sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O Solstício de Inverno e o primeiro dia do ano no calendário

O calendário que vulgarmente é imposto pela civilização dita ocidental é o calendário gregoriano que resulta da reforma do calendário Juliano, criado pelo Império Romano sob a égide de Júlio César, daí o seu nome de calendário juliano.

Formato em doze meses com uma duração aproximada do mês lunar, lutou desde o início com a conjugação do número de dias, na base da média de 30 dias por mês o que conduzia a 360 dias anos ao invés da duração do órbita do planeta Terra, que monta a pouco mais de 365 dias.

Esta diferença de cinco dias e algumas horas originou uma distribuição dos dias em certos meses do calendário, que por obedecer a interesses da política da época, conduziu a meses de 30 dias, meses de 31 dias e um mês de 28 dias.

O calendário juliano tem o seu início com o mês de Janeiro, termo que deriva do latim (Jano) rei mitológico do Lácio, a quem os Romanos consagravam o 1º dia do ano.

Teria sido igualmente lógico que o início do ano coincidisse com um momento astronómico exacto, como por exemplo, o momento em que a Terra ao descrever a sua órbita se encontrasse num equinócio ou num solstício.

No caso, e como o umbigo da civilização se desenvolve no hemisfério Norte, faria todo o sentido adoptar o dia do solstício de Inverno, uma vez que esse dia para quem habita esse hemisfério representa o dia de menor período diurno e igualmente o dia a partir do qual para a Natureza é quase como o início de um novo ciclo anual.

Daqui que seja estranho que o início do calendário, ou seja, o tal primeiro dia do ano não coincida com o tal momento astronómico, mas sim com um dia que é exactamente o décimo primeiro dia posterior ???

Porquê???

Haja quem nos ajude a resolver este mistério!!!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A Eterna Saga de Cristóvão Colón

Continua a questão acerca da nacionalidade desta personagem histórica o que bem comprova que a versão oficiosa acerca da biografia do mesmo não é possível de ser aceite.

Talvez por ser em parte bastante fantasiosa mesmo para os cânones da época.

As razões de Estado da época obrigaram a um segredo tal que se tornou quase num mistério!

Depois, quem poderia ter mostrado as reais razões, nunca esteve interessado em tal e num autêntico lesa-pátria até apadrinhou a tal versão oficiosa.

Citando o períodico LA VANGUARDIA.


Dos investigadores de Estados Unidos apoyan la catalanidad de Cristóbal Colón

Los autores argumentan en sus libros que el navegante hablaba catalán El historiador Charles J. Merrill considera que el almirante pertenecía a la familia Colom que había luchado contra Juan II


ROSA M. BOSCH Barcelona 30/10/2009 Actualizada a las 01:11h Ciudadanos

El historiador peruano Luis Ulloa Cisneros fue el primero en defender la catalanidad de Colón. En 1927, en una conferencia en la Société d'Américanistes de París, Ulloa sostuvo que el almirante nació y se crió en Catalunya; sus investigaciones quedan reflejadas en Christophe Colomb catalan: la vraie genèse de la descouverte de l'Amérique. Desde entonces, quien ha reivindicado el origen catalán de Colón ha despertado en muchos hilaridad y críticas. En las últimas semanas han aparecido dos nuevos libros de autores de EE.UU. que profundizan en esta tesis: The DNA of the writings of Columbus (Ed. Puerto), de Estelle Irizarry, profesora emérita de Literatura Hispánica de la Universidad de Georgetown, y Colom. 500 anys enganyats. Per què s'amaga l'origen català del descobridor d'Amèrica (Cossetània Edicions), del historiador Charles J. Merrill.

MÁS INFORMACIÓNLa política, contra Cristóbal Colón
Cristóbal Colón hablaba catalán en la intimidad


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"La obra de Merrill es un bálsamo para la teoría catalana de Colom ya que algunas obras que han aparecido en los últimos años nos han perjudicado por su poco rigor y frivolidad", destacó ayer Francesc Albadarner, presidente del Centre d'Estudis Colombins, en la presentación de la edición catalana del libro, un año después de la publicación de su versión inglesa en Estados Unidos.


Merrill, experto en literatura medieval catalana, ha recopilado durante los últimos 20 años información para presentar ordenadamente todas las teorías sobre el origen del descubridor de América y llegar a la conclusión de que era catalán. Desgrana argumentos para demostrar por qué el almirante ocultó su origen. Como Ulloa considera que el navegante pertenecía a la familia Colom de Barcelona que había luchado contra Juan II, padre de Fernando el Católico, en la guerra de 1462-72, para Merrill este es motivo más que suficiente para que "dejara poquísimas pruebas sobre sus orígenes familiares" si quería emprender su conquista del Nuevo Mundo. Y más argumentos relatados en el libro:

los Reyes Católicos excluyeron a los habitantes no castellanos de los beneficios que generaba el comercio con las Indias.

"Fernando había vivido la rebelión de los catalanes contra el poder de su familia y los consideraba obstinados y maliciosos".

Merrill apunta que Fernando daba por sentado que "si los catalanes sabían que el descubridor de estos territorios era un catalán tendrían grandes tentaciones de rebelarse una vez más".

El almirante se refería a los Reyes Católicos como "mis señores naturales" y Merrill entiende que si hubiera sido genovés, como sostiene la historia oficial, se limitaría a hablar de "mis señores".


También es sabido que puso el nombre de Montserrat a una isla caribeña y que uno de sus hijos, Diego, sentía una profunda devoción por Montserrat.

También desde Estados Unidos, la lingüista Estelle Irizarry, tras analizar diarios y cartas manuscritas del navegante, concluye que Colón era catalanohablante y que aprendió antes el catalán que el castellano.


Para Irizarry una de las claves es la puntuación y el empleo de la vírgula que no se usaba en Castilla pero sí en los territorios de habla catalana de la Corona de Aragón.

sábado, 12 de setembro de 2009

11 de Setembro de 2009

Aos onze dias de Setembro de 2009 regressam a solo pátrio os restos mortais de Jorge de Sena, um filho da Nação que outros filhos da Nação se entretiveram a mortificar e que levou a que Jorge de Sena se exilasse.

Nos dias de hoje , se calhar a situação não teria sido muito diversa, pois não creio que pudesse ser bem visto pela nomenklatura actual. E também creio que ele próprio se sentiria numa situação similar à que infelizmente viveu.

Por estes e outros motivos não se pode deixar de citar aqui, um poema de sua autoria, que foi alvo de publicação no blog De Rerum Natura, do qual com a devida vénia o reproduzimos com todas as referências e citações:

O poema tem por título: A PORTUGAL


Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.

Nem é ditosa, porque o não merece.

Nem minha amada, porque é só madrasta.

Nem pátria minha, porque eu não mereço

A pouca sorte de nascido nela.

.

Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta

quanto esse arroto de passadas glórias.

Amigos meus mais caros tenho nela,

saudosamente nela, mas amigos são

por serem meus amigos, e mais nada.

.

Torpe dejecto de romano império;

babugem de invasões; salsugem porca

de esgoto atlântico; irrisória face

de lama, de cobiça, e de vileza,

de mesquinhez, de fatua ignorância;

terra de escravos, cu pró ar ouvindo

ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;

terra de funcionários e de prostitutas,

devotos todos do milagre, castos

nas horas vagas de doença oculta;

terra de heróis a peso de ouro e sangue,

e santos com balcão de secos e molhados

no fundo da virtude; terra triste

à luz do sol calada, arrebicada, pulha,

cheia de afáveis para os estrangeiros

que deixam moedas e transportam pulgas,

oh pulgas lusitanas, pela Europa;

terra de monumentos em que o povo

assina a merda o seu anonimato;

terra-museu em que se vive ainda,

com porcos pela rua, em casas celtiberas;

terra de poetas tão sentimentais

que o cheiro de um sovaco os põe em transe;

terra de pedras esburgadas, secas

como esses sentimentos de oito séculos

de roubos e patrões, barões ou condes;

ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:

.

eu te pertenço. És cabra, és badalhoca,

és mais que cachorra pelo cio,

és peste e fome e guerra e dor de coração.

Eu te pertenço mas seres minha, não.

.

Araraquara, 6/12/1961,do Capítulo "Tempo de Peregrinatio ad loca infecta" (1959-1969) do livro "40 Anos de Servidão", 2ª edição revista, Círculo de Poesia da Moraes Editores, 1982Jorge de Sena

domingo, 30 de agosto de 2009

A Comunicação Social do Século XXI, os Árabes e o Astrolábio

Todos nós sabemos que a Comunicação Social no Século XXI, na sua ânsia de dar novas ao segundo rege-se por regras muito simplificadoras de forma a não se perder muito tempo em dar a notícia tal a pressão de imediatismo em que se vive.

