quinta-feira, 31 de julho de 2008

Racismos e Anti-racismos

Talvez que, ao contrário do que certa inteligência muito correcta anda dizendo ao mundo, o racismo não seja só dos brancos ou de certa divisão dos brancos.

De tanto se pretender defensor e anti-racista cai-se por vezes no extremo oposto.

Artigo do jornal Público transcrito com a devida vénia.




O anti-racismo é racista?


Luís Campos e Cunha - 20080725

Pensar que o racismo só pode ser malvadez de brancos é, ela própria, uma visão racista

Certas formas de anti-racismo são racistas. A discussão semântica não me interessa, mas vale a pena pensar nos múltiplos epifenómenos do fenómeno racismo.

Uma das vantagens de ser filho de um dos últimos capitães do império é ter tido desde miúdo a experiência existencial de diferentes "raças". Pretos, amarelos, indianos e brancos (bem como as múltiplas combinações daqueles) eram tão comuns para mim como para os meus filhos o convívio com médicos, engenheiros, artistas ou economistas. Era natural, para mim o mundo sempre foi colorido. Tive ainda a felicidade de ter sido educado numa família fortemente anti-racista.

Desde cedo o meu pai me falou do Império Britânico e da repulsa que este lhe causou. E vale a pena contar apenas uma história simples e curiosa. No final dos anos 40, depois de se voluntariar, com o seu amigo Pires Veloso, para defender Macau das tropas de Mao, foi formar uma companhia a Nova Lisboa, em Angola. Embarcaram no navio Colonial e, no meio do Índico, morreram-lhe dois soldados. O primeiro, como estavam a mais de 2 dias de costa, foi sepultado no mar com honras militares, às 24h00, com o navio parado, luzes apagadas e, no absoluto silêncio como pano de fundo, tocou a mortos: uma cerimónia que nunca mais esqueceria. O segundo soldado morreu já perto de Ceilão (hoje, Sri Lanka) que, à altura, era ainda administrado pelos britânicos. Uma vez acostados, havia que enterrar o soldado angolano rapidamente; não existiam câmaras frigoríficas e, com o calor e a humidade dos trópicos, a decomposição era muito rápida. Mas havia um pequeno problema: o soldado era oficialmente católico e naturalmente preto. Por este facto estava proibido de ser enterrado nos cemitérios britânicos, reservados a brancos; por ser católico, estava-lhe vedada a possibilidade de ser enterrado nos cemitérios dos locais, reservados, separadamente, a hindus e a muçulmanos. O cônsul português estava normalmente embriagado e as autoridades coloniais eram de igual préstimo, ou seja, era ao tenente Ferreira da Cunha, de 23 anos, que cabia a responsabilidade de resolver o problema. E se algum arqueólogo encontrar um esqueleto de um negróide num pequeno cemitério do centro da ilha do Sri Lanka, a explicação é simples: foi o racismo do Império Britânico.

Já em Macau, o racismo dos chineses face aos brancos era também evidente. Os brancos cheiram mal aos chineses, cheiram a carne de vaca fresca (nós também temos a nossa catinga), aquele cheiro bem desagradável que sentimos quando entramos num talho. Além disso, têm a consciência de que nós somos uns bárbaros e eles depositários de uma civilização milenar. Ainda os europeus andavam a matar pardais à calhoada já eles se vestiam de seda.

A minha infância foi sempre povoada por centenas de exemplos deste tipo e um dos meus melhores amigos era (porque infelizmente já morreu) um preto retinto de Moçambique: Ricardo Jonas Timane, figura bem conhecida e muito estimada pelos da minha geração da zona de Oeiras.

Mas ainda recentemente tive mais exemplos curiosos. Em conversa, uma amiga goesa, de família católica de vários séculos, contava-me que um tio, nos anos 50, casara com uma portuguesa branca; por isso, foi deserdado e ostracizado, porque eles se consideravam de uma casta superior e, à época, não admitiam misturas. Semanas depois vi um programa na televisão sobre a Índia portuguesa onde apenas se falou do racismo branco, que certamente existiu, mas não era tudo. Teria, aliás, sido uma excelente oportunidade para falar um pouco mais aprofundadamente sobre o que é o racismo e fugir do cliché tradicional. Hoje poderíamos fazê-lo sem sermos (espero) mal interpretados e apodados de racistas.

Há poucos anos, perguntava a um amigo angolano se ele pensava entrar na política. Ao que ele me respondeu: "Eu não posso, mas talvez o meu irmão." E mostrou-me o braço. Não percebi, mas ele explicou: "Sou um mulato claro, não tenho qualquer hipótese, mas o meu irmão, talvez." De facto, o irmão era um mulato bem mais escuro. Fica dito sobre racismos.

