domingo, 27 de março de 2011

Museu Subaquático de Portimão I

Transcreve-se a seguinte notícia dada à estampa pelo jornal "BARLAVENTO" e relacionada com o tema.

Quanto à opinião da bióloga não se efectuam comentários!

LPN tem reservas em relação ao projeto do museu subaquático de Portimão



Apesar de considerar que há espaço para todas as atividades económicas, Alexandra Cunha, bióloga marinha e presidente da Liga para a Proteção da Natureza (LPN), afirmou que o projeto «não tem interesse nenhum a nível da conservação da natureza» e que seria melhor se os navios fossem desmantelados e o material reciclado.

Por outro lado, o afundamento dos navios, que se tornarão recifes artificiais, «vai alterar o habitat natural (zona de areia), onde há espécies específicas como os linguados», explicou.

O projeto pode, por isso, levar a que naquele local se fixem espécies exóticas, porque vão encontrar ali as condições ideais para habitar.

«A LPN tem algumas reservas» e considera que um projeto desta dimensão deveria ser sujeito a um estudo de impacto ambiental com discussão pública, afirmou a ambientalista.


27 de Março de 2011 | 02:44
ana sofia varela



Museu Subaquático de Portimão

Do jornal "BARLAVENTO" e com a devida vénia transcrevemos a seguinte notícia:

Primeiro navio do Museu Subaquático de Portimão vai ao fundo este ano




Navio ocenográfico Almeida Carvalho será uma das embarcações da marinha a ser afundadas
O Museu Subaquático de Portimão deverá começar a ganhar forma este ano, quando for afundado ao largo de Alvor, o primeiro navio de guerra da Armada Portuguesa, de um total de quatro.

A Câmara de Portimão e a empresa privada Subnauta (centro de mergulho na Praia da Rocha) estão a criar a associação Submar, «estando já a ser articulado com o Ministério da Defesa a hipótese do primeiro navio ser desmantelado nos estaleiros de Portimão, numa iniciativa que criará postos de trabalho na cidade», adiantou ao «barlavento» Luís Carito, vice-presidente da Câmara local.

Os quatro antigos navios da Armada, que serão afundados – o navio oceanográfico «Almeida Carvalho», a fragata «Hermenegildo Capelo», a corveta «Oliveira do Carmo» e o navio-patrulha «Zambeze» - estão desativados e foram cedidos à autarquia a custo zero. A parceria teve que ser feita, pois o privado não poderia ter recebido estas embarcações.

«Ao fim de quatro anos de luta, o projeto está lançado e tudo indica que este verão já teremos o primeiro navio no fundo», afirmou em declarações ao «barlavento» Pedro Caleja, dive master e arqueólogo subaquático da Subnauta.

O passo seguinte, antes de afundar os navios, é «limpá-los de todos os materiais contaminantes, como os amiantos, para que não constituam qualquer ameaça ao ambiente», explicou Pedro Caleja.

E, para assegurar que esta meta é cumprida, foram desenvolvidos e apresentados às entidades competentes, segundo o arqueólogo subaquático, vários estudos de impacte ambiental, de biologia marinha (para saber que tipo de espécies povoam as áreas e qual será o impacto do projeto), bem como prospeções arqueológicas (para garantir que o afundamento não ia prejudicar possíveis vestígios).

As embarcações serão afundadas a cerca de 30 metros de profundidade ao largo de Alvor, pois é necessário deixar pelo menos 15 metros entre o ponto mais alto do navio e a superfície para não causar impedimentos à circulação marítima.

«Não será difícil mergulhar nestes navios, mas será mais fácil se o mergulho for acompanhado por guias. No entanto, será acessível a quem tem curso de mergulho até 30 metros de profundidade», disse o mergulhador da Subnauta.

O maior navio tem 102 metros de comprimento e o mais pequeno 44 metros e as superestruturas estarão, à partida, acessíveis aos mergulhadores (Open Waters).

O acesso será público a quem cumpre as regras, estando a ser elaborado um regulamento.

O projeto, que implica um forte investimento, vai permitir colocar o Algarve no circuito de mergulho, aproveitando «o bom clima, as boas águas com muitas espécies de fauna», o facto de ser um destino barato e familiar, afirmou ainda Pedro Caleja.

Por outro lado, a Museu terá como vantagens trazer pessoas à região algarvia fora da época alta, dinamizando a hotelaria, a economia local e os concelhos periféricos.

As expetativas, para Luís Carito, são altas, pois se a situação no Norte de África se mantiver, «há vinte mil turistas de mergulho que não sabem para onde podem ir e estas são pessoas com capacidade económica.


27 de Março de 2011 02:20
ana sofia varela






domingo, 6 de março de 2011

Algarve e o Ciclone de 1941 - III

In "BARLAVENTO" de 4 de Março de 2011:

O ciclone de há 70 anos: «na aldeia da ilha Ançã nem destroços restam»




O «barlavento» termina aqui, com esta terceira parte, a evocação dos estragos causados no Algarve pelo ciclone que atingiu o país há 70 anos, no dia 15 de Fevereiro de 1941.

TEMAS: História e histórias do Algarve

Como seria de prever, o ciclone atingiu fortemente as ilhas barreira da Ria Formosa: «Na ilha da Culatra desapareceram muitas barracas de pescadores, que se dirigiram ao departamento [Marítimo do Sul] a pedir providências. Os marítimos das ilhas perderam os seus barcos e os apoios de pesca. Os ilhéus foram vacinados, devido a terem aparecido doentes atacados de varíola. A barca do porto comum foi parcialmente destruída».