Se adicionarmos a isto uma pressão economicista que leva a que os meios de Comunicação Social funcionem na regra de quanto mais barato melhor, não podemos esperar grande qualidade do serviço, desempenhado pelos menos aptos e preparados mas que por necessidade se sujeitam a todos os dislates de concorrência economicista.

Acresce a tudo isto o nível de preparação à saída dos estudos superiores destes novos profissionais que deixam muito a desejar não tanto por culpa dos últimos ensinamentos para a profissão mas porque a preparação anterior, a dita de base, é tudo menos suficiente!

No entanto, quando nos referimos a um jornal semanário, em que a maioria dos textos são elaborados com alguma antecedência e que não sofrem propriamente das situações do imediatismo, seria de esperar algum cuidado com algumas afirmações que se fazem ao longo do texto.

E até porque hoje dispõem-se de ferramentas tremendas para rapidamente confirmar determinadas presunções.

Vem tudo isto a propósito de um texto vindo a lume no EXPRESSO, semanário cujos créditos firmados levam o leitor a exigir que textos de comentário ou opinião sejam sérios e não escritos ao sabor do momento.

Comentava o texto uma posição acerca das consequências do cumprimento das regras religiosas, no caso o Ramadão, originavam no desempenho de profissionais do desporto e a partir de certo momento partia para uma defesa super-elogiosa da civilização árabe.

E em determinado momento afirmava a articulista que o Ocidente e os Descobrimentos Portugueses deviam aos árabes a "invenção" ou "descoberta" do ASTROLÁBIO.

Se em alguma coisa somos devedores a essa civilização não é pela invenção ou descoberta do astrolábio mas o facto de a ter transmitido desde a civilização que o inventou até aos homens do final da idade média que tiveram que lidar com o assunto.

É que o tal célebre instrumento, que vai ser desenvolvido para o uso na náutica portuguesa, só por um puro acaso foi inicialmente desenvolvido pela Hipátia (ou Hipácia) de Alexandria (em grego: Υπατία), matemática e filósofa neoplatônica, nascida aproximadamente em 370 e assassinada em 415.

Ou seja estamos a falar da célebre Academia de Alexandria o que é relativamente anterior ao que se viria a chamar civilização árabe.

Era de esperar um pouco mais de rigor aos escribas do EXPRESSO especialmente em textos de comentário ou de opinião que não estão tão condicionados pelo tempo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Do Livro "A Ministra"

Dado o interesse do assunto exposto, com a devida vénia, transcreve-se um texto do jornal Público, publicado no dia 3 de Agosto.

Aos leitores do livro deixa-se a resolução do dilema: Será realidade ? Será ficção ? Ou até onde as coincidências entre a ficção e a não ficção se tornam mais do que meras coincidências ?




CARTAS AO DIRECTOR
- 20090803

A ministra deveria ler o livro A Ministra

A actual ministra da educação,Mª de Lurdes R. Rodrigues, deveria ler o livro ( bem como toda a gente ligada à área da educação, e não só) da autoria de Miguel Real, enviado há pouco tempo para os escaparates das livrarias do país.

Porque nessa obra, e segundo a bitola do autor, é retratada: 1 -"Uma mulher seca, que nunca conheceu o amor, de passado trágico e futuro marcado pelo desejo de auto-afirmação; 2 - Uma mulher de mentalidade despótica, adversa à espiritualidade dos valores, crente de que a única dimensão do bem reside na sua utilidade social; 3 - Uma mulher cuja especialização académica consiste na manipulação de estatísticas, moldando a realidade à medida dos seus interesses; 4 - Uma mulher que usa o trabalho, não como forma de realização, mas como modo de exaltação do poder próprio, criando, não o respeito, mas o medo em redor; 5 - Uma mulher ensimesmada, arrogante (...) que ama a solidão e despreza os homens; 6 - Uma mulher autoritária e severa consigo própria, imune ao princípio da tolerância ; 7 - Uma mulher que ambiciona ser ministra. Sê-lo-á?"Quase que consegue, mas não chega a atingir o desiderato devido a um volte-face imprevisível e inimaginável.

Ao contrário de Lurdes Rodrigues, que chegou a ser ministra (ainda o é por enquanto) e não terá rigorosamente nada a ver com o romance ficcional de Miguel Real, como é óbvio. A verdade seja dita.

Apesar desta irrefragável realidade, no livro de Miguel Real, na página 128, intrigantemente, pode ler-se: "Tenho quatro anos para fazer boa figura, pôr a escola portuguesa na Europa, onde ninguém reprova e todos caminham para um mínimo de cultura geral, mais não é preciso, chega, para o vulgo suburbano basta, a pesquisa na Internet preenche as falhas educativas, gerando uma ilusão de sabedoria para o novo habitante urbano, moldado pelo facilitismo e pela vulgaridade (...), é preciso revolucionar o ensino, dar ao povo o que o povo quer, um nico de cultura, um nico de ciência, umas palavritas de inglês, muita informática, chega, basta, um canalizador ou uma recepcionista de balcão não precisa de mais, é preciso harmonizar o ensino com o povo bárbaro que temos (...) facilitar a vida aos mais novos, empurrando--os para a passagem de ano, todos os anos, criar uma segunda oportunidade aos mais velhos, fazer equivaler a experiência de vida destes aos graus de ensino, basta um dossier com toda a informação, mais uma entrevista, pronto, todo o povo passa a ter o 12.º ano, ficam resolvidos os problemas da formação, acabar com o abandono escolar anulando os programas difíceis, no final dos meus quatro anos as estatísticas na educação têm de ser iguais às da Alemanha (...); a todos farei ver que sem mim o povo não teria o que passará a ter, domínio da informática, conhecimentos de inglês, agilidade mental para se safar na vida, para que precisa o povo de saber os sonetos do Antero ou a prosa do Eça?"...

Depois de se ler isto - e muito mais haveria para mostrar -, onde acaba a ficção e começa a realidade? Duma coisa poderemos estar certos, a senhora que é retratada por Miguel Real nada tem a ver com a talentosa e conspícua ministra da Educação do governo patriótico de Portugal...

António Cândido Miguéis

Lisboa

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O caso edificante do negócio dos contentores

Pelo interesse do assunto e actualidade transcrevemos, com a devida vénia, o artigo de opinião vindo a lume no Público do dia 27 de Julho.

Pela claridade do focado entendemos que se aplica plenamente o provérbio: "A bom entendedor, meia palavra basta!".




Liscont: quando a

explicação menos má é uma

grande dose de

incompetência

Paulo Ferreira - 20090727

A forma como foi prolongada a concessão do terminal de contentores de Alcântara ao grupo Mota-Engil é um autêntico caso de estudo de "como não fazer".

O relatório do Tribunal de Contas (TC) à concessão do terminal de contentores de Alcântara devia ser de leitura obrigatória (está disponível em www.tcontas.pt).

Para os decisores do Estado ele é um verdadeiro manual de "como não fazer". Para os cidadãos ele é uma das mais escandalosas amostras de como se tomam decisões ruinosas para o Estado. Ou se trata de manifesta incompetência ou de um descaramento ilimitado.

Porque não se vê uma terceira via entre a inaptidão e o caso de polícia.

Invocando urgência quando ainda faltam sete anos para o fim da concessão actual, o Ministério das Obras Públicas decidiu alargar o prazo de concessão do terminal por mais 27 anos, ao mesmo tempo que validou um projecto de requalificação para triplicar a capacidade e aumentar a operacionalidade da infra-estrutura.

Repare-se como foi feito.

Primeiro, foi um ajuste directo. Como aquele é um monopólio regional, não houve concorrência entre a Liscont e outros potenciais candidatos. Este mecanismo óbvio para melhorar a posição negocial do Estado foi descartado. O grupo privado ficou, naturalmente, em enorme vantagem.

Depois, o Estado não estudou devidamente o risco de alternativas a este prolongamento da concessão. Uma delas seria a concessão passar para a APL.

Os investimentos previstos para o aumento de capacidade e requalificação somam, a preços correntes, 474,4 milhões de euros. Deste montante, 52 por cento serão encargo ao Estado, entre despesas e isenção de taxas concedida à Liscont.

As previsões de tráfego de contentores que serviram de base ao contrato são muito optimistas, diz o TC olhando para o tráfego do ano passado e estimado para este ano.

Por que é que isto é decisivo? Porque o Estado ficou para si com uma grande parte do risco do negócio. Se, em cada biénio até 2017, o tráfego ficar 20 por cento abaixo dessas previsões, o Estado compensa a Liscont por isso (até 2031 os desvios permitidos sobem até 25 por cento). Pelo contrário, se o tráfego aumentar em relação ao cenário base e o negócio se mostrar melhor do que se previa, o Estado só partilhará essas receitas extra se "se demonstrar que tal eventual excesso não resultou da eficiente gestão e das oportunidades criadas pela concessionária". Seria interessante verificar como é que o mesmo Estado que não fez o fácil e assinou esta galeria de horrores conseguirá, mais tarde, demonstrar o que é quase indemonstrável.

