permitem fazer pensar que essa corrente do construtivismo que é baseada nas idéias do Piaget – que foi um grande psicólogo do desenvolvimento, mas trabalhou em uma outra época e as coisas não param, atualmente não tem base científica - aquilo que dizemos hoje, provavelmente, será dito diferente ou até melhor no futuro, ou quem sabe até desdito."

Portugal e Delinquentes Juvenis

Numa sociedade em que as famílias quase não têm tempo para a convivência, pelo menos aquela que seria muito conveniente a com os filhos, estão agora a tornar-se evidentes as consequências.

Temos que considerar que um jovem casal, que constitui a sua vida familiar e que tem a felicidade de encontrar emprego para os seus membros, tal significa que o seu dia a dia, especialmente nas zonas metropolitanas, iniciar-se-à bem cedo na manhã a deslocarem-se para os respectivos locais de trabalho, onde irão permanecer a maior parte do dia.

Ao final do dia, após a respectiva jornada no emprego ainda se apresenta pela frente a longa viagem de regresso que os trará de novo ao convívio no lar já no início da noite.

Dado que no dia seguinte a rotina repetir-se-à resta apenas aproveitar as poucas horas que sobram para algumas tarefas caseiras inadiáveis e o descanso preparatório para a próxima jornada.

Este panorama altera-se um pouco com o aparecimento dos filhos, aumentando-se a rotina com as entregas matinais nos infantários e similares e correspondente recolha vespertina.

Que tempo sobra nos dias úteis para o convívio e educação dos descendentes ?

Pouco ou nenhum, pois após a chegada a casa é hora da última higiene, jantar e dormir.

Será que o sábado, domingo, feriado conseguirão colmatar a falta dos dias úteis ?

Dificilmente e o resultado é que o filho fará honrosamente as seguintes licenciaturas inducacionais:

- a do infantário;

- a da pré-primária;

- a da primária;

- a do básico;

- a do secundário;

- a da universidade.

E digo fará, porque nada nos garante que consiga cumprir todo este panorama de instrução (inducação).

E aonde entra aqui a EDUCAÇÃO ?

A Educação como regras de convivência em sociedade não terá muitas oportunidades face ao panorama já descrito, daí que o jovem infante irá certamente desviar-se dessas regras que até não teve oportunidade de as receber e assimilar, irá certamente adoptar outras regras oportunísticas com as quais terá contacto.

Resultado: o delinquente de palmo e meio, exercendo essa actividade impunemente e com poucas hipóteses de recuperação porque o próprio sistema está esgotado em meios para absorver o elevado número de transgressores, e também esgotado na procura de soluções mais efectivas consentaneas com a evolução que a própria sociedade teve.

Os pais esses, infelizmente, já perderam a batalha há muito e já não são solução. E perderam uma batalha na necessidade de vencer uma outra guerra, diária, que lhes permite ter meios de subsistência para si e na melhor das hipóteses para os seus.

A agora "nova" ideia de colocar em casa, com uma pulseira electrónica, o jovem delinquente teria alguma hipótese ténue de funcionar se, e só se, os pais estivessem durante o dia em casa.

Ora, durante o dia, eles estão no emprego!

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Foi a peste que alterou o clima ?

Num artigo acabado de ser publicado na revista NEWSCIENTIST é exposta uma teoria que demonstra que as diferentes eras de gelo, períodos de forte arrefecimento climático, que atravessaram os milénios mais próximos da civilização humana, poderão ter sido causados por fortes movimentos demográficos, ocasionados por pestes, que levando a uma forte redução da actividade agrícola, conduzem a alterações do clima.

Caso os factos o provem, teriamos que a peste negra ao reduzir drásticamente a actividade agrícola conduziria a uma alteração climática importante, a pequena idade do gelo, ao invés da actual teoria que atribui aos efeitos da alteração do clima o aparecimento da peste.

Tratar-se-ia de uma inversão total dos acontecimentos.

Mais desenvolvimento em: www.newscientist.com



A Chilling Tale

Did ancient plagues and pestilence that killed millions of people also alter the planet's climate ?

Slight dips in the level of carbon dioxide in the atmosphere over the past 2000 years are usually put down to natural causes, such as lower emissions from vulcanoes. But when human populations were decimated by disease, large areas of farmland would have been abandoned to nature. As florests reclaimed the land, huge quantities of CO2 would have been sucked out of the atmosphere.

Ruddiman has shown that the timing of one of the larger dips in CO2 matches a series of plagues that peaked around AD 540. Another coincides with the "black death" of the 14th century. In both cases Europe's population may have fallen by a third or more. Worse still was the effect of European settlers bringing smallpox and other diseases to the Americas, causing populations to fall by as much as 90 per cent. This coincides with a relative cool period known as the "little ice age".

Historians have suggested that the little ice age caused famine, disease and depopulation - but was disease the trigger for the little ice age, rather than the upshot?


Barco a energia solar (projecto algarvio)

Pelo seu interesse na aplicação de energias alternativas às energias fósseis, transcreve-se a notícia publicada pelo jornal "O Algarve":




02
Set 08
Barco ecológico algarvio passa nos testes de navegabilidade

Os primeiros testes de navegabilidade da primeira embarcação do país movida a energia solar foram realizadas esta semana na Ria Formosa e as garantias de segurança estão garantidas, disse hoje fonte oficial.

O barco ecológico que não precisa de combustível foi na segunda-feira à tarde alvo de testes de navegabilidade durante duas horas na Ria Formosa, junto a Faro, e segundo informações pela Autoridade Marítima do Sul "oferece toda a segurança equivalente a uma outra qualquer embarcação".

"A não emissão de gases poluentes torna o passeio da embarcação mais amigo do ambiente e menos ruidoso", revelou Reis Ágoas, comandante da Capitania de Faro, reconhecendo as vantagens daquela embarcação que navega silenciosamente e não polui o meio ambiente.