É evidente que o racismo branco, historicamente, teve formas brutais mas não exclusivas. Foi, antes de mais, uma oportunidade, e a oportunidade muitas vezes faz o ladrão. Nos casos português, holandês ou inglês, infelizmente, fez. E, mais recentemente, no zimbabweano também.

É por tudo isto que não me surpreendeu o que se passou entre ciganos e africanos. Por detrás, dirão, havia razões económicas e culturais e não racismo. Foi certamente o urbanismo racista de construir guetos para não termos à nossa porta sujeitos sujos e mal lavados, com a nossa consciência devidamente tranquila e justificada por cientistas sociais.

Ora, o meu ponto é: tal racismo sempre esteve presente; foi sempre a visão ou a ambição de superioridade cultural, económica, social, política, etc., que deu sustentáculo ao racismo. Mas isso é mais velho que a Sé. A propósito, os ciganos são europeus e brancos, mas, não sei se repararam, fala-se de africanos contra ciganos e não contra europeus. Porquê?

Pensar que o racismo só pode ser malvadez de brancos é, ela própria, uma visão racista. No fundo, é dizer que o branco é o ser superior, portador de civilização e apenas ele está em posição para ser racista. É falso e racista, naturalmente.

Racismo é muito mais vasto, mais complexo e muito mais profundo e, naturalmente, algumas formas são muito mais malignas que outras. É um cancro social que também tem múltiplas formas. Professor universitário

Corrigenda

Para que conste: a história, contada por José Sócrates na sua biografia autorizada, da minha demissão de ministro, no essencial e no relevante, não se passou assim.

Uma visão neutra ou quase de.... Portugal

Não é todos os dias que conseguimos ler um artigo de opinião onde o seu autor se consegue isolar o suficiente para ver a situação de forma neutra e não sob os óculos que uma certa classe de pseudo-médicos insiste em receitar para todos possuirmos o mesmo tom de visão, aquele que decerto será o politicamente correcto e muito conveniente.

Daí a transcrição do artigo que se segue publicado no jornal "Público".

E como se diz na gíria, aproveitando uma cena de um filme português:

Chapéus há muitos!




A doença do Estado de Direito


José Miguel Júdice - 20080725

Portugal é um país onde há a arreigada convicção de que a liberdade é não cumprir as regrasOuve-se falar muito pouco de Estado de Direito em Portugal. Infelizmente, isso não se deve à aplicação da velha máxima "os países felizes não têm história". O Estado de Direito não é um país feliz em Portugal, ainda que seja evidente que noutras partes do Mundo é tudo muitíssimo pior. A explicação para o desinteresse é manifestamente cultural. Os portugueses não gostam da Liberdade. Gostam da anomia e até da anarquia. Ora a Liberdade é, também, e em grande medida, o respeito das leis e nunca a indiferença a elas.

Os anglo-saxónicos percebem isso melhor do que ninguém. Países formados com base democrática mais sólida do que na Europa continental usam a expressão Rule of Law para designar o que, na nossa tradição, chamamos "Estado de Direito". Gosto bem mais da expressão inglesa, precisamente porque exprime com muita pertinência a ideia de que a subordinação à lei, que tem a sua base na vontade democrática, é um elemento essencial de uma cultura de respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.

Portugal é um país onde, pelo contrário, há a arreigada convicção de que a liberdade é não pagar impostos, não respeitar limites de velocidade, não obedecer a regras sobre condução com álcool no sangue, não cumprir as regras sobre estacionamento, não cumprir as normas urbanísticas, não cumprir as regras sobre ambiente e paisagem, não respeitar as leis e os regulamentos. No fundo, para os portugueses, a Liberdade é o oposto da Rule of Law. O "não" é para nós o nome da Liberdade, em vez de ser o "sim".

Esta realidade é partilhada, como é evidente, pelos cidadãos e pelos que devem fazer cumprir normas no plano administrativo. Eles também se comportam, quando estão fora do espaço dos poderes que exercem, com a mesma naturalidade incumpridora. E, por isso, para eles, obrigar os outros a cumprir regras não é a expressão natural da subordinação à lei como forma de Liberdade, mas apenas uma expressão de poder e de autoridade. Obriga-se por vezes os cidadãos a respeitar a lei, porque assim se demonstra quem manda. Para concluir isto, basta analisar o comportamento de polícias em questões de trânsito, tantas vezes mais interessados em revelar a sua importância do que em fazer respeitar as normas.