E, entre outras coisas, verificou-se que ao longo do processo negocial foram sendo efectuadas alterações aos parâmetros da concessão. Sem surpresa, todas elas foram no sentido de prejudicar o Estado e beneficiar a Liscont.

A rentabilidade do accionista, que era de 11 por cento no memorando inicial, no contrato final passou para 14 por cento. Fantástico, se tivermos em conta que o risco para a concessionária está, como vimos, extremamente limitado.

Na recta final de negociação (em Outubro de 2008), em apenas uma semana, o cálculo dos rendimentos líquidos para a Liscont saltou de 4,2 para 7,4 milhões de euros.

Não será isto o sonho de qualquer empresa privada?

Por incompetência ou com intenção, o certo é que as coisas foram feitas assim. Se agora, num assomo de sensatez, alguém decidir rasgar estes contratos ruinosos para o Estado, os contribuintes não se livram de ter que pagar chorudas indemnizações à Liscont.

E porque estas coisas têm protagonistas, eles devem ser nomeados.

Do lado do Estado, o principal responsável político por estes contratos está em funções e chama-se Mário Lino. A Liscont é do grupo Mota-Engil, que há mais de um ano tem como gestor principal Jorge Coelho. Antes disso, o ex-dirigente e ministro socialista já era consultor do grupo.

Mas até nos processos mais duvidosos se encontram protagonistas dignos.

Neste, é Mariana Abrantes, controladora financeira do Ministério das Obras Públicas à data da auditoria do TC, que nas respostas que dá a esta entidade aponta ela própria a generalidade dos grandes problemas deste negócio para o Estado.

Das duas uma: ou não foi ouvida durante as negociações, o que é no mínimo estranho dadas as suas funções; ou os seus alertas não foram considerados. Vá-se lá saber porquê.

domingo, 26 de julho de 2009

Dia 26 de Julho

Embora sendo um dia igual a muitos outros deste mês de Julho, normalmente quente como costumam ser os meses de Verão, este dia tem a característica de ser considerado o Dia dos Avós.

Singularmente o comércio parece não ter grande apreço com o dia se o compararmos com o Dia dos Namorados, o Dia do Pai ou o dia da Mãe. Enquanto estes últimos são agressivamente lembrados na tentativa de que alguém compre algo para o respectivo, já no Dia dos Avós a máquina publicitária/comercial não actua, permanecendo estranhamente muda e queda.

Provavelmente o mercado será mais escasso e a capacidade de mobilização de compras para a geração mais afastada seja bem menor.

Este dia foi escolhido para ser o Dia dos Avós pelo facto de os oragos serem respectivamente S. Joaquim e Santa Ana que eram os avós de Jesus Cristo.

Também já nessa época pouco se referenciavam os Avós se tivermos em conta o que as Escrituras mencionam acerca destas duas personagens da vida de Jesus Cristo.

Portanto, não podemos criticar a posição de hoje do comércio ao dar um relevo relativo ao dia.

Como se costuma dizer: Já vem de trás quem nos empurra!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Dia 22 de Julho de 2009

Este dia podia não ficar marcado por nada de especial, tal como muitos dias deste ano, a não ser por ter como orago do dia Santa Maria Madalena.

Já pelo facto de ter este orago começa a ser um dia diferente, pois estamos a falar nada mais nada menos da esposa de Jesus Cristo. Que por acaso também foi mãe, de Sara, que por ser mulher não podia ser o início de algo que apenas os homens achavam que podiam controlar.

Na realidade, este ramo do cristianismo não vai vingar mas temos a N. S. Negra, por o termo na época igualmente identificar a origem egípcia.

Mas o dia de hoje afinal vai também ficar bem célebre!

E também por ser um dia negro, ou melhor dizendo, escuro.

É que no dia de hoje aconteceu um dos muitos eclipses que regularmente envolvem a Terra, a Lua e o Sol.

Até aqui nada de especial a não ser que o eclipse em questão é o do Sol, provocado pela passagem da Lua entre a Terra e o Sol, originando em certos locais da Terra a situação de o Sol que está iluminando a superfície terrestre nessa região ser obscurecido pela interposição da Lua o que origina uma redução da luminosidade da parte diurna do dia, que será relativamente pouca se o mesmo sucede de forma parcial, mas uma perda total da luminosidade nas zonas em que é total, isto é, a Lua durante algum tempo interpõe-se em relação ao Sol de tal forma, que impede a iluminação solar por completo, havendo assim um curto período de noite.

Ora bem, o eclipse total do Sol que se verificou hoje e que era visível nas regiões do Norte da Índia, do centro da China, e no Pacífico Oeste, tinha dois aspectos importantes:

a) Em certas regiões da China, o período de eclipse total durava cerca de seis minutos e quarenta segundos aproximadamente, o que o torna um dos eclipses de maior duração deste período no século XXI;

b) O próximo eclipse de condições similares só voltará a acontecer no ano 2132 no século XXII.

Até lá teremos que nos contentar com outros de duração bem menor.

domingo, 5 de julho de 2009

Matemática: Primos

Pelo interesse que estas pequenas lições de matemática têm, transcreve-se, com a devida vénia, o artigo de Nuno Crato, dado à estampa no jornal "EXPRESSO":



Primos misteriosos

Nuno Crato
9:00 Domingo, 5 de Jul de 2009

Conhecemo-los da escola: dizem-se primos os números inteiros maiores que a unidade e que apenas são divisíveis por si próprios e por 1 - 2, 3, 5 e 7 são primos, enquanto 4, 6 e 8 não o são. Dizem-se primos, não por nenhum parentesco especial mas sim por serem primordiais, por serem os tijolos a partir dos quais se constroem todos os outros números. O teorema fundamental da aritmética diz precisamente que todos os inteiros são decomponíveis de maneira única, aparte a ordem, no produto de primos. O número 12, por exemplo, é o resultado do produto de 2 por 2 e por 3, e não há nenhuma outra colecção de primos capaz de o obter.

Sendo tão elementares que recebem esse curioso nome, pensar-se-ia que os números primos são triviais para os matemáticos, e que estes andariam à procura de segredos em matérias mais complexas. Na realidade, os primos têm-nos intrigado durante séculos e continuam a ser objecto de investigação.

Três séculos antes de Cristo já se sabia da existência de um número infinito de primos. Euclides apresentou nos seus "Elementos" uma demonstração simples e brilhante. Em três linhas mostra que, qualquer que seja a lista de primos que se obtenha, é sempre possível construir um outro: basta fazer o produto de todos os números da lista e somar-lhe 1 - o número que resulta é primo e não estava na lista inicial.

Sabe-se pois que há um número infinito de primos, mas, curiosamente, não se lhes conhece nenhuma fórmula geradora. Distribuem-se aleatoriamente entre os números inteiros, mas fazem-no de forma muito regular. À medida que progredimos na contagem, a sua percentagem entre os inteiros reduz-se de acordo com uma lei simples. Quando procuramos perto do número dez mil, por exemplo, aproximadamente um em cada nove números é primo. Mas quando estamos perto mil milhões, apenas um em cada 21 números o é.

O estudo estatístico dos primos tem-se desenvolvido nas últimas décadas, mercê de meios computacionais cada vez mais eficientes. Sabe-se, por exemplo, que os primeiros dígitos significativos dos primos se distribuem uniformemente. Assim, há aproximadamente tantos primos começados com o dígito 1, como começados com o dígito 2, como 3, e assim sucessivamente até se chegar a 9 (o dígito zero nunca pode ser primeiro significativo).

Há poucos dias, dois matemáticos espanhóis acabaram de descobrir outro facto surpreendente. Se é verdade que os primeiros dígitos significativos dos primos têm todos igual probabilidade, o mesmo não se passa para sequências finitas. Se pegarmos nos primeiros mil primos, por exemplo, encontramos 149 começando com o dígito 1 e apenas 15 começando com o 9. É uma distribuição semelhante à da chamada lei de Benford, que tem sido encontrada em muitos exemplos reais, tais como a contabilidade de empresas, os números de porta de rua e os índices de preços.

Os matemáticos Bartolo Luque e Lucas Lacasa, da Universidade Politécnica de Madrid, num artigo publicado na revista "Proceedings of the Royal Society A" (DOI: 10.1098/rspa.2009.0126), mostram que uma lei de Benford generalizada, que se aproxima da uniforme à medida que o número de casos aumenta, se ajusta bastante bem aos primos conhecidos. É uma lei descoberta por físicos, no decorrer do estudo de processos naturais aleatórios. Reaparece agora no estudo de um tema de matemática pura. O grande mistério do mundo é o da unidade da matemática.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Quem chegou primeiro ?