O «Alvor Flor do Sol», foi assim baptizado, já foi levado para o estaleiro de Portimão para ser registado e seguirá depois para Alvor, onde servirá para fazer passeios marítimos na costa portuguesa.

Os proprietários do barco, um casal luso-irlandês que detém a empresa «Alvor Boat Trips», pretendem com esta embarcação realizar passeios turísticos a oito nós de velocidade (cerca de 15 quilómetros/hora) entre Alvor, Portimão e Lagos, passando pelas praias algarvias do Vau, Três Irmãos, Rocha, Meia Praia e D. Ana.

Com 11 metros de comprimento e com uma lotação de 14 pessoas, a embarcação amiga do ambiente foi construída desde o natal passado num estaleiro naval de Faro, com sede no lugar de Mar e Guerra, no meio de estufas e pomares de citrinos e o custo da obra ronda os 140 mil euros.

A divulgação do barco ecológico vai ser feita nos hotéis algarvios do grupo Pestana e na Internet e há contactos com turistas irlandeses interessados em experimentar esta aventura, conta o futuro dono do protótipo, Luís Lourenço.

O autor do projecto, Jorge Severino, "pai" das cerca de 300 embarcações da marca «Tridente» que flutuam na doca de Faro e na Escola Naval da Praia de Faro, acredita que o único futuro para as embarcações marítimo-turísticas são o motor eléctrico-solar.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Cultura Portuguesa

Por vários motivos os textos de Eduardo Lourenço merecem uma leitura sempre atenta.

Tal não podia falhar no texto publicado no PÚBLICO no passado dia 31 de Agosto de 2008, que a seguir se transcreve:



Adeus a Luciana

Eduardo Lourenço - 20080831

É grato devolver à grande lusitanista a dádiva da sua companhia e da sua erudição sem falhaHá professores que são ao mesmo tempo autênticos actores. Luciana Stegagno Picchio, musa cultural dos dois mundos que dividem a nossa língua, pertencia a essa raça. As suas intervenções nos múltiplos colóquios dos dois lados do Atlântico eram sempre um espectáculo de saber, de graça e de elegância. Partilhava esse talento com a amiga Cleonice Berardinelli, sapiente como ela, menos exuberante. À professora Luciana deve o Brasil uma já clássica História da Literatura, em tudo digna da grande filóloga e crítica literária que era. Quanto a Portugal, deve-lhe uma História do nosso teatro a todos os títulos comparável aos seus estudos dedicados ao Brasil.

Para muitos de nós, Luciana impôs-se-nos como uma das primeiras estudiosas estrangeiras de Pessoa, num momento em que o fenómeno heteronímico era ainda objecto de polémica, discussão e fascínio. Distanciada das nossas querelas domésticas, a grande filóloga italiana pôde abordar a questão com mais frieza e humor. É um dos estudos mais pertinentes que o Pessoa de há meio século mereceu. Mais tarde, um pequeno estudo sobre o mesmo Pessoa, de parceria com Roman Jakobson, deu-lhe uma notoriedade internacional. Antonio Tabucchi, seu estudante, compartilhou com ela a paixão por Pessoa, a quem dedicou, em italiano, uma antologia até hoje não superada. E com essa paixão uma intimidade cultural com as coisas portuguesas que marcará para sempre a sua original obra de ficcionista.

Grande conhecedora da literatura italiana, naturalmente, algumas vezes Luciana lamentou não ter dedicado aos seus autores famosos, de Dante a Leopardi ou de Pasolini a Primo Levi a paciente atenção que consagrou aos Gil Vicente, aos Camões ou aos Murilo Mendes e à língua portuguesa que ilustraram. O interesse pelas culturas alheias é sempre uma forma de exílio. Penso que o seu foi exaltante. O Brasil, mais ainda do que Portugal, foi, em sentido literal, um novo mundo para ela. Um novo mundo que a adoptou como criadora sua, e de algum modo a integrou na sua fabulosa cultura de matriz europeia e emigrante. Isso a compensou e consolou de não ter dado à pátria de Dante, que seu pai lhe ensinara a recitar na adolescência, aquele fervor que durante anos, num magistério frutuoso, iria reservar para uma outra língua. A nossa, como a sua, filha do Lácio.

Em tempos era corrente queixarmo-nos da imaginária falta de atenção dos outros pela realidade e excelência das nossas criações. O que devia espantar-nos é a extraordinária atenção que a nossa cultura mereceu a tanto estrangeiro que tantas vezes nos descobriu, estudou e nos revelou a nós mesmos. Luciana Stegagno Picchio pertence a esses peregrinos que, com saber e alegria, se perderam nos labirintos culturais de um país europeu que há um milénio partilha com culturas tão ricas e brilhantes como a da pátria de Luciana os mesmos sonhos. Na hora de os abandonar a um outro destino, é grato devolver a Luciana a companhia, a presença da sua erudição sem falha, nunca austera, secretamente divertida, com que ao longo dos anos percorreu e iluminou alguns dos mais obscuros rincões da nossa Cultura.

Vilamoura, 29 de Agosto de 2008

sábado, 30 de agosto de 2008

A Amazónia e as Civilizações Perdidas

Regressa o tema das cidades perdidas da Amazónia que durante muito tempo estiveram envoltas em lendas.

Com as técnicas mais elaboradas dos dias de hoje e a ajuda da última tecnologia, especialmente as imagens satélite que permitem a cobertura de grandes áreas e a percepção do que o terreno numa área apreciável poderá ter tido sobre o mesmo.

Mais uma vez se destroem certos "mitos" da super civilização europeia.

Mais pormenores no texto a seguir, do Scientific American:



Ancient Amazon Actually Highly Urbanized
It's not Rio de Janeiro or even ancient Athens but anthropologists uncover evidence of urban settlements
By David Biello

In 1925 British adventurer Colonel Percy Fawcett disappeared into the wilds of the Amazon, never to be heard from again after going there in search of a lost city he called Z. But decades later, a city of sorts—actually a series of settlements connected by roads—has been found at the headwaters of the Xingu River where Fawcett went missing in an area previously buried beneath the dense foliage in what is now Xingu National Park.