«Há, porém, um facto que sobreleva todos os outros: A destruição da aldeia da ilha Ançã [Ancão – Praia de Faro], da qual nem destroços restam. Ondas gigantescas, de altura inconcebível, invadiram de súbito a pequena língua de terra. Nada podia resistir-lhes. Casas, redes, pequenas embarcações, o arraial da armação da pesca de atum «Cabo de Santa Maria» - tudo foi reduzido a migalhas num abrir e fechar de olhos. E logo outras vagas arrastaram os restos daquilo, que momentos antes, fora uma povoação de gente humilde e laboriosa, agora lançada na mais negra e desoladora das misérias».

Ao todo, mais de cem pessoas, entre homens, mulheres e crianças, foram atingidos pela catástrofe, na hoje designada Praia de Faro.

«Próximo da ilha Ançã e junto do ilhote de Coleiros, a fúria do mar teve um efeito surpreendente: apareceu uma nova barra».

Na Fuzeta, «parte da povoação foi invadida pelo mar. Ficaram inundadas centenas de habitações». «Os prejuízos nas embarcações são elevados. A ria está assoreada, pelo que é impossível o tráfego».

Os pescadores perderam ainda todas as teias de alcatruzes utilizadas na pesca do polvo. Na mesma localidade, tal como em Moncarapacho e Pechão «há milhares de oliveiras derrubadas».

Por sua vez, em Vila Real de Santo António, «os campos sofreram uma razia, não ficando, em muitos pontos, uma árvore de pé. No rio afundaram-se numerosas embarcações, outras ficaram destruídas e ainda outras desapareceram. As canoas dos irmãos Jacinto e José Barão e do Sr. José Marques foram tragadas pelas águas, assim como os respectivos carregamentos de café e açúcar. Um «gasolina» da Empresa de Transportes do Guadiana ficou despedaçado. No local conhecido por Lasareto, as casas velhas ruíram. Abateram telhados e paredes nas fábricas de Sanches e Barroso, Raul Folques, Sales, Ramirez, Aliança e Paródi. (…) Na vila, o tanoeiro António Segura Rodrigues foi projectado de encontro a uma parede sofrendo fractura nos maxilares. (…) Na avenida da Republica o vento levou as guaritas da Guarda-Fiscal».

«Na secretaria da Câmara Municipal, todas as janelas ficaram estilhaçadas. Correram perigo os funcionários e algumas pessoas que ali se encontravam, chegando a esboçar-se o pânico. Embora sem gravidade, há pessoas feridas com os estilhaços dos vidros».

«Por todo o lado há candeeiros de iluminação destruídos, postes telegráficos e telefones derrubados – o que tem impedido as comunicações com o resto da província e nomeadamente a capital – casas destelhadas, empenas caídas e árvores arrancadas. A caminho de Castro Marim o aspecto é ainda mais desolador. Toda a margem de terrenos cultivados alagaram-se, estando completamente inutilizadas as sementeiras de cevada, trigo e fava. A água subindo em verdadeiras cortinas, avança na parte baixa da vizinha cidade espanhola de Ayamonte, inundando-a completamente. Devem ser importantes os estragos ali ocorridos. Na povoação espanhola de Canelas caiu parte do campanário duma igreja».

Na velhíssima cidade de Tavira, «contam-se às dezenas os prédios que sofreram prejuízos. Na fábrica de moagem de J. A. Pacheco, o vento levou grande parte da cobertura, o mesmo sucedendo no armazém contíguo à moagem da firma Araújo Ribeiro & Dias. Na fábrica de conservas Balsense e na casa do salva vidas também abateram os telhados».

Também em Tavira, «o Bairro Jara habitado por gente pobre foi atingido gravemente, havendo moradias que ficaram destelhadas e em ruínas. Na bacia das Quatro Águas uma barca da Companhia de Pescarias Algarve, denominada Moagem, foi ao fundo, carregada de sal. Os batelões da mesma companhia que estavam junto do rio, que corre paralelo à costa foram atingidos pelas vagas, afundando-se. Na ilha de Tavira a água do mar juntou-se à do rio, pondo em sério risco o arraial da armação daquela empresa. A maioria das cabanas existentes na ilha foi levada pela corrente. No campo, milhares de árvores foram destruídas [No sítio das Cabanas, um olival, de que é proprietário o Sr. José Chagas, de cerca de trezentas árvores, só oito ficaram de pé]. Não há comunicações. A camioneta que faz a carreira diária entre a cidade e a vila de Alportel foi atingida por uma árvore».

«No sítio da Fortaleza, junto da armação do atum, o mar abriu nova barra de grande extensão» Na freguesia da Luz, «até a erva foi queimada pelo vento».

Reconstrução e situação atual

Os prejuízos totais na região foram contabilizados, dias depois do ciclone e segundo o «Diário de Notícias», em 50 000 contos (aproximadamente 250 mil euros, mas que, a valores atuais, ascenderiam a mais de 10 milhões de euros). A economia do Algarve ficou fortemente afectada e os mais pobres duramente atingidos, tanto mais que «as sementeiras de fava e ervilha, que constituem uma grande riqueza do Algarve e a base de alimentação das classes menos abastadas nesta quadra, podem considerar-se perdidas».