Mais uma porta aberta nas investigações históricas em que cada vez mais chegamos à conclusão que os cânones clássicos, habitualmente anglo-saxónicos, não são tão correctos como parecem.

Tudo aponta a que se tenha criado uma "escola de super-civilizadores", que gozaram sem dúvida de uma boa máquina publicitária-divulgadora, que na realidade muito pouco têm de pioneiros ou melhor dizendo, de terem sido os primeiros a cortar a meta.

É que nos dias de hoje ainda há quem defenda a teoria de que só no século XVI se conseguiu começar a explorar o planeta em que vivemos, sendo que antes ninguém saía dos locais onde viviam, não viajavam, não procurava oportunidades.

Transcreve-se uma notícia vinda a lume no jornal La Voz de Galicia:



investigación

¿Fueron los gallegos los primeros en llegar a Nueva Zelanda?

Un investigador de las antípodas busca conexiones en A Coruña para esa teoría
Autor:
Francisco Espiñeira


Fecha de publicación:

1/7/2009

Una pequeña ciudad de la costa noroeste de la isla norte de Nueva Zelanda llamada Aranga podría tener la llave que explicara que los gallegos fueron los primeros en llegar a las antípodas y no los holandeses de Abel Tasman, como indican los libros de historia. Bajo esa teoría, una organización del país de los maoríes, bautizada con el nombre de Underwater Heritage, trata de encontrar los vínculos que justifiquen esa hipótesis.

Uno de los investigadores, Winston Cowie, pasó junto con su colaborador Angus Fraser una semana en España intentando «reunir y dar sentido a las piezas de este rompecabezas» en colaboración con el español Juan Piñeiro, de la localidad de Mabegondo, uno de los miembros más activos de Underwater Heritage. «Yo soy de la Aranga de Nueva Zelanda y hace años que investigamos la relación de dos barcos hundidos cerca de la costa donde vivo yo (Dargaville), que podrían ser dos fragatas inglesas o españolas», cuenta Winston Cowie.

Una de esas embarcaciones, una carabela, podría ser, a falta de confirmación definitiva, el San Lesmes , un buque cuya última singladura partió de A Coruña, tras casarse su capitán en la iglesia de San Jorge, en el año 1527. «Tasman llegó en 1624 y Cook fue el primer europeo que se asentó en Nueva Zelanda, al menos de forma documentada, en su expedición de 1769. Sin embargo, cuando él llegó allí ya se encontró a algún aborigen pelirrojo, que, evidentemente, debería tener una procedencia europea», insiste Cowie.

Otro nombre de la geografía gallega que también tiene eco en el otro lado del mundo es el de Tui, que en Nueva Zelanda es como se conoce en lengua maorí a un pájaro de la especie Prosthemadera novaeseelandiae . El pasado martes, la expedición neozelandesa se desplazó a la localidad fronteriza con Portugal para buscar más conexiones, aunque sin demasiado éxito.

En esa línea de trabajo de probar la existencia de nuevos nexos de relación de la isla norte con Europa, Underwater Heritage ha ido reuniendo en los últimos años diferentes pruebas que podrían avalar la teoría de que los gallegos fueron los primeros en llegar a Nueva Zelanda. Ahora, buscan el respaldo institucional para conseguir los fondos para demostrar esa tesis. Y ahí entra en juego de nuevo A Coruña. El árbol más antiguo de la ciudad es un metrosidero, que es el típico de Nueva Zelanda, también conocido como el christmas tree por su singular ramaje. Según la tradición, esa especie llegó a bordo de un barco mercante que transportaba jabón entre el Pacífico y la vieja Europa. Fue plantado hará más de dos siglos, aunque Cowie espera que las pruebas recabadas estos días en Galicia sirvan para conseguir la financiación suficiente del Gobierno de su país para organizar una expedición científica más amplia. «Nosotros hemos hecho una medición aproximada para datar el árbol, pero en nuestro país hay personas especializadas en este tipo de trabajos, un dendrocronólogo, que podría hacer una medición más exacta, porque podría ser la llave para alterar la fecha del descubrimiento de Nueva Zelanda», añade Winston Cowie.

El investigador regresa hoy mismo a Qatar, donde se encuentra su centro de trabajo, pero no descarta nuevas expediciones a Galicia para ampliar los datos recabados. «¿Tú sabes lo que significa Aranga?», pregunta a modo de despedida sin encontrar respuesta.

sábado, 20 de junho de 2009

18 de Junho de 2009

Pois foi, Mário!

Tal como pediste lá fizemos a nossa caminhada nessa manhã calmosa que um ligeiro tapete de nuvens altas amenizava dos ardores do Sol. Como de costume, fizemos a nossa caminhada a pé, calcorreando ruas e vielas.

Habitualmente, é mais nosso costume fazê-lo ao final do dia, já no pôr do sol calmoso, ou no início da noite, que no Verão nos convida a tomar o fresco junto das margens do rio.

E lá fomos calcorreando, encontrando gente das tuas lides, que contigo partilharam momentos difíceis ou trabalhosos, com alguns reconhecendo o teu apoio nesses momentos de camaradagem. Também encontrámos outros, que da mesma classe apenas se asseguravam da tua ainda presença.

Com excepção de um encontro com um camarada que bem poderia ter-se olvidado de surgir, para não misturar na memória momentos indignos da classe que não te afectam directamente mas que sentes que não são dignos do escol a que pertences, assim os fomos encontrando.

Mas, mais do que isso, em todas as ruas cruzámos com representantes do Povo, que de uma forma ou de outra te conhece e contigo convive, sem empenhos de qualquer espécie, apenas porque tanto tu como eu a ele pertencemos e com isso nos sentimos honrados.

Todos foram passando por nós, cruzando saudações, trocando breves palavras, cada um tocando o seu dia a dia, mas felizes por saberem que nós também vamos andando. Aqui, se há alguma inveja ou ciúme, será apenas porque gostariam de ter tido uma oportunidade similar que a vida lhes negou. De qualquer forma isso não importa, o que importa é o convívio da comunidade, e esse temos todos os dias porque a ela pertencemos e não a negamos.

Até amanhã, Escórcio!

sábado, 13 de junho de 2009

Opiniões Abalisadas ou talvez não tanto?

Recentemente li na revista "Tempo Livre" da recém criada Fundação Inatel, já vão longe os tempos da FNAT, um conselho de um advogado a uma questão exposta por um associado da dita Fundação.

A questão posta pelo associado resumia-se a que:

a) O condónimo do prédio onde vive pretendia montar no telhado do edifício "painéis solares";

b) O associado dizia que tudo estava em ordem e que ele próprio estava satisfeito com a energia fornecida pela EDP;

c) Perante a situação de o associado ser a única voz discordante e como tal saindo vencedora a proposta dos "painéis solares", se o mesmo seria obrigado a contribuir para as despesas respectivas ?

O douto causídico começa por considerar que:

a) Os "painéis solares" se enquadram nas obras voluptuárias uma vez que estas obras não se enquadram nas que são imprescindíveis para a manutenção ou conservação das partes comuns, nem aumentam o valor do imóvel. Apenas servem para um maior bem-estar e satisfação dos condónimos;
b) Quanto à vinculação do associado às despesas cita o artigo 1426º do Código Civil, onde desde que o voto do associado tenha sido contrário conforme acta da assembleia de condónimos que aprovou as ditas obras e prova em tribunal de que as despesas em questão são de natureza voluptuária;
c) Fornece como exemplos deste tipo de natureza voluptuária, a construção de piscinas, a instalação de um "parque de recreio" para as crianças, ou a colocação de ladrilhos ou azulejos artísticos.

Depois de tantas tentativas que existem para incentivar a montagem e o uso de painéis solares, quer sejam térmicos, quer sejam foto-voltaicos, numa tentativa de aliviar a factura da energia, eis que temos um ilustre homem de leis que nos vem dizer que a montagem de painéis solares é uma despesa de natureza voluptuária!

É evidente que a questão colocada está incompleta, pois quem a coloca não menciona porque motivo aparece uma proposta dessas no condónimo.

Teria sido interessante saber quais os motivos que levariam a administração em querer propor a citada montagem.

Será que com os painéis existiria a possibilidade de parte da energia necessária para as partes comuns ser obtida desse modo ?

Desta forma o condónimo teria uma oportunidade de diminuir as suas despesas na factura da EDP.

Até poderia suceder que em determinadas ocasiões fosse até excedentária efectuando a sua venda à EDP.

Nesta situação, em que a administração obtém uma melhor gestão das despesas, será que a montagem dos ditos painéis também é uma despesa de natureza voluptuária ?

E se a tal diminuição de despesas do condónimo se reflectir numa redução das contribuições dos moradores, o tal morador que não quis contribuir para a despesa de natureza voluptuária também é abrangido por essa redução ?