View slideshow here.

Anthropologist Michael Heckenberger of the University of Florida teamed with the local Kuikuro people in the Brazilian state of Mato Grosso to uncover 28 towns, villages and hamlets that may have supported as many as 50,000 people within roughly 7,700 square miles (20,000 square kilometers) of forest—an area slightly smaller than New Jersey. The larger towns boasted defensive ditches 10 feet (three meters) deep and 33 feet (10 meters) wide backed by a wooden palisade as well as large plazas, some reaching 490 feet (150 meters) across.

The remains of houses and ceramic cooking utensils show that humans occupied these cities for around 1,000 years, from roughly 1,500 years to as recently as 400 years ago. Satellite pictures reveal that during that time, the inhabitants carved roads through the jungle; all plaza villages had a major road that ran northeast to southwest along the summer solstice axis and linked to other settlements as much as three miles (five kilometers) away. There were bridges on some of the roads and others had canoe canals running alongside them.

The remains of the settlements also hint at surrounding large fields of manioc, or cassava (a starchy root that is still a staple part of the Brazilian diet) as well as the earthen dams and artificial ponds of fish farming, still practiced by people who may be the present-day descendants of the Kuikuro. Although such "garden cities," as Heckenberger describes them in Science, do not match the dense urbanism of contemporary Brazilian metropolises such as Rio de Janeiro or São Paulo, they do blend seamlessly into the jungle and maximize use of limited natural resources. They also suggest that the rainforest bears the marks of intense human habitation, rather than being pristine.

But, ultimately, these cities died; most likely a victim of the diseases brought by European explorers in the early 16th century, according to Heckenberger. Two thirds or more of the original human inhabitants of Brazil are believed to have been killed by such disease, and the forest quickly swallowed the cities they left behind.

As a result, later European explorers had no idea that a civilization had once flourished in the Amazon, despite clues in kilometer-long earthworks and unusually fertile so-called terra preta (dark) soil. The 500 or so Kuikuro may have known of their ancestors' exploits—and they may have drawn the attention of Fawcett and other explorers—but only now can the "lost cities" of the Amazon claim to have been found.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Eis o que assistimos no dia a dia

Pela actualidade do texto, até para casos bem recentes, transcreve-se do blogue DE RERUM NATURA o seguinte texto de Desidério Murcho.



Segunda-feira, 25 de Agosto de 2008

Mentira Política

O excelente post da Palmira põe a nu o estado de mentira política em que vivemos, e é este aspecto que vejo nitidamente no caso do aquecimento global e de muitos outros.

Num texto excelente que infelizmente não foi incluído na recente antologia que preparei para a Antígona, Orwell analisa cuidadosamente as razões que tem para pensar que a Terra é redonda. E descobre que não tem assim tantas.

O que está em causa é o problema da divisão social do conhecimento. Ao longo da história, as pessoas, na sua maior parte, nunca souberam praticamente coisa alguma excepto o que é estritamente necessário para a sua vida quotidiana e para alimentar a sua actividade favorita: a mexeriquice. Mas hoje mesmo quem procura conhecer as coisas não pode saber realmente mais do que uma pequeníssima parte; no resto, tem de confiar em especialistas. Isto é maravilhoso, porque exibe a nossa profunda dependência mútua: o conhecimento está socialmente distribuído e eu preciso dos conhecimentos que outros têm, e eles dos meus.

Mas é também politicamente perigoso, pois dá origem a perversões terríveis. Uma dessas perversões é a manipulação da verdade. A publicidade, quase na sua totalidade, certos tipos de marketing, a propaganda e os grupos de pressão mais não fazem do que poluir a cabeça das pessoas com meias verdades, vaguezas, frivolidades e completas mentiras. Neste clima político, tudo é mentira porque tudo é feito em nome de “uma causa”. E isso é assustador. Eu não sei o suficiente sobre clima nem sobre as ciências relevantes para poder avaliar o que se passa no caso do pretenso aquecimento global; tenho de confiar nos especialistas. Mas quando os especialistas estão profundamente politizados, quando pertencem a uma ou a outra “causa”, não posso confiar em qualquer deles.

E o meu caso não é o mais grave, porque tenho uma formação intelectual que me permite distinguir razoavelmente o disparate mistificador do que é plausivelmente verdadeiro. Mas o que dizer da generalidade da população, que não tem uma formação intelectual sofisticada? Que tipo de opinião pode um taxista que tem apenas o 12.º ano sobre o aquecimento global? Leia-se este artigo, por exemplo; eu compreendo a sua maior parte e sou capaz de ver se defende razoavelmente as ideias que defende ou se faz mera manipulação de palavras e dados a fingir-se ciência; mas poderá a maior parte da população fazer este tipo de juízo? Infelizmente, não. E isto é politicamente muito grave, pois é o que permite o género de manipulação que ocorre com a propaganda política, comercial e ideológica.

Precisamos de inverter a irracionalidade da sociedade contemporânea, que é feita de mentiras inventadas para vender produtos: vender o Dalai Lama, vender o conservadorismo religioso, vender banha da cobra pretensamente medicinal, vender o pânico ecológico para dar poder político a algumas pessoas. Mas não sei como é possível inverter este caminho político que começámos a trilhar e que foi previsto por Orwell. Tudo o que posso dizer é que é importante valorizar a objectividade, o estudo cuidadoso das coisas, a honestidade intelectual e humana, a procura imparcial da verdade das coisas, a atenção cuidadosa à realidade — tudo isto por oposição à ideia de que tudo é subjectivo ou intersubjectivo, que a verdade é relativa aos nossos interesses e desejos, que a realidade e a verdade se devem vergar aos nossos interesses políticos, económicos, religiosos, pessoais ou ideológicos.

Não sei como se pode cultivar o amor à verdade e ao estudo imparcial das coisas. Mas sei que ficaremos todos muito pior, e talvez catastroficamente pior, se não o fizermos.