Mas os algarvios não se detiveram perante tão grande adversidade. Foram vários os gritos de socorro às entidades, emanados através dos jornais, como em Salir: «Centenas de camponeses, olhos rasos de lágrimas procuraram o correspondente do Século e pediram-lhe que, por intermédio do nosso jornal, se solicitassem providências ao Governo».

Até em Lisboa «uma comissão de estudantes algarvios, de várias Faculdades», coordenados por Maria Odete Leonardo, resolveu «recolher donativos para acudir aos seus conterrâneos».

António Graça Mira, contemporâneo aos acontecimentos, recorda ainda os cortejos de ofertas, que se realizaram um pouco por toda a região, bem como o imposto de um tostão, ambos destinados ao auxílio das vítimas.

O Carnaval de 1941, cujos festejos ocorreram a 25 de fevereiro, foi bastante discreto em todo o território. Mas em Loulé e em exceção, o corso saiu à rua, ou não se destinassem as suas receitas a apoiar o funcionamento do Hospital da Misericórdia.

A liderar o processo de restabelecimento do país esteve um algarvio, o louletano Eng. Duarte Pacheco, que à época ocupava o cargo de Ministro das Obras Públicas e Comunicações. O seu empenho e a pronta ação foram meritórios, permitindo normalizar “rapidamente” o país após tão pesada calamidade.

Em Portimão, data desta época a construção do bairro do Pontal, precisamente para alojar as famílias pobres que viram as suas casas e barracas destruídas pela violenta tempestade.

O ciclone marcou duramente a paisagem do Algarve, muitas árvores centenárias desapareceram e hoje dificilmente se imagina, por exemplo, a estrada de Faro a Olhão ladeada de eucaliptos. Interessante é constatar como a economia algarvia se transformou tanto nas últimas décadas.

Atualmente, já não seriam destruídos barcos carregados de esparto, de conservas, ou mesmo de açúcar. A freguesia de Pêra já não abastece Lisboa de favas ou ervilhas, e nem haveria no Algarve chaminés de fábricas de conservas, ou mesmo de cortiça, para derrubar. A produção de amêndoa, à época tão importante na economia regional, é hoje residual.

Mas o quotidiano e os hábitos dos algarvios também se modificaram substancialmente. Em Alte, como em toda a região, já não se cozinha com a água das goteiras, nem as favas e os griséus são a base da alimentação, ou exclusivas desta quadra.

Como se comportariam hoje os prédios da Praia da Rocha perante um ciclone? Ou todos os outros prédios por esse Algarve fora? É algo que devemos equacionar.

Afinal hoje, tal como ontem, não estamos livres dos efeitos de um novo ciclone extra-tropical.

Outras tempestades têm fustigado Portugal e o Algarve nos últimos 70 anos, mas felizmente

4 de Março de 2011 23:43
Aurélio Nuno Cabrita*



Algarve e o Ciclone de 1941 - II

In "BARLAVENTO" de 27 de Fevereiro de 2011:

Os relatos dramáticos dos estragos no Algarve causados pelo ciclone que atingiu Portugal há 70 anos



No dia 15 de fevereiro de 1941, um ciclone extra-tropical atingiu o país, deixando um rasto de mortes e prejuízos por toda a parte. Hoje continuamos aqui a descrever o que se passou no Algarve, nesse fatídico dia há 70 anos.

TEMAS: História e histórias do Algarve

Em Portimão, «o ciclone, que atingiu cerca de 150 km/h, causou grandes prejuízos nesta cidade e seu porto, na Praia da Rocha e campos vizinhos. No porto, garraram muitas embarcações e outras foram à deriva rio acima, depois de rebentadas as amarras. As águas do rio subiram, inundando completamente o largo Heliodoro Salgado e as ruas circunvizinhas».

Os prejuízos «sobem a milhares de contos. (…) Árvores arrancadas pela raiz, sementeiras destruídas, casas desmoronadas, grandes avarias nas redes eléctricas, telefónica e telegráfica. A casa Fialho deve ter sido a que mais prejuízos sofreu. O vento deitou a terra a sua fábrica de S. Francisco. Casa do descabeço, casas de enlatar, armazéns, casas dos operárias – tudo o vento arrasou», referiam os jornais da época.

«Abateu o barracão da Junta Autónoma dos Portos do Algarve, ficando esmagados alguns barcos do Club Naval de Portimão que lá se encontravam», acrescentava o periódico.

Os mercados do peixe e agrícola ficaram sem telhado e na Praia da Rocha o cinema ficou destruído. O jornal local «Comércio de Portimão» refere, na sua edição de 18 de fevereiro de 1941, que o ciclone atingiu o pico na cidade às 13 horas de sábado, com tal violência que «grande parte da população julgou chegado o seu último dia», as pessoas que «se aventuravam a circular nas ruas foram derrubadas e atiradas ao chão ou de encontro às paredes dos prédios».

Enquanto isso, na Baixa de Portimão, «voaram a maior parte das lâmpadas e globos dos modernos candeeiros».

Na Mexilhoeira Grande, «os favais estão completamente perdidos e poucas esperanças restam de salvar qualquer colheita».

Também em Silves se registaram muitos danos: «abateu a fábrica de cortiça da firma Coutinho & C.ª. Morreu na derrocada um rapaz de 13 anos e ficou outro gravemente ferido».

Esta não foi, contudo, a única fábrica destruída, já que os jornais da época referem que «sofreram prejuízos importantes as fábricas de cortiça de Bento Monteiro, de José Cruz, de Abílio Braz, de Aldemiro Mira e José Duarte. No cemitério, caíram todos os ciprestes. Os eucaliptos e cedros que ladeavam a Cruz de Portugal, monumento nacional, caíram, tendo apenas destruído parte do gradeamento do monumento».