Por isso, também, as medidas preventivas contra o desrespeito das leis são muito menos praticadas do que as punitivas por causa do incumprimento das normas. Tudo se passa como se a sociedade portuguesa achasse que cumprir as leis tem a ver com um modelo de lotaria. Em princípio, é normal que se não cumpram. Os que são apanhados pagam o natural tributo que o azar presta à anomia. O sistema mantém-se, por isso, com base no cálculo das probabilidades. Mentir, contornar as normas, subornar a autoridade, corromper, tudo isso são comportamentos perfeitamente tolerados pela nossa cultura, pois, afinal, não exprimem mais do que reacções indignadas dos que tiveram o azar de ser apanhados, num universo muito amplo em que tantos outros apenas por sorte se safaram.

O fenómeno da Quinta da Fonte, que tem estado na ordem do dia, constitui um excelente exemplo do que acabo de afirmar. Muitas famílias, desde que ali foram instaladas, nunca pagaram a módica renda que lhes foi - simbolicamente - atribuída. Muitas não pagam sequer água e luz. Durante mais de 10 anos, a autarquia local viveu com muita tranquilidade com isso. No fundo, na convicção mais profunda dos que deveriam actuar, a ideia de não pagar renda, água e luz surge como um direito natural, apenas contrariado hipoteticamente pela inveja. E como demonstrar autoridade na Quinta da Fonte não é propriamente tão fácil como no centro de Loures, a melhor solução é deixar andar.

Na Quinta da Fonte, por acaso - o tal azar de que atrás falei - foram filmadas pessoas armadas a disparar em várias direcções. A evidência do desrespeito das normas obrigou a agir. E foram tomadas medidas que levantaram os naturais protestos de quem acha que a liberdade é não respeitar regras. Descobriram-se e foram apreendidas armas proibidas. Mas tais armas estiveram postas em sossego (como até certa altura também estava Inês de Castro) durante anos sem que ninguém se preocupasse com isso minimamente.

Na Quinta da Fonte, bandos de desordeiros destruíram casas e património de terceiros. A comunidade cigana, que foi vítima de tais actos, saiu da zona com ruído. Não foi possível assobiar para o lado. A liberdade de destruir e de não respeitar as leis que o impedem foi considerada natural. No meio de marchas pela paz e outras generosas iniciativas, não ouvi uma única voz a dizer que quem se comporta desse modo está a agir com a mesma lógica subjacente aos que não pagam o que devem pelas casas que habitam. E essa é a grande questão.

Se o sistema social não penaliza o incumprimento das regras, se a prevenção não funciona, se o aparelho de Estado é uma realidade distante e desinteressada, se ninguém cumpre regra nenhuma, o que se pode esperar senão o que se passou na Quinta da Fonte? Se o Estado desaparece ou se está nas tintas, se nem para mostrar que tem poder se incomoda, como estranhar as guerras de "gangs", os poderes fácticos, as coesões étnicas, as lutas de rua?

O Estado de Direito está doente em Portugal. A Rule of Law ainda pior. Sobretudo porque os portugueses nem parecem estar preocupados. Advogado

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Ainda o recentemente promulgado Acordo Ortográfico

Mais um comentário dado à estampa no dia 23 de Julho no jornal "Público" e relativo à recente promulgação pelo PR da legislação que aprova o Acordo Ortográfico.

Neste comentário estão expressas mais as questões técnicas do seu uso do que a base política da sua existência.

Longe irá uma língua de um país que necessitar de leis para viver..........




Nem se vai dar por isso

Rui Tavares - 20080723

Agora que o Acordo Ortográfico está ratificado, os seus adversários fazem dois tipos de profecias: que ninguém lhe obedecerá ou que a sua aplicação será uma calamidade. Não acredito em nenhuma das duas hipóteses e vou explicar porquê.

Quem tem de obedecer ao acordo em primeiro lugar são os próprios Estados que o assinaram.

Eu escrevo e continuarei a escrever da forma como quiser sem punição do Estado (na verdade, muitas vezes são os poderes privados que interferem: eu escrevo sempre "estado" com minúscula, e tanto este jornal como a minha editora costumam alterar para maiúscula).

Mas reconheço legitimidade ao Estado [maiúscula introduzida pelo editor para confirmar declaração anterior] para escolher uma ortografia para os seus actos escritos, nomeadamente para que as leis estejam escritas de forma homogénea. O primeiro objecto do acordo será, nesse sentido, o Diário da República. O resto da sociedade só segue se quiser.

Dito isto, é natural que o acordo vá progressivamente entrando nos hábitos de escrita dos portugueses e outros lusófonos, e isto por uma razão que neste momento talvez provoque algum escândalo. Ele, de facto, simplifica-nos a vida.No Brasil irão ocorrer duas mudanças fundamentais.