Posted by Desidério Murcho at 15:11

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Primórdios Portugueses da Telescopia

Não foram só os outros países a terem ideias e a tentar desenvolver a telescopia que entre outras coisas conduziu à Televisão.

Nos primórdios dessa investigação em Portugal interessou-se sobre o assunto Adriano de Paiva de Faria Leite Brandão (1847-1907), que após a invenção do Telefone (Graham Bell) teve sempre a certeza de que seria possível transformar as imagens e cores em sinais eléctricos de forma similar ao que o telefone efectuava ao transmitir sons transformados em sinais eléctricos.

Foi agora publicado no blog De Rerum Natura um excelente texto da autoria de António José Leonardo acerca desta figura e sob o título: A invenção da telescopia por Adriano Paiva.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Cristóvão Colon = = Cristobal Colón I

Neste assunto referente a Cristóvão Colón ou Cristobal Colón, cada vez existem mais elementos que contrariam a tese romantica da mafia italiana.

Pode ser que não fosse um fidalgo português ou galego mas, a forma como se movimentava na corte de D. João II em Portugal e na dos Reis Católicos em Castela, impunha imediatamente a sua condição de nobre nada consentânea com a pseudo origem humilde genovesa de filho de um tecelão.

Transcreve-se a notícia do jornal La Voz de Galicia.



UNA POLÉMICA QUE SE REAVIVA

¿Era Colón gallego? Arcade defiende que sí

Soutomaior, a través de la recién inaugurada tienda La despensa de Colón, retoma la tesis del historiador Alfonso Philippot por la cual el descubridor de América y Pedro Madruga son la misma persona.

Autor:
Redacción digital Olalla Sánchez


Fecha de publicación:

13/8/2008
Hora:
Actualizada a las 19:00 h


A pesar de que Cristóbal Colón escribió en referencia a Génova «de ella salí y en ella nací» lo cierto es que el descubridor de América casi no hablaba italiano y las referencias sobre su supuesto origen genovés son escasas. Este vacío, juntado a la polémica perenne que acompaña a su figura, han llevado a decenas de personalidades de todo el mundo a cuestionar, a lo largo de los últimos 500 años, la versión que defiende su origen transalpino y a acercar su nacionalidad a la puerta de su casa (en ocasiones, con demasiadas incongruencias y falsedades documentales).

En esta polémica sin fronteras Galicia también tomó posiciones y ya desde que a finales del siglo XIX el pontevedrés Celso García de la Riega pronunciase en Madrid una conferencia en la que daba a conocer unos documentos de los siglos XV y XVI que citaban a varios miembros de una familia de pontevedreses que se apellidaban Colón, diversas personalidades han acreditado su origen galaico.

Como hechos innegables destacan el hecho de que el Colón que se presentó ante los Reyes Católicos era un personaje de habla y maneras portuguesas, muy parecidas a las gallegas, y la elevada participación de la comunidad en el descubrimiento, tanto en embarcaciones, como La gallega, como en tripulantes.

Tras más de un siglo de discusiones y rivalidades, Alfonso Philippot, un vigués de ascendencia italiana y capitán de la Marina Civil, acentuó más el debate al editar el llamativo y voluminoso texto La identidad de Cristobal Colón. En él, y aparte de insertar numerosa documentación sobre el tema, llega a la sorprendente conclusión de que Cristobal Colón y Pedro Álvarez de Soutomaior, más conocido como Pedro Madruga, son la misma persona.

Philippot parte del convencimiento de que el descubridor era de una familia noble, por lo que a través de la observación de los árboles genealógicos de la familia Sotomayor y Colón (la gallega, obviamente) llega a tal conclusión. Como nota a pie de página, señala que el marino, en su larga travesía, parte del puerto de Palos, donde es señor el conde Cifuentes, Juan de Silva y Tenorio, primo de Pedro Madruga, y que Colón, al poner cinco anclas en su escudo, aseguró que él «no era el primer almirante de su familia» (cada escudo significa un almirante). La única familia gallega que contaba con cinco marinos de tal graduación en su linaje era la Sotomayor.

Ahora, retomando este tesis, y mientras la polémica se reaviva, en Arcade se acaba de inaugurar la tienda La despensa de Colón, dedicada principalmente a alimentación, y en donde para apoyar la tesis de Philippot se facilita información sobre el supuesto origen gallego del descubridor. Además, se venden objetos tematizados e, incluso, dispone de un punto de recogida de firmas par solicitar el análisis del ADN Colón-Soutomaior y para que la Real Academia de la Historia toma en consideración esta hipótesis.

Para defender su negocio, sus promotores resaltan un hecho innegable: «por primera vez en las visitas al castillo de Soutomarior los guías empiezan a hacer referencia a la tesis que defiende el origen gallego del descubridor».

PELA PRIMEIRA VEZ (versão espanhola)


Como se pode apreciar pela imagem a política tem uma vantagem enorme sobre muitas coisas da sociedade.

É a única que consegue ser Universal em todos os aspectos.

Embora a imagem se relacione com um país, neste caso a Espanha, podiamos considerar real em qualquer outro inclusivé Portugal.









quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O Mistério da Ilha do Corvo

Tem vindo à estampa em diversos números do Público, nas suas cartas ao director, diversa correspondência onde duas opiniões sobre o tema se têem enfrentado.

A civilização ocidental sempre teve uma certa dificuldade em admitir que, numa determinada época temporal, possam ter existido outras civilizações exteriores que estivessem ao mesmo nível de desenvolvimento e ainda menos que alguma estivesse mais avançada.

Ainda nos dias de hoje, no campo científico, quando alguém obtêm um determinado nível sendo exterior ao meio, logo aparece alguém, inglês ou americano, que exactamente no mesmo dia ou na véspera também tinha chegado a essa mesma situação.

É só vermos as descobertas cientificas recentes ex-aqueo de ocidentais e exteriores.

O caso da ilha do Corvo nos Açores segue a mesma linha.