O ciclone terá derrubado em Silves mais de 300 eucaliptos, e os prejuízos neste concelho foram estimados em mais de 1000 contos. Na freguesia de Armação de Pêra, «o mar destruiu a esplanada, deslocando enormes rochas. Mais de quarenta barcos foram atirados contra os fraguedos, ficando estilhaçados. Os prejuízos foram enormes nas amendoeiras, nos favais e nos ervilhais de Pêra, região que abastece Lisboa».

Ainda em Algoz, «o mercado foi parcialmente destruído». Nesta localidade ocorreu, porém, um facto curioso: «as rajadas de vento levavam consigo água salgada, e atiraram aos ares os transeuntes desprevenidos».

Mas também em Alte (Loulé), choveu água do mar, «que queimou as plantas escapadas à fúria do temporal».

Na aldeia mais típica do Algarve, «algumas mulheres cozinharam com água aparada em vasilhas postas às goteiras, sem necessidade de lhe deitar sal. O resultado foi não poderem comer, por excessivamente salgados, os alimentos assim cozinhados. As próprias folhas das plantas, passado o temporal, tinham um sabor forte a sal».

Na hoje cosmopolita Albufeira, «o passeio marginal e a esplanada sofreram estragos. Sobre a ermida da Sr.ª da Orada caíram grandes ciprestes, que causaram prejuízos».

Ainda neste concelho, em Paderne, «toda a flor das amendoeiras e alfarrobeiras foi destruída».

Na Praia do Carvoeiro (Lagoa), «o mar invadiu a povoação arrastando os barcos através da rua principal. As casas dos habitantes, os chalés dos veraneantes, balaustradas e a escada que dá acesso à praia, sofreram danos enormes. Grandes blocos de pedra e areia cobriram as ruas».

Na estrada entre esta então aldeia e Lagoa, «foram arrancados pela raiz onze grandes eucaliptos, que destruíram numa grande extensão, a canalização de água desta vila». Ainda em Lagoa «abateu um armazém do Sr. Graça Mira».

Destruição sobre devastação que se repetiu um pouco por todo o Algarve, até no Cabo de São Vicente, se verificou um episódio inédito: «as vagas atingiram mais de 50 metros de altura, alcançando a instalação do farol [penetrando na casa das máquinas, facto até hoje nunca verificado]. Foram arrancadas rochas com o peso de muitas toneladas e projectadas a grande altura».

Nas Caldas de Monchique, «a famosa mata sofreu prejuízos enormes. Sobre a Pensão Internacional caiu um eucalipto que causou importantes danos. Na estrada de Portimão a Silves, foram derrubadas centenas de eucaliptos».

Também em Monchique houve casas destruídas e muitas árvores caídas.

Em Odeceixe (Aljezur), «o vento partiu e arrancou árvores, destelhou a maior parte dos prédios da povoação e fez cair a platibanda do prédio do Sr. José Paulino da Silva. As várzeas foram invadidas pelas águas do mar».

Já em Lagos, «o mar danificou a linha férrea, próximo da praia de S. Roque, e derrubou a parede fronteira ao mercado do peixe, pondo em risco as embarcações que se tinham refugiado na Porta de Portugal. O vento derrubou as chaminés de seis fábricas de conservas de peixe e de muitas casas particulares e a balaustrada do edifício dos Paços do Concelho. Como em todo o Algarve os prejuízos foram importantes no arvoredo».

No Sotavento, em Olhão, ocorreu ainda um facto singular: «tal violência atingiu o ciclone que uma lancha foi pelo ar desde a ria até ao Largo da Feira, numa distância de cerca de cem metros. Em frente à praça do peixe, dois homens foram erguidos pelo vento e atirados de encontro à parede».

Já a «cobertura da serração Leal desapareceu por completo», enquanto um moinho de vento, propriedade do Sr. Tomás Saias, era derrubado.

Mas foi nesta localidade que ocorreu um dos episódios mais emocionantes daqueles dias, o naufrágio dos veleiros «Alvorada» e «Natal»: «Ambos estavam carregados de conservas quando o ciclone chegou. Em poucos minutos, os barcos afundaram-se, enquanto outros (cercos de pesca e de diferentes categorias) eram arremessados de encontro às muralhas da doca, com formidável estrondo. Apavorados, vendo que a fúria do mar aumentava, os tripulantes do «Natal» e «Alvorada» subiram aos mastros e ali ficaram agarrados, com as forças centuplicadas pelo desespero. (…) Em altos gritos, pediam auxílio divino, pois viam que de terra, era impossível, nessa altura, mandar-lhes socorro. Da vila centenas de pessoas presenciavam, aterradas, aquela cena medonha. De súbito, houve um grito de espanto. Um homem, um valente – João Custódio, casado, 48 anos, natural de Olhão – meteu-se no seu barquito e, perante todos os que o viam, tentou raivosamente ir socorrer os infelizes António Lemos e Manuel Bocas. O que se seguiu foi espantoso! As ondas ameaçavam tragar o frágil madeiro, de um instante para o outro. Mas o valoroso marítimo reagiu e alcançou o seu objectivo, recolhendo os dois desgraçados, que choravam de agradecimento. Daí a pouco, o mar vingou-se. O arrojado João Custódio foi projectado de encontro à muralha por uma onda monstruosa. O barco sumiu-se por um turbilhão de espuma. Todos julgaram que o temerário marítimo perecera, mar viram-no emergir e alcançar a terra. Da embarcação nada se salvou».