A primeira é cair o trema em palavras como "seqüência" ou "lingüiça". É até compreensível a resistência a esta mudança. Ela facilita no momento da escrita, mas pode dificultar a leitura. Algumas pessoas, dizem os opositores, podem passar a dizer "sekencia", como se aquele "u" não fosse para pronunciar. Mas nós portugueses, que não usamos o trema, sabemos que esta confusão é rara: que me lembre, só na palavra "sequestro" há quem leia "secuestro" ou "sekestro". E não só esta confusão é rara como não vem daí mal ao mundo, no sentido em que ninguém deixa de se compreender por ela.

A segunda é cair o acento que os brasileiros usam em "idéia" ou "assembléia". Li uma entrevista de um poeta brasileiro (à revista Língua Portuguesa, que se edita naquele país) protestando contra o que neste caso seria uma "vitória" da pronúncia portuguesa. Segundo ele, os portugueses pronunciariam "idêia" e "assemblêia" com o "e" fechado, e a queda do acento consagraria isto, que nós sabemos que é um disparate. Os portugueses pronunciam o "e" aberto em ambas as palavras.

Estas misturadas dos oponentes do lado de lá do Atlântico ajudam-nos a entender melhor as misturadas que se fazem do lado de cá.

Em Portugal, a grande mudança é a queda das consoantes mudas. Já se falou muito sobre as suas desvantagens. Vejamos agora o outro lado da moeda. Frequentemente vejo escrito "contracto" (no sentido de "acordo" e não de "contraído", claro) com um "c" a mais. E não é raro encontrar a forma "conductor" ou até "traducção". Isso acontece porque, como as consoantes mudas não se lêem, acabamos por inventá-las no momento da escrita em palavras onde elas "poderiam" estar.

A partir de agora passa a haver uma regra simples. No momento de escrever, pense-se: eu pronuncio aquele "c"? Se sim, escrevo. Caso contrário, não escrevo (ou, em alternativa: se desejo continuar a escrevê-lo, devo pronunciá-lo). Esta regra vai facilitar a vida a muita gente no momento da escrita. E ela é, por si só, a grande mudança que o cidadão comum vai ter de fazer. Quando começar a ser utilizada, pouca gente quererá voltar atrás.

Sempre o disse: esta reforma ortográfica é relativamente modesta (quando comparada, por exemplo, com a que a língua alemã fez recentemente). Se estamos numa de palpites, deixo o meu: daqui a cinco anos ninguém se vai lembrar das razões de tanta resistência.

AR ou o Palácio S. Bento ex-Convento de S. Bento

O tema não é novo e sendo recorrente tem sido assinalado por vários observadores que por um motivo ou outro lá se deslocam e assistem aos trabalhos.

No entanto, é necessário continuar a alertar as mentes sonâmbulas em que esta sociedade se tornou e por isso transcreve-se, com a devida vénia, uma carta ao director publicada pelo jornal "Público" no dia 23 de Julho.

Serão estes os representantes que queremos?

Passei toda a manhã de dia 18 na Assembleia da República, para assistir à discussão da petição sobre os direitos humanos no Tibete, de que fui o primeiro subscritor e que obteve mais de 11.000 assinaturas. Mas não é disso que venho falar. Venho falar da confirmação directa da imagem que já tinha do estado da nação, no que respeita aos seus representantes parlamentares.

Era o último dia de trabalhos antes das férias parlamentares, com uma agenda cheia de debates e votações sobre projectos de lei (relativos a transportes, saúde, etc.) e várias petições.

Às 10h, quando abriram os trabalhos, as bancadas teriam no máximo um terço dos deputados. À medida que os vários oradores tomavam a palavra, aquilo a que se assistia era o seguinte: dos escassos presentes, ninguém parecia estar a ouvir nada; uns levavam o portátil e mandavam mails, outros falavam ao telefone, uns conversavam em pequenos grupos, alguns de costas para o orador, outros liam tranquilamente os jornais. Apenas interrompiam estas actividades para aplaudirem maquinalmente o orador do seu partido.

Foi só por volta do meio-dia que o hemiciclo se começou a compor e só então chegaram as figuras mais relevantes e as caras mais conhecidas dos vários grupos parlamentares, com ar descontraído, palmadinhas nas costas e sorrisos cúmplices para os seus correlegionários.

Foi por essa altura que a petição relativa ao Tibete começou a ser discutida.