"A estátua do Corvo - verdade e lenda"

Encerrando a questão: crismar Damião de Góis de ingénuo receptor de fantasias é ousado e perigoso; estranha "lenda de marinheiros" esta, a que exponho na obra O Cavaleiro da Ilha do Corvo, tão bem ornada de detalhes, nomes e datas.

Em 1529, Pedro da Fonseca, o donatário da ilha, foi ao Corvo e recolheu cópia em cera da legenda em caracteres não latinos. Será também o arquitecto Duarte Darmas uma ficção?

Opinião por opinião, leiam-se os argumentos arrolados pelo erudito açoriano António Ferreira Serpa, em favor da existência da Estátua corvina. O que resta do monumento, entretanto desfeito na sua desmontagem, são "a cabeça do cavaleiro, o braço direito do mesmo, que apontava para ocidente, uma perna, a cabeça do cavalo, uma mão que estava levantada e um pedaço de uma perna". Exigiria este espólio uma nau de grande porte?

E se Góis usa a primeira pessoa para asseverar "onde se puseram (os restos da estátua) eu não o pude saber", não será lícito entendê-lo como testemunho pessoal? Porque não se anotaram estes eventos na crónica dedicada a D. Manuel? Porque se trata de uma "cousa substancial" ocorrida no decurso do reinado de D. Afonso V, cujo escopo temporal o cronista integrou na Crónica do Príncipe Perfeito.

As nove moedas encontradas no Corvo não estão sozinhas: e o amuleto recolhido em S. Miguel, datado pela Sociedade Epigráfica Americana como oriundas de entre os séculos VII e IX da era cristã? E as inequívocas referências à função das "estátuas-marco" da historiografia árabe desde o século X? E o mapa dos Pizzigani com a explícita menção "estas são as estátuas diante das Antilhas..."? Conspiração de imaginativos? Enalteço a coragem do nosso grande humanista na salvaguarda das "cousas antigas", em "alumiar o descuido e esquecimento em que a antiguidade dos tempos as pôs".

Joaquim Fernandes

Porto

Os Símbolos Nacionais

Porque os casos com os simbolos nacionais parece que continuam achei muito interessante o texto de opinião publicado no Público e que abaixo se transcreve.

Geralmente considera-se como os símbolos principais de uma Pátria, a sua Bandeira e o seu Hino.

Creio que não há nacional nenhum que mesmo em longínquas paragens ao aperceber-se da existência local desses simbolos não sinta uma certa emoção e os respeite.

Ora aqui é que nasce o problema!

O português pós-25 de Abril não foi educado nos símbolos nacionais porque a cartilha vigente no início do último quartel vivido considerava que o ensino da Bandeira e do Hino Nacional era uma demonstração do regime anterior e nada própria numa ideia política de certa cor.

Resultado:

Já não se sabia de que lado ficavam as cores nacionais (verde e vermelho) e ainda hoje se repetem os casos de içar a bandeira de pernas para o ar com os castelos e as quinas invertidas.

Quanto ao hino nacional, a música era reconhecida vagamente e a letra nem pensar.
E então, quanto a ouvi-lo respeitosamente e de pé, era fatal!

Vergonha das vergonhas, foi preciso vir de um país irmão, ex-colónia e criado à nossa imagem, um Homem que, por força da sua actividade profissional, conseguir fazer aquilo que em Portugal nenhum dos seus filhos era capaz de fazer, muito menos o Ministério que era responsável pelo facto.

Mas hoje já há quem na nova juventude perceba que um Ministério da Educação que não é capaz de ensinar aos jovens os símbolos nacionais pátrios também não deve ser grande coisa na língua materna, o PORTUGUÊS, nem nas restantes ciências e artes.




A todos os chefes militares, a propósito da Bandeira

João José Brandão Ferreira - 20080814

Sejam quais forem as razões pelas quais hasteamos bandeira, essas razões cessam quando está mau tempo?

Na senda da minha chamada de atenção sobre "pormenores", a qual já dura há mais de 30 anos, venho trazer ao conhecimento dos comandos das FA mais um caso que me chamou a atenção, no usufruto de um dom especial da Providência Divina, que me faz reparar em coisas que, pelos vistos, mais ninguém repara.

Assim, no salutar intuito de castigar o físico, certamente para equilibrar o facto de ser relapso a jejuns e outras penitências, que as grandes religiões sabiamente prescrevem, dei outro dia, ao entrar pela porta de armas do Comando Operacional da Força Aérea, com o mastro nu da Bandeira Nacional. Como a hora a que tal se passou incorria no espaço temporal originado pelo movimento de rotação da Terra, conhecido na gíria meteorológica por "entre o nascer e o pôr-do-sol, estranhei.

Feitas as inquirições, apurei da existência de uma determinação que inibe a exibição da Bandeira Nacional quando a fúria dos elementos se prevê atingirem determinada violência. A razão, apurou-se também, reside na tentativa de preservar por mais tempo aquele símbolo das Quinas com origem em Ourique. Não se pode dizer que não seja uma preocupação estimável.

Uns dias depois a cena repetiu-se. Tal facto, quero confessar, desencadeou nas moléculas afectas à parte pensante do meu ser, um movimento algo desordenado e anárquico. Mais tarde seguido, por outro, de cariz mais ordenado.

Lembrei-me então, que a Bandeira Nacional é hasteada nos edifícios públicos sitos no território definido como português, o que inclui embaixadas e consulados em países estrangeiros. Os quartéis onde se instalam forças militares portuguesas destacadas, incluindo navios de guerra e aeronaves, também evidenciam as cores nacionais.Tal facto quer dizer que ali é a nossa casa, que ali mandamos nós; representa ainda uma comunidade de afectos, um símbolo de unidade e de individualidade.

O ponto é este: sejam quais forem as razões pelas quais hasteamos bandeira - e fazemo-lo segundo o estatuído em normas e regulamentos, não o fazemos de qualquer maneira -, essas razões cessam quando está mau tempo?Não me parece que cessem. E creio que a maioria das entidades estaduais também assim pensa, a começar nas autarquias, que devem ter destas coisas, uma ideia assaz mais nubelosa do que os militares.