Para o douto causídico estas questões agora assinaladas já fazem parte de outra consulta, com os respectivos honorários.

Finalmente registe-se a existência de um cidadão neste País que está satisfeito com a EDP.

Deve ser caso único, pois a maioria para não dizer a totalidade dos restantes cidadãos, não só não estão satisfeitos com a prestação de serviços da EDP como não estão satisfeitos com as taxas que à laia de custo de serviço são obrigados a contribuir.

Como se pode estar satisfeito com uma empresa que cobra o que cobra e depois usa esse dinheiro, faustosamente em campanhas publicitárias na TV, difundindo de má fé, mensagens falsas.

A propósito, aonde estão agora, os movimentos ecologistas ?

Ou será que convém fazer vista grossa ?

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Os efeitos duráveis dos bons exemplos

Transcreve-se, com a devida vénia, o artigo de opinião de José Manuel Fernandes, dado à estampa no Público de 11 de Junho:



Um notável discurso de António Barreto, certeiro no seu retrato do país, sobretudo penetrante na mensagem que deixou, como exigência a todos, sobretudos às nossas elites - o da importância dos bons exemplos - abriu caminho a um Presidente da República que, antes de pedir esperança, exigiu a todos um esforço para colocar Portugal no "rumo certo"

Há 22 anos, na Guarda, no primeiro 10 de Junho celebrado por um Presidente da República eleito democraticamente, Jorge de Sena fez um dos discursos mais marcantes da história destas cerimónias. Fê-lo para, como disse, "dar a Portugal um Camões autêntico e inteiramente diferente do que tinham feito dele: um Camões profundo, um Camões dramático e dividido, um Camões subversivo e revolucionário, em tudo um homem do nosso tempo", um Camões que poderia viver "as angústias e as dúvidas do homem moderno que não obedece a nada nem a ninguém senão à sua própria consciência".

Ontem, num discurso que por certo também ficará na lista dos mais notáveis realizados numa cerimónia do 10 de Junho, António Barreto recordou o Camões que Jorge de Sena nos reapresentou em "palavras que ecoam" e acrescentou que "os nossos maiores heróis, com Camões à cabeça, ilustraram-se pela liberdade e pelo espírito insubmisso. Pela aventura e pelo esforço empreendedor. Pela sua humanidade e, algumas vezes, pela tolerância". Só que, "infelizmente, foram tantas vezes utilizados com o exacto sentido oposto: obedientes ou símbolos de uma superioridade obscena".

Citando depois Orlando Ribeiro, que viu na capacidade de resistir a base da "persistência da nacionalidade", Barreto partiu para um retrato cru mas certeiro do Portugal que somos - um Portugal que Jorge de Sena, falecido em 1978, nunca chegou a ver, e que se muito evoluiu nestes últimos 30 anos também muito desiludiu. "Todo o mundo é composto de mudança", escreveu Camões, e por isso as muitas transformações por que Portugal passou não devem impedir--nos de ver "o que ainda precisa de mudança", nas palavras de Barreto. "O que não foi possível fazer progredir. E a mudança que correu mal."

Mas mais do que repetir os exemplos citados por António Barreto (que foi capaz, por exemplo, de criticar o estado da Justiça falando a poucos metros de um presidente do Supremo Tribunal de Justiça visivelmente incomodado), o que é mais importante reter da sua mensagem é que devemos usar os nossos heróis como exemplos, "porque o exemplo tem efeitos mais duráveis do que qualquer ensino voluntarista".

Não precisamos de lições de moral, precisamos de bons exemplos. Exemplos de eficácia, pontualidade, civilidade nos costumes, respeito pelos outros e pela liberdade. Ganha a justiça se o mérito for recompensado e o favoritismo punido, dando o exemplo os maiores e os melhores, isto é, os nossos dirigentes, os nossos afortunados, os que têm responsabilidades, os que têm poder. Mais: "Não vale a pena dar 'sinais de esperança' ou 'mensagens de confiança'. Quem assim age tem apenas a fórmula e a retórica. Dê-se o exemplo de um poder firme, mas flexível, e a democracia melhorará. Dê-se o exemplo de honestidade e verdade, e a corrupção diminuirá. Dê-se o exemplo de tratamento humano e justo e a crispação reduzir-se-á".

Enfie o barrete quem sentir que ele lhe serve, mas aquelas palavras mereciam ser afixadas por todo o lado, pois em todo o lado se esquece a importância dos bons exemplos, dos comportamentos rectos, o lugar central que tem numa sociedade aberta e numa democracia a noção de que a confiança que só se conquista e se torna mobilizadora se os melhores exemplos vierem de cima.

O Presidente da República foi igualmente assertivo na sua intervenção, por natureza mais institucional, e por isso lembrou o que já dissera noutras ocasiões: "A verdade gera confiança, a ilusão é fonte de descrença". Mas acrescentou: "Tanto no Estado como na sociedade civil é preciso adoptar uma cultura de transparência e de prestação de contas". E que falta isso nos faz se o país não se limitar a "tentar sobreviver".

Só que isso exige "ter uma visão estratégica de médio e longo prazo, uma visão alheia a calendários imediatos, que poderiam comprometer o futuro e tornar inúteis os sacrifícios que a hora exige". Até porque "a credibilidade dos agentes políticos é tanto mais necessária quanto a situação económica e financeira actual representa um desafio, sem precedentes nas últimas décadas, à qualidade das instituições democráticas, à competência e visão de futuro dos decisores, e ao empenhamento responsável e solidário de cada um dos cidadãos". Até porque necessitamos de políticos, de dirigentes, de poderosos, capazes de saber "colocar o país no rumo certo, introduzir as mudanças necessárias, reajustar os comportamentos e expectativas individuais, apostar no que é, de facto, essencial para o aumento da nossa capacidade competitiva".

Destas tarefas ninguém, nem o mais humilde cidadão, pode alhear-se, sob pena de não encontrarmos a resposta correcta às perguntas formuladas num poema de Jorge de Sena que, em 2006, Cavaco Silva escolheu para encerrar o discurso do seu primeiro Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades:

"Que Portugal se espera em Portugal?/Que gente há-de ainda erguer-se desta gente?"

Só todos nós podemos responder.

Palavras de António Barreto no Dia de Camões em Santarém

Transcreve-se do Público o texto do discurso de António Barreto na cerimónia do dia 10 de Junho de 2009, que decorreu em Santarém, dado o interesse que as suas palavras despertam no momento actual.




Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades
Santarém, 10 de Junho de 2009
António Barreto

Senhor Presidente da República,
Senhor Presidente da Assembleia da República, Senhor Primeiro-ministro,
Senhores Embaixadores,
Senhor Presidente da Câmara de Santarém,
Senhoras e Senhores,

Dia de Portugal... É dia de congratulação. Pode ser dia de lustro e lugares comuns. Mas também pode ser dia de simplicidade plebeia e de lucidez.

Várias vezes este dia mudou de nome. Já foi de Camões, por onde começou. Já foi de Portugal, da Raça ou das Comunidades. Agora, é de Portugal, de Camões e das Comunidades. Com ou sem tolerância, com ou sem intenção política específica, é sempre o mesmo que se festeja: os Portugueses. Onde quer que vivam.

Há mais de cem anos que se celebra Camões e Portugal. Com tonalidades diferentes, com ideias diversas de acordo com o espírito do tempo. O que se comemora é sempre o país e o seu povo. Por isso o Dia de Portugal é também sempre objecto de críticas. Iguais, no essencial, às expressas por Eça de Queirós, aquando do primeiro dia de Camões. Ele afirmava que os portugueses, mais do que colchas às varandas, precisavam de cultura.

Estranho dia este! Já foi uma "manobra republicana", como lhe chamou Jorge de Sena. Já foi "exaltação da raça", como o designaram no passado. Já foi de Camões, utilizado para louvar imperialismos que não eram os dele. Já foi das Comunidades, para seduzir os nossos emigrantes, cujas remessas nos faziam falta. E apenas de Portugal.

Os Estados gostam de comemorar e de se comemorar. Nem sempre sabem associar os povos a tal gesto. Por vezes, quando o fazem, é de modo desajeitado. "As festas decretadas, impostas por lei, nunca se tornam populares", disse também Eça de Queirós. Tinha razão. Mas devo dizer que temos a felicidade única de aliar a festa nacional a Camões. Um poeta, em vez de uma data bélica. Um poeta que nos deu a voz. Que é a nossa voz. Ou, como disse Eduardo Lourenço, um povo que se
julga Camões. Que é Camões. Verdade é que os povos também prezam a comemoração, se nela não virem armadilha ou manipulação.

