domingo, 24 de maio de 2009

Portugal, Einstein e a Teoria da Relatividade

Com a devida vénia, transcreve-se dado o seu interesse o artigo de Nuno Crato, dado à estampa no jornal EXPRESSO, de 23 de Maio de 2009:


Há 90 anos, na ilha do Príncipe


Nuno Crato

Em 1919, a teoria da relatividade de Einstein, formulada em 1905 na sua versão restrita e em 1916 na sua forma geral, era já famosa entre os investigadores, mas era ainda desconhecida do público e ainda muito pouco referida nas universidades. Era então, em grande parte, uma formulação matemática que explicava fenómenos paradoxais sobre o comportamento da luz, mas que não tinha sido objecto de nenhum teste decisivo.

A ocasião surgiu em 1919, com um eclipse total que permitiria registar a luz das estrelas passando perto do Sol. Nesse alinhamento, as estrelas tornam-se invisíveis para nós, pois o muito maior brilho do Sol esconde-as.

Mas durante um eclipse total passam a ser visíveis, pois a Lua esconde completamente a nossa estrela. Fotografando as estrelas no limbo do Sol, pensaram os cientistas, seria possível medir o seu deslocamento aparente. Esse deslocamento seria devido à deflexão da luz na passagem por perto de um objecto de grande massa: o Sol. Ora a teoria de Newton previa um afastamento diferente do previsto pela teoria de Einstein. Era altura de pôr à prova a teoria da relatividade geral.

Organizaram-se duas expedições para fotografar o eclipse. Uma à ilha de Príncipe e outra a Sobral, no Brasil, dois locais situados na faixa de totalidade do eclipse e dois territórios de língua portuguesa.

O astrónomo britânico Arthur Eddington, figura central na comprovação e divulgação da relatividade, esteve em Príncipe, numa expedição atribulada. Outros astrónomos britânicos deslocaram-se a Sobral. Os resultados das medidas, que essencialmente corroboraram a relatividade, deram a Einstein uma notoriedade internacional.

Tudo isto, e a introdução da relatividade em Portugal, foi discutido esta semana em animadas sessões na Sociedade de Geografia de Lisboa e na Biblioteca Nacional. Nesta última, decorre actualmente a magnífica exposição "Estrelas de Papel", dedicada à astronomia, onde se mostram as obras mais emblemáticas dos séculos XIV a XVIII, incluindo o período da revolução astronómica. A mostra é complementada com alguns instrumentos científicos da época.

Quinta-feira 28 de Maio, no Observatório Astronómico de Lisboa, à Ajuda, a partir das 14h30, há um outro evento público comemorativo dos 90 anos da expedição de Eddington. Nele se fala do papel dos astrónomos portugueses no acompanhamento das novidades científicas que Einstein e outros trouxeram ao mundo.

Os interessados, além de seguirem as sessões, podem ler um artigo (doi:10.1017/S0007087408001568) recentemente publicado no "British Journal for the History of Science", onde Elsa Mota, Paulo Crawford e Ana Simões explicam o desinteresse das instituições portuguesas na revolução einsteiniana, mas sublinham o papel de alguns astrónomos, nomeadamente de Manuel S. Melo e Simas (1870-1934), que tentou uma verificação observacional da teoria da relatividade.

Este cientista procurou medir a deflexão da luz ao passar perto de Júpiter, o planeta de maior massa do sistema solar, de forma a complementar as observações do eclipse de 1919.

Quem for ao observatório da Ajuda terá ainda ocasião, no final, de fazer uma visita guiada ao próprio observatório. É uma oportunidade, infelizmente rara, de ver uma das maiores preciosidades científicas do nosso país.


9:00 Domingo, 24 de Mai de 2009

sábado, 23 de maio de 2009

A Universidade do Algarve em mais um projecto de investigação ligado ao Mar

Transcrevemos, com a devida vénia, a notícia dada à estampa no jornal "BARLAVENTO" de mais um projecto de investigação que envolve a Universidade do Algarve, projecto ligado ao Mar.

Os Oceanos continuam a ser o futuro da humanidade tal como o foram há mais de quinhentos anos, quase seiscentos, para Portugal e para o Algarve, sendo de assinalar que a Universidade do Algarve esteja na primeira linha.



Universidade do Algarve lidera projecto criação de rede sem fios para comunicar debaixo de água


A criação de uma rede sem fios para comunicar através do som debaixo de água é o objectivo de um projecto que está a ser desenvolvido por vários países europeus, liderado pela Universidade do Algarve (UAlg).

O projecto Underwater Acoustic Network (UAN) visa colocar a rede ao serviço da segurança subaquática de estruturas como plataformas petrolíferas ou instalações de geração de energias renováveis, vulneráveis a diversas ameaças.

Os cinco pontos da rede vão cobrir um perímetro de 100 quilómetros quadrados e permitirão a troca de mensagens entre si através de uma espécie de e-mail, enviando texto e imagens usando ondas sonoras, que se propagam facilmente debaixo de água.

O Laboratório de Processamento de Sinais (SiPLAB) da UAlg é o organismo que lidera o grupo de seis parceiros que participam no projecto e que inclui cinco centros de investigação e empresas da Itália, Noruega e Suécia.

Segundo Sérgio Jesus, coordenador do SiPLAB e do projecto UAN, o conceito chave do projecto é a "mobilidade" e uma rede de comunicação "wireless" subaquática tem grandes vantagens, sobretudo quando aplicada ao serviço da segurança em meio aquático.

Composta por cinco nós - dois móveis, dois fixos e uma estação de base que assumirá o papel de cérebro de toda a operação -, a UAN terá capacidade para cobrir de forma dinâmica um perímetro subaquático de 100 quilómetros quadrados. Todos os nós da rede estarão equipados com vários sensores, necessários para detectar potenciais ameaças a estruturas estratégicas como plataformas petrolíferas ou instalações de geração de energia, tanto em alto mar como em zonas costeiras.

Os diversos sensores captarão informação sobre a temperatura da água, a velocidade das correntes ou a oscilação da coluna de água, monitorizando a todo o tempo o perímetro que defendem. "Os dois nós móveis, ou veículos autónomos subaquáticos, serão cruciais no processo de recolha de informação, uma vez que podem ser destacados para ir a determinada localização", explica Sérgio Jesus.

A controlar as operações estará uma cadeia de sensores, a estação-base, ou seja, uma antena com 60 metros de altura constituída por uma base, uma unidade de telemetria, um "modem" e vários sensores ao longo de um cabo que termina num flutuador abaixo da superfície. Além dos dois veículos autónomos e da estação-base, farão parte desta rede outros dois nós fixos que participam na recolha de informação ambiental estratégica para o processo de vigilância e detecção.

Iniciada em Outubro de 2008, a UAN terá de esperar até Setembro de 2010 para ser testada pela primeira vez em águas italianas, numa operação em que vão participar todos os parceiros do consórcio europeu coordenado pelo SiPLAB.

Em 2011 terá lugar o teste final, na Noruega, sendo que já em Março de 2010 serão efectuados, ao largo de Vilamoura, testes preliminares à estação-base que está a ser desenvolvida na UAlg.

22 de Maio de 2009 07:43lusa