Quero dizer com isto que a tecnocracia não se deve impôr aos princípios e que a nossa esforçada intendência terá que programar verbas para garantir uma gestão de stocks eficaz, pela não menos operosa logística, quiçá encomendar que tais artefactos sejam feitos com materiais mais resistentes. Basta seguir o mesmo raciocínio que se tem para as botas, os parafusos e demais parafernália que faz falta a uma tropa moderna ou antiga. Embora, salvo melhor opinião, me pareça que a Bandeira de todos nós, não deva estar ao mesmo nível do atrás apontado.

Isto para já não chegar ao ponto de desculpar o sargento de dia que não passa ronda porque troveja, ou passarmos a ter uma aviação apenas de bom tempo.Cá estão os "pormenores" a ligarem-se ao todo. Estando as moléculas em movimento, agora excitadas por electrões e outras partículas menos visíveis, que a Física nos descreve, alongou-se a inquirição, até chegarmos à conclusão que: o Exército hasteia bandeira aos domingos e feriados nacionais; a Armada, porém, fá-lo diariamente, e nos navios com cerimonial próprio; na Força Aérea, depende das unidades...

Parecendo-me a mim desejável e harmonioso, que se uniformizem procedimentos entre os Ramos - salvo se alguma tradição ponderosa justifique a existência de alguma peculiaridade específica - o que só se poderá determinar a nível do Concelho de Chefes, aqui deixo o alvitre.

Quanto à FA a dessintonia resulta, aparentemente, do seguinte: o Regulamento Geral de Serviço Interno, herdado do Exército aquando do grito do Ipiranga aeronáutico, de 1 de Julho de 1952, deixou de se aplicar, salvo erro, por alturas de 1975. Até hoje não foi substituído apesar de algumas tentativas feitas nesse sentido. E como a natureza tem horror ao vácuo e a tropa então nem se fala, os comandantes/directores de diferentes unidades/órgãos/comandos têm produzido "directivas" internas sobre os mais diversos assuntos.

Não quero terminar sem deixar claro que nunca estive, não estou, e não penso vir a estar, ligado a qualquer negócio relacionado com a fabricação ou comercialização de bandeiras e seus acessórios.

Eis pois o que as minhas moléculas pensantes discerniram sobre tão subido assunto e vêm - agora já mais acalmadas - expôr ao superior julgamento de V. Exas.

Tenente-coronel piloto aviador (Ref)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Portugal e o Dia do Cheque

Portugal já tinha uma instituição que foi transitando da Monarquia para a República. A única diferença que as últimas Repúblicas introduziram no sistema foi o de instituicionalizar um dia no ano para o acto de entrega, o que não existia antes.

Assim ao dia 10 de Junho existe uma distribuição de medalhas, condecorações, aonde o País dá o prémio que alguns acham que certos portugueses têem direito.

Claro que a ideia merecia ser desenvolvida por um Ministério que tem tido uma grande preocupação em nada contribuir para aquilo que ele próprio existe. Daí a passar a para o Dia do Cheque foi um passo.

Artigo de opinião no Público de 2008.08.06:




Uma lógica mercantil só agrava a falência do sistema de ensino

Nuno Pacheco - 20080806

A ideia, importada, de pagar prémios de 500 euros aos melhores alunos do secundário só acentua a falência deste sistema de ensino. Não o salva nem o melhora, só agrava a sua agoniaAs escolas devem pagar aos alunos que tirem boas notas? Esta pergunta foi, há dias, título de um artigo do PÚBLICO (edição de domingo, 3 de Agosto) e suscitou, no próprio texto, várias reservas e algumas reacções de indignação. Curiosamente, num país em que tanto e sobre tanta coisa se discute, ficou-se por aí. A iniciativa, anunciada pelo Ministério da Educação, de instituir um prémio anual de 500 euros para o aluno que em cada escola tenha concluído o secundário com melhor aproveitamento (ou com melhores notas, o que nem sempre é a mesma coisa), afundou-se no silêncio.

Mas devia ter suscitado uma forte discussão. Porque a simples ideia de tornar a escola permeável a tais prémios é, no mínimo, inquietante. Têm razão os que, perante tal notícia, falaram em "deturpação de valores" ou em "truque ridículo". Porque, a pretexto de valorizar (é o ministério que o diz) "o mérito, a dedicação, o esforço no trabalho e desempenho escolares" dos alunos, o que se pretende é, na verdade, reduzir as margens de insucesso à custa de dinheiro que, em lugar de ser investido nas escolas e para melhorar a qualidade do seu ensino, é entregue num envelope a cada aluno como se fosse um brinde de um concurso televisivo. Ora mal vai a escola que não consegue fazer da aprendizagem um valor em si, prémio bastante para quem aprende mais e melhor.

O que fará o aluno com o dinheiro? Esquece de imediato a escola e vai comprar uma consola de jogos, que certamente o diverte mais. Pior: passa a trabalhar com um único fito: o de receber o cheque, não o de se preparar para a vida. Porque a vida que a escola já lhe ensina fica reduzida a isto: o conhecimento serve apenas para ganhar dinheiro.

Claro que o ministério não institui só o cheque, também institui um diploma. Mas o aluno há-de preferir o primeiro ao segundo, porque tal "moral" a isso o leva. Diplomas há muitos, cheque há só um. Ou dois, no máximo, em cada escola (o diploma prevê que os cursos científico-humanísticos e os cursos profissionais/tecnológicos tenham, em cada ano, um cheque de 500 euros para cada um, para a melhor classificação final).

