As Procissões em Olhão
Olhão sempre se caracterizou por ser uma terra de gente do
mar, quer em navegações de cabotagem e comércio, quer em pesca de diversas
artes e zonas de mar, umas próximas, outras bem mais longínquas.
A gente do mar, uns mais outros menos, sempre são devotos,
fruto das suas andanças e passagens nem sempre fáceis. Daí que as manifestações
religiosas fossem sempre bastante concorridas.
Não é por acaso que
ainda nos dias de hoje a capela de devoção ao Senhor dos Aflitos continua a ter
mostras diárias dos sentimentos de muitos dos seus habitantes.
Outro tipo de manifestação religiosa, – a procissão - que também tinha muitos devotos, com gentes
do mar a disputar a honra de poderem levar certos andores, pendões e
estandartes.
Lembro-me perfeitamente delas, do seu longo percurso e do
sermão final antes de recolher de novo à Igreja Matriz.
Estamos a falar dos tempos de sacerdotes que à frente da
paróquia marcaram toda uma época como foi o caso do padre Delgado, do cónego
Falé, entre outros.
Com o evoluir dos tempos as procissões começaram a deixar de
ter participantes em número suficiente, com os párocos a afirmarem que já não
havia gente para os andores e a procissão não se fazia ou então teria um curto
percurso pela Avenida da República.
Por vezes, em muitos paroquianos, ficava a dúvida se tal se
devia apenas às modificações de usos e interesses que a sociedade vai sempre
sofrendo com o desenrolar dos tempos ou se seria consequência de ressentimentos
a algumas atitudes que no dia a dia por vezes alguns priores assumiam.
Felizmente com a vinda do actual pároco, essa tendência tem
vindo a ser invertida, com mais paroquianos a colaborar, pelo que já tivemos
ultimamente manifestações desse cariz com trajecto digno, voltando a
apresentar-se o cortejo perante a frente da ria.
O trajecto agora considerado não foi o tradicional de muitas
décadas o que deixou algumas dúvidas nas fontes conselheiras do padre Manuel.
Sempre foi intenção que o cortejo processional passasse por
algumas ruas dos dois bairros mais tradicionais de Olhão, o bairro do Levante e
o bairro da Barreta. Nesta última versão apenas o bairro da Barreta foi
considerado no percurso tendo sido esquecido o bairro do Levante.
E para que a memória perdure a seguir se descreve o trajecto
completo das procissões olhanenses.
Iniciava-se a formação do cortejo na frente da Igreja Matriz,
na Praça da Restauração, seguia pela Rua Capitão João Carlos de Mendonça,
passando-se ao lado do Compromisso Marítimo e Igreja da Soledade.
Depois de passar frente à farmácia Pacheco, que até há pouco
ali teve as suas instalações, inflectia para a direita, entrando na Rua Dr.
Miguel Bombarda.
Ao entrar nesta rua a procissão percorre parte do bairro da
Barreta, sendo este um dos mais antigos bairros de Olhão.
No final da Rua Dr. Miguel Bombarda a procissão virava à
esquerda seguindo pela Rua do Dr. Pádua em direcção à Rua de João de Deus e
através da Travessa dos Mercadores desembocava na Rua Teófilo Braga. Continuando
por esta até ao Largo Patrão Joaquim Lopes a fim de alcançar a frente da Ria.
Do Largo Patrão Joaquim Lopes, atravessava a Avenida 5 de
Outubro, passava entre os mercados chegava a procissão em frente à Ria. No Bate-Estacas
os andores eram colocados lado a lado e de frente para a Ria.
Seguia-se a cerimónia da bênção do mar e dos barcos, os
quais estavam todos engalanados frente aos mercados e marcavam o seu regozijo
após a bênção através dos seus apitos e buzinas.
No prosseguimento do percurso, contornava-se pelo lado sul o
mercado da verdura regressando à Avenida 5 de Outubro em direcção à Rua Dr.
Francisco Fernandes Lopes, para entrar no bairro do Levante.
A Rua Dr. Francisco Fernandes Lopes desemboca, na sua parte norte, na confluência das Ruas de S. José e de João Francisco. Uma vez aqui chegada a procissão tomava pela esquerda entrando na Rua de S. José e voltava depois à direita na Travessa de S. José.
Após percorrer esta travessa a procissão virava à esquerda para agora seguir pela Rua de S. Pedro em direcção a Rua Vasco da Gama, virando então para a direita e uma vez percorrida esta rua, desembocava na Avenida da República, junto ao quiosque ali existente.
De notar que à época quer a Rua de S. Pedro (a parte percorrida pela procissão), quer a Rua Vasco da Gama, eram vias com trânsito e não pedonais como hoje o são.
Ao desembocar na Avenida da República terminava a passagem do cortejo processional pelo bairro do Levante.
Na Avenida da República, seguia-se até ao Jardim João Serra (sentido do trânsito) regressando-se de novo ao início da Avenida junto ao Senhor dos Aflitos.
Nesse local era efectuado o sermão final, recolhendo-se posteriormente à Igreja Matriz através da Rua Capitão João Carlos de Mendonça e Praça da Restauração.
Sempre que as condições climatéricas intervinham em desfavor do cortejo o percurso pela Avenida da República era reduzido e o sermão final abreviado.
Agora que é chegado o final destas manifestações para o
presente ano de 2013, e até começar a época do próximo ano, existe tempo para
corrigir as actuais manifestações religiosas trazendo-as para a boa tradição
que sempre foi o orgulho do povo olhanense.
Façamos votos para que com esta tentativa de regresso a algo
que era uma imagem de marca de Olhão, sendo falados os cortejos processionais
em comparação com outros de localidades próximas, não só se reavive as
intenções religiosas que estes actos envolvem como aumente o interesse por
visitar esta linda cidade e conhecer as suas gentes e tradições.
PM