domingo, 30 de agosto de 2009

A Comunicação Social do Século XXI, os Árabes e o Astrolábio

Todos nós sabemos que a Comunicação Social no Século XXI, na sua ânsia de dar novas ao segundo rege-se por regras muito simplificadoras de forma a não se perder muito tempo em dar a notícia tal a pressão de imediatismo em que se vive.

Se adicionarmos a isto uma pressão economicista que leva a que os meios de Comunicação Social funcionem na regra de quanto mais barato melhor, não podemos esperar grande qualidade do serviço, desempenhado pelos menos aptos e preparados mas que por necessidade se sujeitam a todos os dislates de concorrência economicista.

Acresce a tudo isto o nível de preparação à saída dos estudos superiores destes novos profissionais que deixam muito a desejar não tanto por culpa dos últimos ensinamentos para a profissão mas porque a preparação anterior, a dita de base, é tudo menos suficiente!

No entanto, quando nos referimos a um jornal semanário, em que a maioria dos textos são elaborados com alguma antecedência e que não sofrem propriamente das situações do imediatismo, seria de esperar algum cuidado com algumas afirmações que se fazem ao longo do texto.

E até porque hoje dispõem-se de ferramentas tremendas para rapidamente confirmar determinadas presunções.

Vem tudo isto a propósito de um texto vindo a lume no EXPRESSO, semanário cujos créditos firmados levam o leitor a exigir que textos de comentário ou opinião sejam sérios e não escritos ao sabor do momento.

Comentava o texto uma posição acerca das consequências do cumprimento das regras religiosas, no caso o Ramadão, originavam no desempenho de profissionais do desporto e a partir de certo momento partia para uma defesa super-elogiosa da civilização árabe.

E em determinado momento afirmava a articulista que o Ocidente e os Descobrimentos Portugueses deviam aos árabes a "invenção" ou "descoberta" do ASTROLÁBIO.

Se em alguma coisa somos devedores a essa civilização não é pela invenção ou descoberta do astrolábio mas o facto de a ter transmitido desde a civilização que o inventou até aos homens do final da idade média que tiveram que lidar com o assunto.

É que o tal célebre instrumento, que vai ser desenvolvido para o uso na náutica portuguesa, só por um puro acaso foi inicialmente desenvolvido pela Hipátia (ou Hipácia) de Alexandria (em grego: Υπατία), matemática e filósofa neoplatônica, nascida aproximadamente em 370 e assassinada em 415.

Ou seja estamos a falar da célebre Academia de Alexandria o que é relativamente anterior ao que se viria a chamar civilização árabe.

Era de esperar um pouco mais de rigor aos escribas do EXPRESSO especialmente em textos de comentário ou de opinião que não estão tão condicionados pelo tempo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Do Livro "A Ministra"

Dado o interesse do assunto exposto, com a devida vénia, transcreve-se um texto do jornal Público, publicado no dia 3 de Agosto.

Aos leitores do livro deixa-se a resolução do dilema: Será realidade ? Será ficção ? Ou até onde as coincidências entre a ficção e a não ficção se tornam mais do que meras coincidências ?




CARTAS AO DIRECTOR
- 20090803

A ministra deveria ler o livro A Ministra

A actual ministra da educação,Mª de Lurdes R. Rodrigues, deveria ler o livro ( bem como toda a gente ligada à área da educação, e não só) da autoria de Miguel Real, enviado há pouco tempo para os escaparates das livrarias do país.

Porque nessa obra, e segundo a bitola do autor, é retratada: 1 -"Uma mulher seca, que nunca conheceu o amor, de passado trágico e futuro marcado pelo desejo de auto-afirmação; 2 - Uma mulher de mentalidade despótica, adversa à espiritualidade dos valores, crente de que a única dimensão do bem reside na sua utilidade social; 3 - Uma mulher cuja especialização académica consiste na manipulação de estatísticas, moldando a realidade à medida dos seus interesses; 4 - Uma mulher que usa o trabalho, não como forma de realização, mas como modo de exaltação do poder próprio, criando, não o respeito, mas o medo em redor; 5 - Uma mulher ensimesmada, arrogante (...) que ama a solidão e despreza os homens; 6 - Uma mulher autoritária e severa consigo própria, imune ao princípio da tolerância ; 7 - Uma mulher que ambiciona ser ministra. Sê-lo-á?"Quase que consegue, mas não chega a atingir o desiderato devido a um volte-face imprevisível e inimaginável.

Ao contrário de Lurdes Rodrigues, que chegou a ser ministra (ainda o é por enquanto) e não terá rigorosamente nada a ver com o romance ficcional de Miguel Real, como é óbvio. A verdade seja dita.

Apesar desta irrefragável realidade, no livro de Miguel Real, na página 128, intrigantemente, pode ler-se: "Tenho quatro anos para fazer boa figura, pôr a escola portuguesa na Europa, onde ninguém reprova e todos caminham para um mínimo de cultura geral, mais não é preciso, chega, para o vulgo suburbano basta, a pesquisa na Internet preenche as falhas educativas, gerando uma ilusão de sabedoria para o novo habitante urbano, moldado pelo facilitismo e pela vulgaridade (...), é preciso revolucionar o ensino, dar ao povo o que o povo quer, um nico de cultura, um nico de ciência, umas palavritas de inglês, muita informática, chega, basta, um canalizador ou uma recepcionista de balcão não precisa de mais, é preciso harmonizar o ensino com o povo bárbaro que temos (...) facilitar a vida aos mais novos, empurrando--os para a passagem de ano, todos os anos, criar uma segunda oportunidade aos mais velhos, fazer equivaler a experiência de vida destes aos graus de ensino, basta um dossier com toda a informação, mais uma entrevista, pronto, todo o povo passa a ter o 12.º ano, ficam resolvidos os problemas da formação, acabar com o abandono escolar anulando os programas difíceis, no final dos meus quatro anos as estatísticas na educação têm de ser iguais às da Alemanha (...); a todos farei ver que sem mim o povo não teria o que passará a ter, domínio da informática, conhecimentos de inglês, agilidade mental para se safar na vida, para que precisa o povo de saber os sonetos do Antero ou a prosa do Eça?"...

Depois de se ler isto - e muito mais haveria para mostrar -, onde acaba a ficção e começa a realidade? Duma coisa poderemos estar certos, a senhora que é retratada por Miguel Real nada tem a ver com a talentosa e conspícua ministra da Educação do governo patriótico de Portugal...

António Cândido Miguéis

Lisboa