No Brasil, em 2007, este tema foi muito discutido. Uma faculdade paulista tinha má classificação nos rankings. Solução? Dar dinheiro aos alunos. Uns acharam bem, outros ficaram aterrados. Uma aluna ouvida pelo jornal Folha de São Paulo disse ter ficado estarrecida ao abrir o envelope. Sentia-se como se comprassem o seu conhecimento. Para ela, faria muito mais sentido que a escola investisse na sua própria infra-estrutura. Mas o responsável pela faculdade defendeu-se. Não queria ter problemas e queria, acima de tudo, resultados. Assim, se não conseguia convencer os alunos a participar nos exames nacionais (o Enade), pelo menos comprava a sua "adesão" a tal sacrifício.

E por cá? O meio milhão de euros que o ministério vai investir em cheques, que serão gastos em tudo menos em educação, há-de evaporar-se rapidamente. A escola continuará mal, porque é essa a sua triste sina. E ninguém tirará proveito de mais esta desastrada medida disfarçada de investimento. Se é preciso melhorar o desempenho, torne-se o ensino compensador. Distribuam-se diplomas, sim, mas faça-se com que os alunos sintam que eles são mais do que um papel lustroso. Instituam-se, se for preciso, distinções ou quadros de honra nas escolas. Mas não se confunda tal prática com a venda a retalho do conhecimento. A ministra quer que o dia 12 de Setembro seja, já este ano, o Dia do Diploma. Mas o papel que tristemente assinou fará dele o Dia do Cheque.

China e abertura dos Jogos Olímpicos

Conforme se esperava a questão dos Jogos Olímpicos na Chna nunca seria uma questão pacífica até por causa das políticas e linhas de força desse país.

Mas é sempre bom tomar outros pontos de vista, pelo que se transcreve o artigo de opinião do Público de 2008.08.06.




O triunfo da vontade da China


Nina L. Khrucheva - 20080806

A escolha de Albert Speer Jr. pelos dirigentes chineses não pode deixar de evocar os totalitarismos do século XXQuando tiver lugar a cerimónia de abertura dos Jogos Olímicos de Pequim, os espectadores vão ser presenteados com um espectáculo meticulosamente coreografado e banhado no mais puro kitsch nacionalista.

É claro que a última coisa que a China deseja para os seus Jogos Olímpicos é vê-los associados a imagens que recordem as tropas de choque hitlerianas marchando a passo de ganso. Não esqueçamos que o nacionalismo oficial chinês proclama que o "progresso pacífico" do país evolui num idílio de "desenvolvimento harmonioso". Mas a verdade é que, tanto do ponto de vista estético como político, o paralelo não tem nada de rebuscado.

Na realidade, ao escolher Albert Speer Jr. - o filho do arquitecto favorito de Hitler e designer chefe dos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936 - para conceber o plano geral dos Jogos de Pequim, é o próprio Governo chinês que torna impossível esquecer a radical politização da estética que foi uma marca dos totalitarismos do século XX. Da mesma maneira que fizeram esses regimes, fascistas ou comunistas, também os líderes chineses tentaram transformar o espaço público e os eventos desportivos numa prova visível das suas competências e do seu direito a governar.

A encomenda que foi feita a Speer Jr. foi a de conceber o plano geral para o acesso ao complexo olímpico de Pequim. O seu conceito central consistiu na construção de uma imponente avenida que liga a Cidade Proibida ao Estádio Nacional, onde vai ter lugar a cerimónia de abertura. O plano do seu pai para "Germânia" - o nome escolhido por Hitler para a Berlim que planeava construir depois da Segunda Guerra Mundial - também se organizava em torno de um eixo central, igualmente poderoso.

Os dirigentes chineses vêem os Jogos Olímpicos como um palco para demonstrar ao mundo a extraordinária vitalidade do país que construíram nas últimas três décadas. E essa demonstração serve um objectivo interno ainda mais importante: legitimar a futura permanência do actual regime aos olhos dos chineses comuns. Dado este imperativo, uma linguagem arquitectónica que se caracteriza pela grandiloquência e pelo gigantismo parece quase inevitável.

É por tudo isto que não é uma surpresa que os Jogos de Pequim se pareçam com os orgulhosos Jogos que mereceram tanta atenção do Führer e seduziram as massas alemãs em 1936. Tal como os Jogos de Pequim, as olimpíadas de Berlim foram concebidas como um baile de debutantes, uma grande estreia. A máquina de propaganda nazi de Josef Goebbels foi utilizada a fundo. As imagens de atletas - utilizadas de uma forma brilhante no aclamado documentário de Leni Riefenstahl, Olímpia - pareciam criar um laço entre os nazis e os antigos gregos e confirmar assim o mito nazi segundo o qual os alemães e a civilização alemã eram os verdadeiros herdeiros da cultura "ariana" da Antiguidade clássica.

Enquanto desenhava os planos para os Jogos de Pequim, Speer Jr., um reputado arquitecto e urbanista, também pensou, tal como o seu pai, criar uma metrópole futurista global. Mas é claro que a linguagem que usou para vender a sua ideia aos chineses foi muito diferente da que o seu pai usou para apresentar os seus planos a Hitler. Em vez de sublinhar a magnificência dos seus projectos, o jovem Speer preferiu insistir no seu carácter ecológico. A ideia era transportar a cidade de Pequim, com a sua história velha de 2000 anos, para a hipermodernidade - enquanto a Berlim que o seu pai tinha planeado em 1936 era "simplesmente megalómana".

É evidente que os filhos não devem ser julgados pelos pecados dos pais. Mas, neste caso, quando o filho usa elementos essenciais que constituíam os princípios arquitectónicos do seu pai e serve um regime que tenta usar os Jogos para as mesmas razões que animaram Hitler, não estará ele conscientemente a reflectir esses pecados?

Os regimes totalitários - os nazis, os soviéticos em 1980 e agora os chineses - querem ser anfitriões dos Jogos Olímpicos para mostrar ao mundo um sinal da sua superioridade. A China acredita que encontrou um modelo próprio para desenvolver e modernizar o país e os seus dirigentes olham para os Jogos da mesma maneira que os nazis e Leonid Brejnev olharam: como uma maneira de "vender" o seu modelo a uma audiência global.