Quando a deputada do PS Leonor Coutinho começou a apresentar o relatório sobre a situação no Tibete, o ruído das conversas era tal que ela teve de parar por duas vezes e o próprio presidente da Assembleia de pedir silêncio aos "senhores deputados". Sem qualquer efeito. O ambiente era igual ou pior ao de uma turma das mais indisciplinadas do ensino primário ou secundário.

Seria apenas naquele dia, por ser o último antes das férias? Não. Pessoas que lá vão regularmente esclareceram que é sempre assim.

Após a apresentação das várias matérias em debate, neste total alheamento e desrespeito mútuo, ia seguir-se a votação. Levantei-me e vim-me embora.

Estava elucidado e só pensava que, após dois mandatos de quatro anos nesta vida, saem de lá com belas reformas para sempre.

Estou esclarecido sobre o estado da nação, espelhado no seu Parlamento. Só pergunto, a mim e a vocês, se são estes os nossos representantes, se são estes que queremos como representantes. É isto democracia, partidocracia ou mediocrecracia? E o que fazemos?

Paulo Borges, Lisboa

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Ninguém lhe dá Cavaco

Um dos melhores blogs do jornal "Público" o "De Rerum Natura" publica hoje um comentário sobre o acordo ortográfico agora promulgado pelo PR que merece a sua transcrição.

Com a devida vénia ao seu autor, Desidério Murcho, o comentário intitulado: "Ninguém lhe dá Cavaco.


O presidente Cavaco Silva promulgou o acordo ortográfico (notícia do Público). Felizmente, tanto no Brasil como em Portugal, é previsível que a generalidade das pessoas não irá adoptar a nova ortografia. Como já referi, há três razões principais contra este acordo ortográfico.

A primeira é que qualquer legislação sobre a ortografia é tão absurda como legislar sobre a gramática ou o léxico. Imaginem o que seria uma besta de um político determinar que palavras são ou não são portuguesas.

A segunda é que este acordo ortográfico em particular é uma mentira política: apresenta-se como unificador da língua portuguesa, mas não o é, pois passamos a escrever de maneira diferente o que antes no Brasil e em Portugal se escrevia igual (os outros países de língua portuguesa sempre seguiram a ortografia e a gramática de Portugal).

A terceira é que a reforma ortográfica proposta é incoerente, introduzindo vez mais elementos ilógicos na língua. Só a título de exemplo: o princípio organizador das mudanças ortográficas é fonético e é por isso que no Brasil se continuaria a escrever "aspecto", porque pronunciam o "c", ao passo que em Portugal as pessoas seriam obrigadas a escrever "aspeto", porque não pronunciam o "c". Esta é a primeira incoerência. Mas, além disso, os brasileiros deveriam passar a escrever "Brasiu" e "Isabeu" em vez de "Brasil" e "Isabel", pois nestas palavras pronunciam o "l" como "u".

Historicamente, as sucessivas reformas ortográficas foram febres centralistas da Europa continental totalitarista, associadas à ideia de que era necessário ser "moderno". Mas podem ser bem feitas ou mal feitas. Os italianos conseguiram reformar bem a sua ortografia e fizeram da língua italiana escrita uma quase perfeita imagem da maneira como falam. Contudo, isso nunca se fez em Portugal, que sempre fez as reformas ortográficas mal, introduzindo tantas excepções e dessintonias entre a pronúncia e a ortografia quantas as que procurava eliminar. A parca capacidade cognitiva dos reformadores fazia-os introduzir distinções ortográficas tolas, como "coser" e "cozer", para distinguir ortograficamente significados diferentes, ao mesmo tempo que se declaravam preocupados com as criancinhas que poderiam ter dificuldades em escrever "philosophia". O resultado que tivemos foi este: ficámos apenas com sucessivas novas ortografias em Portugal, mas nenhuma melhor do que as anteriores, e todas cheias de coisas ilógicas e sem sentido.

Ora, o princípio crucial a ser seguido nestas coisas é o seguinte: se vamos mexer nestas coisas, ou o resultado é perfeito ou quase perfeito, ou mais vale estar quieto. Dado a falta de qualidade gritante dos estudos linguísticos no nosso país, é de esperar que qualquer nova ortografia seja tão idiota como a anterior, mas idiota por idiota, mais vale ficar com o que já temos escrito em milhares de livros que estão nas bibliotecas. Eu gostaria de ler Pessoa tal qual ele escreveu, mas não posso fazer isso sem ir a uma biblioteca especializada. Gostaria de ler Eça tal qual ele escreveu, mas não posso fazer isso. E porquê? Porque umas bestas infinitamente menos interessantes intelectualmente do que Eça ou Pessoa têm o poder, dado pelo estado (palavra que na mentalidade salazarista muita gente escreve com maiúscula majestosa), de me obrigar a ler como eles querem e não como Eça ou Pessoa escreveram. Isto é pura prepotência gratuita, dado que nenhuma genuína melhoria foi introduzida na ortografia. Basta ler as inanidades de Cândido de Figueiredo para se perceber qual era o calibre intelectual dos reformistas do passado, que não destoa do calibre intelectual de tolinhos como o Houaiss ou o Malaca Casteleiro.

domingo, 20 de julho de 2008

Cristóvão Colon = = Cristobal Colon

Durante anos os escritores colaboram com pseudónimos em diversos jornais escrevendo vários artigos, uns de ocasião outros de encomenda.