Comemora-se para criar ou reforçar a unidade. Para afirmar a continuidade. Para reinterpretar o passado. Para utilizar a História a favor do presente. Para invocar um herói que nos dê coesão. Para renovar a legitimidade histórica. São, podem ser, objectivos decentes. Se soubermos resistir à tentação de nos apropriarmos do passado e dos heróis, a fim de desculpar as deficiências contemporâneas.


Não é possível passar este dia sem olharmos para nós. Mas podemos fazê-lo com consciência. E simplicidade.

Garantimos com altivez que Camões é o grande escritor da língua portuguesa e um dos maiores poetas do mundo, mas talvez fosse preferível estudá-lo, dá-lo a conhecer e garantir a sua perenidade.

Afirmamos, com brio, que os portugueses navegadores descobriram os caminhos do mundo nos séculos XV e XVI e que os portugueses emigrantes os percorreram desde então. Mais vale afirmá-lo com o sentido do dever de contribuir para a solidez desta comunidade.

Dizemos, com orgulho, que o Português é uma das seis grandes línguas do mundo. Mas deveríamos talvez dizê-lo com a responsabilidade que tal facto nos confere.

Quando se escolhe um português que nos representa, que nos resume, escolhe-se um herói. Ele é Camões. Podemos festejá-lo com narcisismo. Mas também com a decência de quem nele procura o melhor.

Os nossos maiores heróis, com Camões à cabeça, ilustraram-se pela liberdade e pelo espírito insubmisso. Pela aventura e pelo esforço empreendedor. Pela sua humanidade e, algumas vezes, pela tolerância. Infelizmente, foram tantas vezes utilizados com o exacto sentido oposto: obedientes ou símbolos de uma superioridade obscena.

Ainda hoje soubemos prestar homenagem a Salgueiro Maia. Nele, festejámos a liberdade, mas também aquele homem. Que esta homenagem não se substitua, ritualmente, ao nosso dever de cuidar da democracia.

As comemorações nacionais têm a frequente tentação de sublinhar ou inventar o excepcional. O carácter único de um povo. A sua glória. Mas todos sentimos, hoje, os limites dessa receita nacionalista. Na verdade, comemorar Portugal e festejar os Portugueses pode ser acto de lucidez e consciência. No nosso passado, personificado em Camões, o que mais impressiona é a desproporção entre o povo e os feitos, entre a dimensão e a obra. Assim como esta extraordinária capacidade de resistir, base da "persistência da nacionalidade", como disse Orlando Ribeiro. Mas que isso não
apague ou esbata o resto. Festejar Camões não é partilhar o sentido épico que ele soube dar à sua obra maior, mas é perceber o homem, a sua liberdade e a sua criatividade. Como também é perceber o que fizemos de bem e o que fizemos de mal. Descobrimos mundos, mas fizemos a guerra, por vezes injusta. Civilizámos, mas também colonizámos sem humanidade. Soubemos encontrar a liberdade, mas perdemos anos com guerras e ditaduras.

Fizemos a democracia, mas não somos capazes de organizar a justiça. Alargámos a educação, mas ainda não soubemos dar uma boa instrução. Fizemos bem e mal. Soubemos abandonar a mitologia absurda do país excepcional, único, a fim de nos transformarmos num país como os outros. Mas que é o nosso. Por isso, temos de nos ocupar dele. Para que não sejam outros a fazê-lo.

Há mais de trinta anos, neste dia, Jorge de Sena deixou palavras que ecoam. Trouxe-nos um Camões humano, sabedor, contraditório, irreverente, subversivo mesmo.

Desde então, muito mudou. O regime democrático consolidou-se. Recheado de defeitos, é certo. Ainda a viver com muita crispação, com certeza. Mas com regras de vida em liberdade.

Evoluiu a situação das mulheres, a sua presença na sociedade. Invisíveis durante tanto tempo, submissas ainda há pouco, as mulheres já fizeram um país diferente.

Mudou até a constituição do povo. A sociedade plural em que vivemos hoje, com vários deuses e credos, com dois sexos iguais, com diversas línguas e muitos costumes, com os partidos e as associações que se queira, seria irreconhecível aos nossos próximos antepassados.

A sociedade e o país abriram-se ao mundo. No emprego, no comércio, no estudo, nas viagens, nas relações individuais e até no casamento, a sociedade aberta é uma novidade recente.

A pertença à União Europeia, timidamente desejada há três décadas, nem sequer por todos, é um facto consumado.

A estes trinta anos pertence também o Estado de protecção social, com especial relevo para o Serviço Nacional de Saúde, a segurança social universal e a escolarização da população jovem. É certamente uma das realizações maiores.

Estas transformações são motivo de regozijo. Mas este não deve iludir o que ainda precisa de mudança. O que não foi possível fazer progredir. E a mudança que correu mal.

A Sociedade e o Estado são ainda excessivamente centralizados. As desigualdades sociais persistem para além do aceitável. A injustiça é perene. A falta de justiça também. 0 favor ainda vence vezes de mais o mérito. O endividamento de todos, país, Estado, empresas e famílias é excessivo e hipoteca a próxima geração. A nossa pertença à União Europeia não é claramente discutida e não provoca um
pensamento sério sobre o nosso futuro como nacionalidade independente.

Há poucos dias, a eleição europeia confirmou situações e diagnósticos conhecidos. A elevadíssima abstenção mostrou uma vez mais a permanente crise de legitimidade e de representatividade das instituições europeias. A cidadania europeia é uma noção vaga e incerta. É um conceito inventado por políticos e juristas, não é uma realidade vivida e percebida pelos povos. É um pretexto de Estado, não um sentimento dos povos. A pertença à Europa é, para os cidadãos, uma metafísica sem tradição cultural, espiritual ou política. Os Estados e os povos europeus deveriam pensar de novo,
uma, duas, três vezes, antes de prosseguir caminhos sem saída ou falsos percursos que terminam mal. E nós fazemos parte desse número de Estados e povos que têm a obrigação de pensar melhor o seu futuro, o futuro dos Portugueses que vêm a seguir.

É a pensar nessas gerações que devemos aproveitar uma comemoração e um herói para melhor ligar o passado com o futuro.

Não usemos os nossos heróis para nos desculpar. Usemo-los como exemplos. Porque o exemplo tem efeitos mais duráveis do que qualquer ensino voluntarista.

Pela justiça e pela tolerância, os portugueses precisam mais de exemplo do que de lições morais.

Pela honestidade e contra a corrupção, os portugueses necessitam de exemplo, bem mais do que de sermões.

Pela eficácia, pela pontualidade, pelo atendimento público e pela civilidade dos costumes, os portugueses serão mais sensíveis ao exemplo do que à ameaça ou ao desprezo.

Pela liberdade e pelo respeito devido aos outros, os portugueses aprenderão mais com o exemplo do que com declarações solenes.

Contra a decadência moral e cívica, os portugueses terão mais a ganhar com o exemplo do que com discursos pomposos.

Pela recompensa ao mérito e a punição do favoritismo, os portugueses seguirão o exemplo com mais elevado sentido de justiça.

Mais do que tudo, os portugueses precisam de exemplo. Exemplo dos seus maiores e dos seus melhores. O exemplo dos seus heróis, mas também dos seus dirigentes. Dos afortunados, cujas responsabilidades deveriam ultrapassar os limites da sua fortuna. Dos sabedores, cuja primeira preocupação deveria ser a de divulgar o seu saber. Dos poderosos, que deveriam olhar mais para quem lhes deu o poder. Dos que têm mais responsabilidades, cujo "ethos" deveria ser o de servir.

Dê-se o exemplo e esse gesto será fértil! Não vale a pena, para usar uma frase feita, dar "sinais de esperança" ou "mensagens de confiança". Quem assim age, tem apenas a fórmula e a retórica. Dê-se o exemplo de um poder firme, mas flexível, e a democracia melhorará. Dê-se o exemplo de honestidade e verdade, e a corrupção diminuirá. Dê-se o exemplo de tratamento humano e justo e a crispação reduzir-se-á. Dê-se o exemplo de trabalho, de poupança e de investimento e a economia sentirá os seus efeitos.
Políticos, empresários, sindicalistas e funcionários: tenham consciência de que, em tempos de excesso de informação e de propaganda, as vossas palavras são cada vez mais vazias e inúteis e de que o vosso exemplo é cada vez mais decisivo. Se tiverem consideração por quem trabalha, poderão melhor atravessar as crises. Se forem verdadeiros, serão respeitados, mesmo em tempos difíceis.

Em momentos de crise económica, de abaixamento dos critérios morais no exercício de funções empresariais ou políticas, o bom exemplo pode ser a chave, não para as soluções milagrosas, mas para o esforço de recuperação do país.

Frases Exemplares ou serão evidentes ?

No nosso dia a dia cruzamos com ditos e frases que são umas autênticas pérolas!

Umas talvez pretendam mostrar alguma poesia para o contexto em que a mesma é usada.