É evidente que os chineses mostraram ser politicamente insensíveis ao escolher um arquitecto cujo nome tem tais conotações políticas. E é possível que o nome de Speer não tenha pesado da sua escolha. O que os chineses queriam era encenar uns Jogos que pusesse em evidência uma certa imagem de si mesmos e Speer Jr., inspirando-se na arquitectura do poder que o seu pai dominava, pôde apresentar a solução desejada.

A concretização da visão olímpica de Speer Jr. e da dos seus patronos assinala o fim de um bem-vindo interlúdio. Durante os anos que se seguiram ao fim da guerra fria, a política esteve afastada dos Jogos. Uma medalha de ouro representava as qualidades desportivas e a dedicação dos atletas individuais e não os supostos méritos do sistema político que os produzia.

Mas agora regressámos a uma estética de mesmerismo político, que se reflecte na declaração do Governo do país anfitrião, segundo a qual a China deverá ganhar mais medalhas de ouro do que qualquer outro país até aqui.

Quando a tocha olímpica acabar o seu percurso - que foi aliás uma ideia dos nazis, usada pela primeira vez nos jogos de 1936 - ao longo da avenida do poder imaginada por Speer Jr., o mundo poderá de novo testemunhar o triunfo da vontade totalitária.

Nina Khrucheva é professora de Relações Internacionais na New School University, em Nova Iorque, e é senior fellow do World Policy Institute de Nova Iorque. É autora do livro Imagining Nabokov: Russia between Art and Politics. © Project Syndicate, 2008 (www.project-syndicate.org)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

China, Jogos Olimpicos e a Sociedade

Com os Jogos Olímpicos que realizar-se-ao em Pequim (Beijing) a partir do próximo dia 8 de Agosto, a sociedade actual chinesa sofreu uma grande mutação e igualmente deve a sociedade ocidental olhar essas mudanças sem os óculos culturais com que o costuma fazer, talvez por ser seu defeito intrínseco.

O artigo do correspondente do jornal La Vanguardia em Pequim é nesse aspecto elucidativo.

Recomenda-se a sua leitura em:

http://www.lavanguardia.es/lv24h2007/20080804/53513654881.html

sábado, 2 de agosto de 2008

Computadores MAGALHÃES

Todos os diversos membros da comunicação social deram eco da notícia dos computadores que o governo ia distribuir a todos os alunos dos 6 aos 10 anos, o Magalhães.

Depois houve uma pequena correcção. Não se tratava de DISTRIBUIÇÃO mas de DISPONIBILIZAÇÃO.

Esperemos que os papás dos ditos "infantes" tenham um nível de língua portuguesa disponibilizado pelo Ministério da Educação no seu tempo, deles papás, suficiente para conseguirem deslindar a diferença dos dois verbos:

Distribuir e Disponibilizar



Publicidade enganosa

Primeiro foram as notícias que davam conta de uma nova fábrica da Intel em Portugal. Um sucesso, garantia-se, que já tinha 4 milhões de encomendas ainda antes de ser instalada a primeira pedra. Um investimento que iria criar 1000 postos de trabalho qualificados, na zona de Matosinhos, graças à diligência do Governo. A apresentação foi ontem. Com pompa e circunstância a imprensa andou dois dias a anunciar o “primeiro portátil português”. O Magalhães é um computador inspirado no navegador, diziam ontem as televisões em coro. Para dar credibilidade à coisa, o mais famoso relações públicas nacional e o presidente da Intel subiram ontem ao palco do Pavilhão Atlântico para a "apresentação mundial" deste computador de baixo custo.

Um único problema. Não só o computador não tem nada de novo como a única coisa portuguesa é a localização da fábrica e o capital investido. A "novidade mundial" ontem apresentada, já tinha sido
anunciada a 3 de Abril - no Intel Developer Forum, em Shangai - e foi analisada pela imprensa internacional vai agora fazer quatro meses. O tempo que tem a segunda geração do Classmate PC da Intel, que é o verdadeiro nome do Magalhães. De resto, o primeiro computador mundial para as crianças dos 6 aos 11 anos, características que foram etiquetadas pela imprensa lusa por ser resistente ao choque e ter um teclado resistente à agua, já está à venda na Índia e Inglaterra. No primeiro país com o nome de MiLeap X, no segundo como o JumpPC. O “nosso” Magalhães é isso mesmo, uma versão produzida em Portugal sob licença da Intel, uma história bem distinta da habilmente "vendida" pelo governo para criar mais um caso de sucesso do Portugal tecnológico.

Fábrica da Intel nem vê-la e os tão falados 1000 novos postos de trabalho ainda menos, tudo se ficando por uma extensão da actual capacidade de produção da fábrica da JP Sá Couto. Serão
80 novos empregos, 250 se conseguirem exportar para os Palops. Os tais 4 milhões, que já estavam assegurados, lembram-se? Só que as 4 milhões encomendas não passam de wishful thinking do nosso primeiro. E muito pouco credível. Em todos os países onde o computador está à venda é produzido através de licenças com empresas locais. Como explicou o presidente da Intel, a empresa continua à procura de parceiros locais para ganhar quota de mercado com o Classmate PC, não o Magalhães.

A guerra de Intel é outra, como se pode perceber no
relato que um dos mais reputados sites tecnológicos - a Arstechnica, do grupo editorial da New Yorker - faz da apresentação da Intel e do governo português: espetar o derradeiro prego no caixão do One Laptop for Child, o projecto de Nicholas Negroponte e do MIT para destinar um computador a cada criança dos países do terceiro mundo. É essa a importância estratégica para a Intel. O resto é fogo de vista para português ver.

PS: Não tenho nada contra a iniciativa em si, parecendo-me meritório um projecto para garantir um contacto precoce de milhares de alunos com a informática. Mas isso não quer dizer que aceite gato por lebre. Não seria nada mau sinal se a imprensa nacional, que andou a vender uma história ficcionada, também cumprisse o seu papel.