Quanto aos outros pescadores e de uma forma idêntica foram salvos e «afectuosamente recolhidos na residência de madame Eugénia Macé, gerente da fábrica Lory, que lhes deu agasalhos e bebidas quentes».

Na então vila piscatória afundaram-se quatro barcos, três batelões e dezenas de barcaças vazias, «que foram afundadas ou partidas, alem de inúmeros pequenos barcos de pesca, cujos humildes proprietários ficam na maior miséria».

Os prejuízos só dos quatro barcos de conservas afundados foram calculados entre 900 a 1000 contos, «importância parcialmente coberta pelo seguro».

Mas muitos outros prejuízos houve “especialmente nas fábricas de conservas, a Guerreiro & C.ª sofreu danos no valor de 18 000$00, e a de Pedro José, no de 50 000$00».

(Continua)

Nota: O jornal «Comércio de Portimão» foi gentilmente cedido pelo Centro de Documentação do Museu de Portimão.


27 de Fevereiro de 2011 10:41
Aurélio Nuno Cabrita*



Algarve e o Ciclone de 1941 - I

In "BARLAVENTO" de 15 de Fevereiro de 2011:

Algarve sofreu com o ciclone que atingiu o país há 70 anos, a 15 de Fevereiro de 1941



Há 70 anos, o Inverno resistia a ceder lugar à Primavera e, depois de vários dias de muita chuva, o pior aconteceu. Se a nefasta II Guerra Mundial ocupava até então, e consecutivamente, as primeiras páginas dos diários nacionais, um raro fenómeno meteorológico remeteu as notícias dos combates para as páginas centrais.

TEMAS: História e histórias do Algarve

Um terrível ciclone extra-tropical atingiu e devastou Portugal, a 15 de Fevereiro de 1941. Nesse mesmo sábado, o jornal «O Século» publicava uma notícia relativa a Olhão, datada do dia anterior: «Um fortíssimo temporal – o terceiro destes últimos dias - assolou hoje [14 de Fevereiro] esta região, causando sérios prejuízos nas embarcações, muitas das quais foram arrojadas de encontro ao cais».

Se a notícia era já por si má, longe estavam os algarvios de imaginar o que ocorreria nesse fatídico dia 15 de Fevereiro.

O boletim meteorológico apenas previa «aguaceiros alternados com abertas; ventos do quadrante W bastante fortes com rajadas e golpes de vento forte durante os aguaceiros». Em suma, tudo apontava para uma situação idêntica aos dias anteriores, mas a previsão falhou.

Naquele dia, teve lugar a maior tempestade até então registada pelo Observatório Meteorológico de Lisboa, criado em 1854.

Em escassas horas, a pressão atmosférica baixou drasticamente, determinada por um cavamento extraordinário de uma depressão que se deslocou, numa fase inicial, dos Açores em direção à Península Ibérica e, posteriormente, paralelamente à costa ocidental do continente, de Sul para Norte.

O resultado foi uma violentíssima tempestade que atingiu o auge em Portugal às 15 horas daquele Sábado Magro.

Os ventos alcançaram em Lisboa uma velocidade de 127 km/h, semeando o terror na capital, como em todo o país.

As consequências foram nefastas: além de várias horas de pânico vivido pelas populações, registaram-se dezenas de vítimas mortais e elevados prejuízos materiais.

Em todo um cenário dantesco, o Algarve não foi exceção. A imprensa da época, como «O Século» e o «Diário de Notícias», divulgou amplamente os efeitos na região.

O primeiro daqueles periódicos traçou mesmo uma síntese a nível regional: «A província do Algarve foi assolada por um violentíssimo temporal, que causou prejuízos de grande monta, avaliados em dezenas de milhar de contos. A floração das amendoeiras foi desfeita pela ventania e tem-se como certa a perda quase total da produção do fruto, o que agrava consideravelmente a crise. Grandes trovoadas pairaram por toda a região. Muitas casas ficaram destruídas ou sem telhados e a violência da tempestade fez-se sentir, em especial nas zonas fabris e nos aglomerados de habitações de gente pobre. Há milhares de árvores derrubadas. No litoral, a tormenta atingiu inaudita violência e o mar tocado pelo ciclone, invadiu grandes extensões de terra cultivada, devastando completamente sementeiras e pomares. Por toda a parte há tristeza e desolação».

O vento terá soprado a uma velocidade de 140 km/h no Algarve e, nas palavras do correspondente do «Diário de Notícias», «tudo foi varrido, esfacelado, aniquilado».

Em Olhão, «muitas são as embarcações que estão avariadas ou afundadas. Várias embarcações carregadas de esparto foram atiradas para terra perdendo-se a carga. (…) Na fábrica de conservas Figueiredo & C.ª abateu o telhado, havendo prejuízos no valor de 150 contos. Outro tanto sucedeu a outras fábricas, casas e edifícios da companhia Portuguesa de Congelação, onde abateu uma parede. Os empregados nada sofreram por ser hora de almoço. O cinema Apolo ficou completamente destruído. Os telhados da maior parte das fábricas foram pelos ares o mesmo sucedendo às árvores da rua da República e aos postes de iluminação pública. (…) As sementeiras estão completamente destruídas. Só na horta da Penha, propriedade do Sr. João Neto, há mais de 200 amendoeiras arrancadas pela raiz. O fornecimento de energia eléctrica está também interrompido desde ontem [14 de Fevereiro]».