Nem todas se parecem com as frases de Monsieur de La Palice, célebres pelo seu contexto confirmativo.

Há dias pesquei esta num rodapé de um programa televisivo, onde eram editadas mensagens de telemóvel:

És o Sol das minhas Noites!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O País das Quintas

Existe um país, de muita fama e de progresso sinuoso, situado naquilo que se costuma apelidar de Mundo Ocidental, que quando da sua génese foi o resultado de Quintas.

Durante todo o seu secular percurso, e já vai por nove séculos, caminhando para o milénio, sempre viveu acompanhado deste síndroma.

O seu aparecimento, em plena época medieval, resulta de uma questão de quintas ou senhorios como na época se apelidavam.

Nessa época, basicamente a sociedade estava estratificada em três grandes grupos, a nobreza, o clero e a gleba. A nobreza vivia dos ideais de cavalaria, uma forma interessante de obter o necessário por ameaça da espada. O clero organizava-se de forma também interessante pois difundia a sua fé combatendo. A gleba tinha que trabalhar a terra e servir os senhores, que no caso eram os que se apelidavam de donos da terra fossem eles da nobreza ou do clero, mas que não trabalhavam a terra. Não era esse o seu estatuto.

A construção da pirâmide medieval, de uma forma resumida, é constituída pelos senhorios, que se juntam para uma interdefesa com o conjunto das suas forças, em relações horizontais de vizinhança, ou verticais de vassalagem, onde o menos potente ajuda e participa para o poder do mais potente obtendo em troca a garantia de protecção do mais potente e ajuda no caso de ser atacado por terceiros.

Portanto cada senhorio, face às suas capacidades próprias arranja o seu bando para a guerra e saque e cria ligações com outros para os mesmos fins e com direitos a percentagens dos saques.

Este sistema de pirâmide tem apenas um ponto que pode ser a sua fraqueza. É que sempre que o mais potente não satisfaça os anseios dos menores que o ajudam, corre o risco de ver o sistema desmoronar-se, uma vez que os senhorios menores irão tentar arranjar uma outra pirâmide que lhes seja mais vantajosa.

De uma forma simples e sem carácter de rigor científico mas factual é o que sucede na formação do país em questão.

Quando na pirâmide estabelecida no condado uma das partes dos senhorios, por acaso para norte do Rio Minho, começa a ser mais favorecida pelo topo da pirâmide, claro que a outra parte irá desagregar-se e criar a sua própria pirâmide.

Imaginem que essa outra parte de senhorios se situava a sul do Rio Minho até ao limite com a Mourama mais ou menos pelas margens do Mondego como zona raiana.

O resto da história são pormenores, alguns de saborosa literatura outros de crónica cor de rosa, que também já havia na altura (Será que o filho vai bater na mãe ?).

Em toda a sua vida jamais esse país deixou de sofrer desse síndroma.

Até nos dias de hoje, como iremos ver.

domingo, 24 de maio de 2009

Portugal, Einstein e a Teoria da Relatividade

Com a devida vénia, transcreve-se dado o seu interesse o artigo de Nuno Crato, dado à estampa no jornal EXPRESSO, de 23 de Maio de 2009:


Há 90 anos, na ilha do Príncipe


Nuno Crato

Em 1919, a teoria da relatividade de Einstein, formulada em 1905 na sua versão restrita e em 1916 na sua forma geral, era já famosa entre os investigadores, mas era ainda desconhecida do público e ainda muito pouco referida nas universidades. Era então, em grande parte, uma formulação matemática que explicava fenómenos paradoxais sobre o comportamento da luz, mas que não tinha sido objecto de nenhum teste decisivo.

A ocasião surgiu em 1919, com um eclipse total que permitiria registar a luz das estrelas passando perto do Sol. Nesse alinhamento, as estrelas tornam-se invisíveis para nós, pois o muito maior brilho do Sol esconde-as.

Mas durante um eclipse total passam a ser visíveis, pois a Lua esconde completamente a nossa estrela. Fotografando as estrelas no limbo do Sol, pensaram os cientistas, seria possível medir o seu deslocamento aparente. Esse deslocamento seria devido à deflexão da luz na passagem por perto de um objecto de grande massa: o Sol. Ora a teoria de Newton previa um afastamento diferente do previsto pela teoria de Einstein. Era altura de pôr à prova a teoria da relatividade geral.

Organizaram-se duas expedições para fotografar o eclipse. Uma à ilha de Príncipe e outra a Sobral, no Brasil, dois locais situados na faixa de totalidade do eclipse e dois territórios de língua portuguesa.

O astrónomo britânico Arthur Eddington, figura central na comprovação e divulgação da relatividade, esteve em Príncipe, numa expedição atribulada. Outros astrónomos britânicos deslocaram-se a Sobral. Os resultados das medidas, que essencialmente corroboraram a relatividade, deram a Einstein uma notoriedade internacional.

Tudo isto, e a introdução da relatividade em Portugal, foi discutido esta semana em animadas sessões na Sociedade de Geografia de Lisboa e na Biblioteca Nacional. Nesta última, decorre actualmente a magnífica exposição "Estrelas de Papel", dedicada à astronomia, onde se mostram as obras mais emblemáticas dos séculos XIV a XVIII, incluindo o período da revolução astronómica. A mostra é complementada com alguns instrumentos científicos da época.

Quinta-feira 28 de Maio, no Observatório Astronómico de Lisboa, à Ajuda, a partir das 14h30, há um outro evento público comemorativo dos 90 anos da expedição de Eddington. Nele se fala do papel dos astrónomos portugueses no acompanhamento das novidades científicas que Einstein e outros trouxeram ao mundo.

Os interessados, além de seguirem as sessões, podem ler um artigo (doi:10.1017/S0007087408001568) recentemente publicado no "British Journal for the History of Science", onde Elsa Mota, Paulo Crawford e Ana Simões explicam o desinteresse das instituições portuguesas na revolução einsteiniana, mas sublinham o papel de alguns astrónomos, nomeadamente de Manuel S. Melo e Simas (1870-1934), que tentou uma verificação observacional da teoria da relatividade.

Este cientista procurou medir a deflexão da luz ao passar perto de Júpiter, o planeta de maior massa do sistema solar, de forma a complementar as observações do eclipse de 1919.

Quem for ao observatório da Ajuda terá ainda ocasião, no final, de fazer uma visita guiada ao próprio observatório. É uma oportunidade, infelizmente rara, de ver uma das maiores preciosidades científicas do nosso país.


9:00 Domingo, 24 de Mai de 2009

sábado, 23 de maio de 2009

A Universidade do Algarve em mais um projecto de investigação ligado ao Mar

Transcrevemos, com a devida vénia, a notícia dada à estampa no jornal "BARLAVENTO" de mais um projecto de investigação que envolve a Universidade do Algarve, projecto ligado ao Mar.

Os Oceanos continuam a ser o futuro da humanidade tal como o foram há mais de quinhentos anos, quase seiscentos, para Portugal e para o Algarve, sendo de assinalar que a Universidade do Algarve esteja na primeira linha.



Universidade do Algarve lidera projecto criação de rede sem fios para comunicar debaixo de água


A criação de uma rede sem fios para comunicar através do som debaixo de água é o objectivo de um projecto que está a ser desenvolvido por vários países europeus, liderado pela Universidade do Algarve (UAlg).

O projecto Underwater Acoustic Network (UAN) visa colocar a rede ao serviço da segurança subaquática de estruturas como plataformas petrolíferas ou instalações de geração de energias renováveis, vulneráveis a diversas ameaças.

Os cinco pontos da rede vão cobrir um perímetro de 100 quilómetros quadrados e permitirão a troca de mensagens entre si através de uma espécie de e-mail, enviando texto e imagens usando ondas sonoras, que se propagam facilmente debaixo de água.

O Laboratório de Processamento de Sinais (SiPLAB) da UAlg é o organismo que lidera o grupo de seis parceiros que participam no projecto e que inclui cinco centros de investigação e empresas da Itália, Noruega e Suécia.

Segundo Sérgio Jesus, coordenador do SiPLAB e do projecto UAN, o conceito chave do projecto é a "mobilidade" e uma rede de comunicação "wireless" subaquática tem grandes vantagens, sobretudo quando aplicada ao serviço da segurança em meio aquático.

Composta por cinco nós - dois móveis, dois fixos e uma estação de base que assumirá o papel de cérebro de toda a operação -, a UAN terá capacidade para cobrir de forma dinâmica um perímetro subaquático de 100 quilómetros quadrados. Todos os nós da rede estarão equipados com vários sensores, necessários para detectar potenciais ameaças a estruturas estratégicas como plataformas petrolíferas ou instalações de geração de energia, tanto em alto mar como em zonas costeiras.