Eça de Queirós não foi excepção e sabia-se da sua colaboração com jornais do Brasil como é o caso do texto agora vindo de novo à luz no Expresso de 12 de Julho de 2008.

Mesmo quando se escreve com pseudónimo é muito difícil esconder o estilo, a verve da escrita, pois são características muito pessoais do escritor e este texto não deixa de mostrar o estilo que Eça deu a todas as suas obras, mesmo as mais célebres, afinal aquele algo que distingue Eça dos outros.

De notar, neste texto, o tom irónico com que Eça faz o resumo da biografia "oficial" de Cristóvão Colon, erradamente apodado de Colombo.

É que para alguém com os conhecimentos que Eça e muitos outros tinham e têm é impossível aceitar certos passos da tal biografia.



Eça de Queirós

Colombo e o seu centenário
ESTE TEXTO DE EÇA PERMANECIA DESCONHECIDO DESDE 1892. UM ACASO DITOU O SEU ACHAMENTO



D.R. OS CENTENÁRIOS TÊM a excelente utilidade de avivar e recolorir largos pedaços de História, que já se apagavam, se sumiam, conservando apenas aqui, além, algum contorno incerto e turvo...

Há anos, em Lisboa, o centenário do «Príncipe dos Poetas» levou muito homem culto (e mesmo de Letras) a comprar enfim Os Lusíadas: e os divinos Sonetos, as Elegias choradas com tanta paixão e arte «sob los rios de Babilónia», foram finalmente lidas (ou folheadas), porque, no Rossio e no Alto da Graça, havia luminárias em honra de Luís de Camões. Não foi tanto porém a Obra como a Vida do poeta que teve assim o seu feliz momento de ressurreição.

E como ela andou tão espalhada e repartida pelo mundo, através dela se rememorou - desde a Lisboa do século XVI, e da corte letrada da infanta D. Maria, e do soalheiro turbulento de Alhos Vedros até aos combates da Índia e às façanhas dos Mares do Oriente - toda uma soberba página da vida heróica da Renascença Portuguesa. Esse centenário foi assim, entre préstitos e charangas, uma preciosa vulgarização histórica. Portugal necessita de vez em vez absorver um largo trago da sua História - como os velhos de esvaída força necessitam beber goles de vinho generoso e forte, de Borgonha ou do Porto.

A mesma útil lição do passado nos está sendo dada pelo centenário de Cristóvão Colombo, de quem, por entre este tumulto de ideias e factos que nos solicitam, andávamos tão esquecidos (nós os ignorantes), que apenas sabíamos que ele vagamente descobrira a América, e vagamente morrera em miséria. Todo o resto era uma mancha escura. Dela agora, graças ao centenário, vai surgindo (para nós os ignorantes), em um relevo certo e cada dia mais vigoroso, a imagem do herói e do seu tempo.

Já começamos a saber toleravelmente o nosso Colombo - e como numa aventurosa galé arribou à Madeira, onde herdou os papéis e as cartas dum velho mareante português; e como muito tempo errou por Lisboa, oferecendo um Mundo novo, desatendido do «Rei Perfeito», desdenhado pelos nossos cosmógrafos, que só tinham olhos para Oeste; e como por um triste Inverno atravessou a Espanha, quase mendigando com o seu filhito Diego; e como bateu à porta do Mosteiro de Santa Maria da Rábida para nele encontrar, além do pão, aquele inteligente patronato de padres e fidalgos que, através de lutas, de dedicados esforços, o puseram enfim a bordo da Santa Maria, com uma bolsa de 6000 maravedis, para ele ir buscar esse mundo de que tanto se riam os grandes doutores de Salamanca.