Quanto aos acessos à capital de distrito, «na estrada de Faro a Olhão caíram mais de 200 eucaliptos; e entre aquela vila e Portimão contam-se 470 postos telegráficos derrubados».

O tráfego automóvel era pois muito condicionado, e como se isso não bastasse, «as linhas telefónicas estão interrompidas; os comboios não podem circular por as vias estarem obstruídas com postes e árvores. Na estrada de Portimão, um garoto cuja identidade se desconhece, foi morto pela queda de uma árvore».

Já no sítio das Figuras (em Faro), «foram derrubados todos os eucaliptos ali existentes, assim como os postes telegráficos e telefónicos».

No dia 16 era feito o balanço: «Os prejuízos em Faro são como já dissemos, muito importantes. No cemitério caíram numerosos ciprestes que atingiram vários jazigos e levantaram muitas sepulturas. Abateu também um muro de um quintal na rua de Alportel e a platibanda de uma casa na rua Coelho de Melo. Na estrada de Loulé foram derrubados todos os eucaliptos e todos os postes telegráficos».

Também o Liceu João de Deus sofreu muitos estragos, de tal forma que as aulas acabaram por ser suspensas.

Em Santa Bárbara de Nexe e Estoi, «a violência do vento devastou completamente sementeiras e destruiu numerosas árvores».

No jardim público de Estoi, «caíram alguns dos grandes ciprestes que ali existem. Uma dessas árvores seculares, cujo tronco dificilmente seria abraçado por oito homens, foi arrancado pela raiz. Em toda a aldeia, cuja população é constituída por pequenos proprietários, a desolação é completa».

Já em Loulé, «os prejuízos são também enormes. Parte da rede eléctrica ficou danificada, tendo-se interrompido por completo, o serviço telegráfico e telefónico. O trânsito nas estradas também ficou interrompido, por motivos dos desabamentos de árvores, o mesmo sucedeu na linha férrea. Desabou o «esqueleto» dos bombeiros, em cima de uma habitação que ficou muito danificada. Muitas outras casas ruíram, e só na rua do Prior aluíram cinco prédios. Nos campos e arredores há estragos incalculáveis».

Afinal, «perdeu-se totalmente a colheita de amêndoas e houve propriedades que quase ficaram limpas de arvoredo e com os favais e searas queimados», noticiavam os jornais da época.

Em Quarteira, «também se verificaram importantes estragos, pois o mar avançou pela povoação, derrubando casas e arrastando tudo em turbilhão. Junto à estrada nuns pinheirais foram derrubadas mais de cem árvores».

Na então aldeia piscatória, a violência do mar demoliu ainda «a parede principal do quartel da guarda-fiscal».

Também a «antiga fábrica da Sociedade de Transportes e Comércio foi parcialmente destruída, assim como casas onde estavam instalados estabelecimentos e armazéns de peixe. O importante olival existente na estrada de Loulé para a estação, pertencente ao Sr. Cipriano Neves, sofreu igualmente muitos estragos. Foram destruídas mais de 150 árvores».

Na freguesia de Salir, «houve danos incalculáveis. Caíram milhares de sobreiros, eucaliptos, amendoeiras, e ficaram devastados hortas e pomares. O vendaval arrasou ou destruiu os tugúrios de gente humilde que ficou desabrigada e na maior miséria. Os prejuízos são avaliados em mais de 10 000 contos. Nada escapou à fúria do vento que até levou a cruz do presbitério e devassou os jazigos no cemitério. (…) Para a desgraça ser maior as feras acossadas pela fome desceram aos povoados e devastaram os rebanhos».

Na vizinha freguesia de Querença, até a ponte junto à Fonte de Benémola (na fotografia) ruiu com a tempestade.

(Continua)

Bibliografia: Jornais “O Século” e “Diário de Notícias” de Fevereiro de 1941 e http://www.meteopt.com

Fotografia gentilmente cedida pelo Eng.º Luís Guerreiro, Chefe da Divisão de Cultura e Museus do Município de Loulé


*Investigador de História Local e Regional



15 de Fevereiro de 2011 15:00
Aurélio Nuno Cabrita*


sábado, 26 de fevereiro de 2011

Viva Portugal do "deixa andar"

Agora que tanto se fala da "geração à rasca", da "geração nem-nem", dos Deolinda e a sua canção "Parva que eu sou", tudo relacionado com a situação a que uma geração de "políticos iluminados e inteligentes" nos conduziu é URGENTE e NECESSÁRIO publicitar uma letra de uma canção de Paco Bandeira , a qual tem sido "CENSURADA" pelo status vigente e que dá o nome próprio aos bois.

A tal "CENSURA" já não é feita pelo lápis azul mas por outros métodos mais subtis. No entanto, os dias de hoje têm demonstrado que os meios de que dispomos de comunicação e informação por redes sociais e similares podem obviar a tais manobras "subterrâneas".

E as últimas semanas têm sido ferteis em o demonstrar no âmbito internacional.