Os diversos sensores captarão informação sobre a temperatura da água, a velocidade das correntes ou a oscilação da coluna de água, monitorizando a todo o tempo o perímetro que defendem. "Os dois nós móveis, ou veículos autónomos subaquáticos, serão cruciais no processo de recolha de informação, uma vez que podem ser destacados para ir a determinada localização", explica Sérgio Jesus.

A controlar as operações estará uma cadeia de sensores, a estação-base, ou seja, uma antena com 60 metros de altura constituída por uma base, uma unidade de telemetria, um "modem" e vários sensores ao longo de um cabo que termina num flutuador abaixo da superfície. Além dos dois veículos autónomos e da estação-base, farão parte desta rede outros dois nós fixos que participam na recolha de informação ambiental estratégica para o processo de vigilância e detecção.

Iniciada em Outubro de 2008, a UAN terá de esperar até Setembro de 2010 para ser testada pela primeira vez em águas italianas, numa operação em que vão participar todos os parceiros do consórcio europeu coordenado pelo SiPLAB.

Em 2011 terá lugar o teste final, na Noruega, sendo que já em Março de 2010 serão efectuados, ao largo de Vilamoura, testes preliminares à estação-base que está a ser desenvolvida na UAlg.

22 de Maio de 2009 07:43lusa

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Portugueses Pobres e Coitadinhos ou Norte Americanos no Melhor dos Mundos

Mão amiga fez-me chegar o texto que transcrevo abaixo numa análise às sociedades dos dois lados do Atlântico, nomeadamente a europeia representada por Portugal e a americana representada pelos Estados Unidos.

Embora o texto queira mais mostrar a nossa eterna tendência de sermos pobres, coitados, mártires e humilhados (o melhor exemplo vem do presente primeiro ministro de Portugal nas suas charlas televisivas nos dias que correm) também não podemos aceitar a visão doce e fulgurosa do lado americano, ou será que não há pobreza e miséria social nas grandes cidades dos Estados Unidos?

Se calhar nem tudo é negro neste cantinho do Atlântico Leste, nem tão dourado do lado ocidental do Atlântico!


Estava há dias a falar com um amigo meu nova-iorquino que conhece bem Portugal, o Smith...

Dizia-lhe eu à boa maneira portuguesa de “coitadinhos”:

- Sabes Smith, nós os portugueses somos pobres...

Esta foi a sua resposta:

- José meu amigo, como podes tu dizer que sois pobres, quando sois capaz de pagar por um litro de gasolina mais do triplo do que pago eu?

Quando vos dais ao luxo de pagar tarifas de electricidade, de telefone móvel 80 % mais caras do que nos custam a nós nos EUA?

Como podes tu dizer que sois pobres quando pagais comissões bancárias por serviços bancários e cartas de crédito ao triplo que nos custam nos EUA, ou quando podem pagar por um carro que a mim me custa 12.000 dólares o equivalente 20.000? Podem dar 8.000 dólares de presente ao vosso governo e nós não. Não te entendo.

Nós é que somos pobres: por exemplo, em New York o Governo Estatal, tendo em conta a precária situação financeira dos seus habitantes cobra somente 2 % de IVA, mais 4% que é o imposto Federal, isto é 6%, nada comparado com os 20% dos ricos que vivem em Portugal.

E contentes com estes 20% pagais ainda impostos municipais. Além disso, são vocês que têm “impostos de luxo”como são os impostos na gasolina e gás, álcool, cigarros, cerveja, vinhos etc, que faz com que esses produtos cheguem em certos casos até 300 % do valor original, e outros como imposto sobre a renda, impostos nos salários, impostos sobre automóveis novos, sobre bens pessoais, sobre bens das empresas, de circulação automóvel.

Um Banco privado vai à falência e vocês que não têm nada com isso pagam outro, uma espécie de casino, o vosso Banco Privado quebra, e vocês protegem-no com o dinheiro que enviam para o Estado.

Sois pobres onde, José?

Um país que é capaz de cobrar o Imposto sobre ganhos por adiantado e bens pessoais mediante retenções, necessariamente tem de nadar na abundância, porque considera que os negócios da nação e de todos os seus habitantes sempre terão ganhos apesar dos assaltos, do saque fiscal, da corrupção dos seus governantes e autarcas.

Um país capaz de pagar salários irreais aos seus funcionários de estado e de Empresas ligadas ao Estado. Deixa-te de merdas José, sois pobres onde?

Os pobres somos nós, os que vivemos nos USA e que não pagamos impostos sobre a renda se ganhamos menos de 3000 dólares ao mês por pessoas, isto é mais ou menos os vossos 2000 €.

Vocês podem pagar impostos do lixo, sobre o consumo da água, do gás e electricidade. Aí pagam segurança privada nos Bancos, urbanizações, municipais, enquanto que nós como somos pobres nos conformamos com a segurança pública.Vocês enviam os filhos para colégios privados, enquanto nós aqui nos EUA as escolas públicas emprestam os livros aos nossos filhos prevendo que não os podemos comprar.

Vocês não são pobres, gastam muito mal o vosso dinheiro.

Que vou responder ao Smith?

Por favor dêem-me sugestões...

Orgulho Português.... Aonde???

Citando um texto de opinião saído no Público a 13 de Abril de 2009, eis que aquilo que mais no afecta de mentalidade vista em termos económicos e não só, pode ser apreciada na obra em questão.

Trata-se de um retrato por quem estando de fora nos vê, sem perder tempo olhando para o espelho e questionando a célebre frase: "Espelho meu...."


A defesa do orgulho português

Criticar, sem passar por antipatriota, e elogiar, sem passar por bajulador, não é fácil à vez e, ainda menos, em simultâneo.

Principalmente se o tema escolhido for a história económica portuguesa no século XX. Talvez a distância (vive no Canadá) tenha o mérito de fazer temperar emoções e razões, mas o facto é que Álvaro Santos Pereira o conseguiu de forma brilhante.

Sendo um académico jovem, o autor estudou e reflectiu sobre um período que ainda é tratado com pinças por muitos veteranos da intelectualidade portuguesa e escolheu uma linguagem viva, com humor e despojada de "economês" para atacar um tema debatido à exaustão.

A ideia base de que parte é que o pessimismo luso não é tanto uma característica inata, mas é sobretudo uma reacção a conjunturas históricas e opções políticas que, muitas vezes, nos fazem desvalorizar a capacidade de fazer coisas extraordinárias e participar do progresso.

A mais longa ditadura europeia do século XX, com o seu isolamento económico e cultural, não é factor de somenos importância. Desde logo, o mito da crise. Portugal tem vivido em estagnação, num crescer "devagar e devagarinho" na ordem do 1% desde 2000; mas antes da hecatombe do final de 2008 já a palavra corria há muito de boca em boca.

"Se a nossa economia crescesse ao mesmo ritmo do pessimismo nacional, seríamos por certo a economia mais dinâmica da União Europeia e estaríamos a viver um milagre económico de dimensões irlandesas", escreve o autor nas primeiras páginas, criticando a falta de confiança, mais perniciosa que a falta de meios ou de criatividade.
Num primeiro momento, Santos Pereira analisa as causas dessa estagnação (burocracia, sistema judicial inoperante, sistema educativo desfasado), com grande enfoque no regime salazarista e no impacto da descolonização. Depois, descreve exemplos de "campeões nacionais" e as razões do seu sucesso. Finalmente, a receita para cortar de vez com o pessimismo vem na segunda metade do livro: lutar contra as regras fundamentalistas de Bruxelas (sobretudo no que ao défice diz respeito), deixar para mais tarde obras faraónicas e de retorno duvidoso como o TGV para aplicar as verbas no turismo ou no parque escolar, e apostar numa estratégia AEIOU. O acrónimo para esta "receita pouco mágica" traduz-se em Arriscar mais, Educar melhor, Inovar mais, Organizar mais e melhor, Utilizar melhor as nossas vantagens comparativas.

Em suma, a solução é transformarmo-nos (como o próprio) em optimistas realistas e dar atenção a exemplos como o de Belmiro de Azevedo , construtor do império Sonae.

O empresário, que assina o prefácio, partilha da visão do autor: "A haver um projecto nacional para contrariar o medo colectivo, este deverá ser novo e diversificado, extremamente inovador e, sobretudo, deverá perseguir objectivos adequados à nossa ambição".

Uma nota para dizer que se sente falta de mais reflexão sobre a década que mediou entre o pós-25 de Abril e a adesão à UE - um período vital na construção da "personalidade" lusa, mas talvez fique para outra obra. Para já, este livro dá-nos muito e bom material para pensar sobre o país e o mundo em que vivemos, quase sempre com um sorriso a fugir-nos da boca.

O medo do insucesso nacional

Autor Álvaro Santos Pereira

Editora A esfera dos livros

Páginas 326

Preço 17 euros

Isabel Marques da Silva/José Vegar