E não é só Colombo que assim renasce, outra vez vivo e real, mas todos esses homens fortes que o amaram, com ele colaboraram no grande achado e, de todo esquecidos, vêm hoje receber a sua parte de glorificação - o bom prior do Mosteiro da Rábida, Juan Pérez de Marchena, um santo que era um cosmógrafo; Pedro González de Mendoza, grão-chanceler de Castela, que toda uma tarde defendeu o seu roteiro perante os reis católicos, no acampamento de Baeza; o velho duque de Medina-Coeli, que o ajudou a equipar a Niña e a Pinta; e outros ainda até essa boa alma do infante D. Juan, que cria nele, como num predestinado e valente resgatador de almas.

Também estes devem partilhar das coroas do centenário - quando não seja senão para animar, pelo exemplo da sua fé generosa (tão em contraste com a resistência obtusa dos sábios de Salamanca e de todos os corpos constituídos da Espanha), aqueles a quem ainda hoje um grande homem possa levar a confidência de uma grande ideia.

Grande homem decerto o foi, este Colombo! Partira de Itália um simples piloto, e o ar de Espanha fez dele um herói. Melhor! Fez dele um Místico, pondo-lhe na alma essa Fé que vale mais que o Génio, porque só ela comunica ao homem a força que pertence a Deus. É, com efeito, uma ideia de misticismo que impele Colombo para os mares. O que ele pretende não é completar o mapa do mundo, em bem da ciência, mas achar essa misteriosa Índia onde há o ouro (o ouro excelentíssimo, como ele dizia), para com ele, em bem da Fé, equipar dez mil cavalos, cem mil infantes, e ir conquistar Jerusalém!

O que Colombo procurava através das névoas atlânticas era na realidade o Santo Sepulcro. E de que essa Índia seria descoberta e colhido todo esse ouro, seguro estava ele - porque assim o predissera o profeta Isaías!

Parte enfim de Palos. Decerto levava roteiros e mapas. Mas que lhe importavam? O mapa único com que estudava, na incerteza dos altos mares, era o que lhe desdobravam de noite, diante da proa da Santa Maria, dois grandes anjos, e onde ele via brilhar num contorno de lua a Índia e todo o seu ouro! Por isso, quando os ventos sopravam com desusado furor, ele, indignado, mandava-os emudecer, em nome de Deus. E se as altas vagas batiam devoradoramente essas pobres caravelas, mal pregadas, frágeis como os nossos caíques de cabotagem, Colombo, indiferente à manobra, debruçado da amurada, à luz mortiça dum farol, lia às vagas, para as serenar, o Evangelho de São João. Assim era no século XV um almirante mayor del mar oceano. E assim chegou pilotado pelo Espírito Santo. Além está a terra... A Pinta dá naquelas solidões, com uma velha colubrina, o primeiro tiro, anúncio primeiro das mortandades que hão-de vir. Mas nesse instante só se pensava em cravar depressa nel mundo novo uma cruz, signo de infinita paz, do divino ensino trazido aos infiéis! Finalmente, Colombo desembarca. Gajeiros e pilotos choram de pura alegria, aclamam o Almirante. Só Colombo está sereno. Porquê? Ele o diz - «Porque nesta empresa das Índias não me aproveitou razão, nem matemática, nem mapas-múndi; simplesmente se cumpriu o que disse Isaías!»

Há certamente razões para celebrar este homem - mas não sei se as há realmente para celebrar a sua descoberta. Dela datam a decadência e todas as ulteriores misérias de Portugal e de Espanha.

Até essa fatal partida de Palos, nós éramos duas nações ditosas, compostas sumariamente de homens de espada e de homens de enxada. O homem de espada ia adiante, rechaçando o Mouro, e o outro seguia atrás, com a sua enxada, granjeando a terra (que de resto o mouro já regara e preparara bem destramente!). Assim íamos edificando a prosperidade da pátria sobre a base de trabalho. E, dentro de nossa casa, éramos ricos. Todas as grossas e lentas caravelas da Europa vinham a Lisboa buscar trigo: e na Andaluzia, terra da amoreira e gado, havia dezasseis mil teares tecendo alegremente a seda e a lã. Era o tempo dos Bucolistas. E o mais ambicioso poeta exclamava:
«A mí, una pobrecilla
mesa, de amable paz bien abastada,
me baste!...»

De repente, porém, uns atrás dos outros, nau após nau, Colombo descobre as Antilhas, Vasco da Gama acha o caminho da Índia, Ponce de León avista a Flórida, Balboa atravessa o Panamá, Álvares Cabral aporta ao Brasil!

E todos eles voltam perturbados, trazendo a notícia e já a posse de terras cheias de especiarias, de marfim, de ouro e de diamantes! Foi como se a estes dois homens, honestamente curvados sobre a terra, o Espanhol e o Português, tivesse saído o prémio grande da lotaria.