Eis a letra e atentem ao que chegámos pelo comodismo:

«Viva Portugal do “deixa andar”
Viva o futebol cada vez mais
Viva a Liberdade, viva a impunidade
Dos aldrabões quejandos e que tais
Viva o Tribunal, viva o juiz
E paga o justo pelo pecador
Viva a incompetência, viva a arrogância
Viva Portugal no seu melhor

Refrão:
Viva a notícia, da chafurda social
De que o Povo tanto gosta
Espectáculo da devassa
Viva o delator sem fuça
É a morte do artista

Viva a pepineira do «show-off»
Dos apresentadores de televisão
Viva a voz do tacho de quem vem de baixo
Do chefe do ministro do patrão

E viva a vilanagem financeira
E a licenciatura virtual
Viva a corretagem, viva a roubalheira
Viva a edição do «Tal & Qual»

Refrão
E viva a inveja nacional
Viva o fausto, viva a exibição
Da dívida calada, que hoje não se paga
Mas amanhã os outros pagarão

Viva a moda, viva o Carnaval
olarilas, olarilolé
Viva a tatuagem, brindo à bebunagem
Que vai na Internet e na TV

Refrão
Calem-se o Cravinho e o bastonário
O Medina, o Neto e sempre o Zé
Viva o foguetório, conto do vigário
Que dá p’ra Aeroporto e TGV

Viva o mundo da publicidade
O «share» ou não «share» eis a questão
O esperto da sondagem, o assessor de imagem
Viva o fazedor de opinião»


sábado, 12 de fevereiro de 2011

Balsa - Metrópole Romana do Algarve II

Com a devida vénia transcreve-se do jornal "BARLAVENTO" de 12 de Fevereiro de 2011:

Balsa: Moradias escondem passado de Tavira





Balsa foi uma importante cidade romana portuária da Hispânia, que existiu na atual freguesia de Luz (Tavira), nos terrenos litorais da Torre d'Aires, Antas e Arroio.

A história de Balsa romana inicia-se no século I a.C. e termina no século V ou VI da nossa era. Teve o seu apogeu no século II, chegando a ocupar 47 hectares, dimensão acima da média urbana da província da Lusitânia, a que pertencia.

Destacava-se relativamente a Olisippo (Lisboa), Ossonoba (Faro) e Conímbriga (Condeixa-a-Velha) e era oito vezes maior do que os 5,5 ha da zona amuralhada da Tavira medieval.

Cunhou moeda própria e o nome Balsa registado nestas moedas é o registo mais antigo do topónimo.

Testemunhos anteriores a 1978 descrevem a existência de ruínas romanas muito extensas no local. Desde então, o terreno arqueológico tem sido destruído por trabalhos agrícolas e pela construção de moradias e infraestruturas.

A arqueotopografia revelou estruturas urbanas importantes como um teatro, um cais e um porto interior.

As coleções arqueológicas de Balsa estão espalhadas por museus e acervos privados, destacando-se a do Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa.

No Algarve, há materiais patentes ao público em Faro e Moncarapacho, mas as primeiras investigações no século XX foram feitas em 1977 pelos arqueólogos Maria e Manuel Maia.

Mais tarde, o CAT fez duas sondagens exaustivas ao terreno em 2000 e 2003.

12 de Fevereiro de 2011 09:42
filipe antunes



Balsa - Metrópole Romana do Algarve

Com a devida vénia transcreve-se o texto a seguir dado à estampa no jornal "BARLAVENTO" em 12 de Fevereiro de 2011:

Antiga metrópole romana espera por museu para se mostrar ao público


filipe antunes


Uma década de investigação sobre Balsa deu a Luís Fraga ambição para criar um centro interpretativo. Enquanto aguarda «vontade política», conteúdos recheiam biblioteca digital.

A associação Campo Arqueológico de Tavira (CAT) diz ter um conjunto extenso de materiais sobre a cidade de Balsa prontos a publicar e garante que a documentação por si produzida, nos últimos 10 anos, é já suficiente para fundar um centro interpretativo sobre a herança daquele período do Algarve romano.

Para tal, muito têm contribuído as sondagens e trabalho de investigação desenvolvido pelo geógrafo e investigador do Algarve Romano Luís Fraga da Silva, autor do livro «Balsa, Cidade Perdida».

Numa homenagem ao local, a obra descreve o papel desta grande cidade que existiu nas margens da Ria Formosa, perto de Tavira, e chegou a ser a mais importante do Algarve, com 45 hectares, o que a tornava, à data (século II), maior que Faro (Ossonoba) e Lisboa (Olissipo).

É tendo em conta esta grandeza que o também membro do CAT continua a lamentar o desinteresse das autoridades com responsabilidades na área do património, visto que apenas uma pequena extensão do núcleo arqueológico está protegida.

Ao mesmo tempo, aponta o dedo àquilo que considera «o silêncio secular da Câmara de Tavira sobre a velha cidade» e a sua «incapacidade de a integrar nos dispositivos municipais de promoção cultural e preservação patrimonial».

É, aliás, para evitar esse «esquecimento» que Luís Fraga mantém ativos dois sítios online, um deles exclusivamente dedicado a Balsa, com dezenas de referências e conclusões sobre a investigação por si levada a cabo na última década.

Com uma extensa cartografia, textos históricos e até módulos de uma exposição patente na «Casa André Pilarte», em 2008, o investigador conseguiu já criar um museu online gratuito, pronto a evoluir para um centro interpretativo.

«O CAT já provou que o consegue, através de uma exposição de teste, que não chegou a custar cinco mil euros e pode ou não ser integrada num eventual núcleo romano do Museu de Tavira. É claro que podemos partir para meios de representação 3D mais caros, mas tudo se resume a uma questão de vontade política, uma vez que os conteúdos históricos e arqueológico estão prontos e não precisam de estruturas complexas», nota Fraga da Silva.

E há interesse por parte da população em saber mais? Segundo Fraga, a resposta é «sim», e lança como exemplo uma mostra do CAT realizada durante a feira de Santa Luzia (freguesia nas imediações de Balsa), onde «quase todos os habitantes mostraram ter histórias sobre achados não oficiais em Balsa».

A questão volta a estar na ordem do dia agora que o Museu Municipal de Tavira se prepara para inaugurar, na Páscoa, o seu Núcleo Islâmico, ao qual se seguirá a musealização de uma muralha fenícia.

Em declarações ao «barlavento», fonte do Gabinete de Apoio à Presidência explicou que o assunto de Balsa «não está esquecido», apesar de «terem sido definidas prioridades».

Segundo a mesma fonte, qualquer musealização que venha a ser feita sobre Balsa ou do período romano da cidade «deverá ser constituída em paralelo com o museu municipal, de forma a estruturar a promoção cultural e histórica da cidade».

Apesar de concordar com este modelo integrado, para Luís Fraga o que mais importa é voltar a chamar a atenção para a importância de Balsa, «que continua ameaçada por apetites imobiliários» e «não pode continuar a ser circunscrita à Torre de Aires».

«A zona da Torre de Aires é um dos maus exemplos de conservação, pois uma parte da quinta foi arrasada a bulldozer», frisa o geógrafo histórico, que continua a alertar para a necessidade de integrar Balsa numa zona de proteção mais extensa.

«À exceção de uma pequena faixa, a maior parte dos vestígios arqueológicos estão em terrenos privados, sem qualquer proteção legal», diz.

De acordo com o membro da direcção do CAT, um quinto da cidade romana ainda está «enterrada e intacta», como é o caso da zona das Antas.

12 de Fevereiro de 2011 09:41
filipe antunes



quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

China e Ciência: Metas para 2020

Transcreve-se com a devida vénia o artigo dado à estampa no Scientific American de 1 de Fevereiro de 2011, onde se assinalam as metas que o governo chinês pretende alcançar em 2020 para o seu país em termos de Ciência.

China sets 2020 vision for science
Goals include commercialization of research and emphasis on energy, biomedicine and information technology.

February 1, 2011 5



By Jane Qiu


China is betting that an ambitious program of applied research will help to secure its future as an economic superpower. Innovation 2020, unveiled last week by the Chinese Academy of Sciences (CAS), maintains support for basic research. But the plan will place a new emphasis on translating the research into technologies that can power economic growth and address pressing national needs such as clean energy, said Bai Chunli, vice-president of the CAS, at the academy's annual conference in Beijing, where the plan was announced.


Innovation 2020 is an extension of the Knowledge Innovation Programme (KIP) launched by the CAS in 1998. Under the KIP, the academy streamlined its often overstaffed and outdated institutes, attracted outstanding Chinese researchers who had trained abroad, and tightened up the way it evaluated project proposals and performance. But the CAS now needs to support new priorities, says Duan Yibing, a policy researcher at the CAS Institute of Policy and Management in Beijing.


China has become a global economic power, and the world's financial crisis has made scientific innovation more important to economic success than ever before, he says. "Things are a lot different now compared to 13 years ago."


Although the budget of Innovation 2020 is yet to be announced, insiders say it will be part of a continuing surge in the nation's science spending (see "Spend, spend, spend"). Indeed, the CAS's expenditure on research and development (R&D) in 2009 was about 20 billion renminbi (US$3 billion), seven times the level in 1998, according to a KIP assessment report also released last week. This year's budget for the National Natural Science Foundation of China will increase by 70 percent, from 10 billion renminbi last year.


Innovation 2020 will kick off with new projects this year in seven key areas, including nuclear fusion and nuclear-waste management; stem cells and regenerative medicine; and calculating the flux of carbon between land, oceans and atmosphere. Other priority areas include materials science, information technology, public health and the environment.


To coordinate resources better and to foster multidisciplinary research, the academy will set up three research centers for space science, clean coal technologies and geoscience monitoring devices. It also plans to build three science parks--in Beijing, Shanghai and Guangdong province, respectively--to accelerate the conversion of basic research into marketable products, especially in renewable energy, information technology and biomedicine.


Pan Jiaofeng, deputy general secretary of the CAS, says the KIP's track record bodes well for the success of the new program. By the CAS's reckoning, in 2009, researchers that it funded published 3.5 times as many papers in journals listed by the Science Citation Index (SCI) as in 1998. Crucially, the number of papers published in the top 1 percent of SCI journals, as judged by their impact factor, was 12 times that in 1998. The CAS also calculates that research and development by the KIP generated an income of 140 billion renminbi and tax revenue of 22 billion renminbi in 2009--respectively 19.5 and 14.5 times the levels in 2000.


But the report acknowledges that there is substantial room for improvement. For example, CAS researchers should aim to become leaders of the international scientific community, and shift their focus away from generating as many papers as possible and towards genuine originality and innovation.


With its emphasis on applied research, the new initiative also "presents a major challenge to the management and organizational capabilities of the academy," says Richard Suttmeier, a science-policy researcher at the University of Oregon in Eugene. He notes that most CAS institutes are focused on academic disciplines and lack the infrastructure needed for commercializing research or directing it towards national needs.


Others think that the emphasis on applied research, national needs and revenue could stifle curiosity-driven research. Without that, says a Shanghai-based researcher who declines to reveal his identity, "it would be very difficult to have genuine innovation."