Houve uma brusca revolução nas suas ideias, nos seus hábitos, na sua moral. Todos, tumultuosamente, abandonam casais e teares. Para quê trabalhar? Para juntar, ao fim de uma vida suada e dura, dois dobrões no fundo de uma arca? Mas só nas Molucas há um ilhéu cujo solo é todo de ouro, de ouro bruto! Mas as Índias estão atulhadas de pimenta e cravo, e uma mão cheia de especiarias vale uma légua de centeio e milho! Mas o Samari, que é mouro, e portanto presa justa, tem no seu palácio cestas cheias de rubis e diamantes! Basta embarcar, trazer e mercadejar! E tudo embarca. Campos e teares ficam desertos. Dos sete milhões de carneiros que tinha a Andaluzia, escassamente lhe restam alguns milhares, comendo cardo pelas fráguas.

Lisboa já não tem trigo para vender - já não há pão próprio em casa. Há pimenta - com que se compra o pão alheio. Espanha e Portugal não são já duas nações, que pelo trabalho se desenvolvem normalmente, mas duas metrópoles ociosas, de braços cruzados, diante dos seus contadores, explorando ao longe, por meio de escravos, jazigos de ouro e feitorias de tráfico. E, opulentas, gozam a vida.

Mas que sucede? Que pouco a pouco se esgotam os jazigos de ouro. Que outras raças vindas do Norte, dextras nos mares, mais tenazes e mais hábeis, com aptidões de mercancia imensamente superiores, se apoderam das suas feitorias, das suas naus. E aqui fica o desventuroso peninsular sem feitoria e sem ouro! Nada lhe resta. Os campos? Incultos. Os teares? Partidos. Os gados? Comidos nos tempos dos festins, com a pimenta e o cravo do Oriente. E, pior que tudo, perdido o hábito forte e salutar do trabalho! Que fará? Quando ele era rico, e para que Deus lhe perdoasse os meios sangrentos por que enriquecia, fundara e dotara muitos mosteiros, agora poderosos. É esse o seu recurso extremo. E o peninsular, lançando aos ombros a capa do Lazarilho, vai esmolar o caldo de todos os dias à portaria dos conventos.

Tem todavia ainda outro recurso. As descobertas, essas Américas e essas Índias, com o seu comércio, tinham feito desenvolver, entre as raças do norte que com elas aproveitaram, uma instituição nova e estranha - o Banco. O Banco era ainda mais rico que o mosteiro - de facto, ia substituindo o mosteiro. De sorte que o peninsular (apenas adquiriu esta certeza) retomou a capa de Lazarilho e partiu a implorar a vida de cada ano aos Bancos de Inglaterra e França... E assim vive desde que os seus grandes pilotos o presentearam com um mundo. Não vejo por isso que haja uma superior razão em celebrar estas descobertas...

Nós, os Portugueses, fomos talvez mais justos, atendendo apenas, na descoberta, ao poema que ela ocasionou - esquecendo prudentemente a passagem do Cabo e glorificando só Os Lusíadas.

Enquanto à América, só ela realmente se orgulha em ter sido descoberta (vivia tão feliz, quando ignorada!), não me parece que deva especialmente celebrar Cristóvão Colombo como o homem sine qua non, a quem ela deve a sua vida de civilizada.

O genovês não lhe foi essencial para ela emergir do segredo do mar tenebroso!
«A América lá estava», como dizia o bom Narváez.
Ora, sempre que no século XVI se tratava de ir buscar um Mundo, quando não partia já um galeão espanhol, partia logo um galeão português. Em Cádis ou em Lisboa, havia constantemente um mareante pronto a ir com alguns mapas incertos e o coração posto em Deus fundar, através dos mares, um reino novo. E se em 1492 Colombo não tivesse descoberto a América pelo norte, lá estava já Pedro Álvares Cabral, que, em 1500, a descobriria pelo sul. Eram para esse continente mais oito anos de sossego e obscuridade ditosa!

João Gomes

CRÓNICA DE UM ACHAMENTO

No «Eça de Queirós - In Memoriam», de 1922, a reprodução dum recorte de jornal, com riscados e acrescentos manuscritos, tem a legenda «A Correspondência de Fradique Mendes - Uma Prova Emendada por Eça de Queirós».

Lido, o texto não corresponde inteiramente a nenhuma das prosas sobre Fradique ou por ele «escritas». Porém, o recorte de jornal é semelhante a outros usados pelo autor para a construção do livro, saído em 1900, e alguns fragmentos do texto encaixam-se numa carta de Fradique, «A Mr. Bertrand B. - Engenheiro na Palestina», comentando a inauguração do caminho-de-ferro de Jafa a Jerusalém, em Setembro de 1892. Pensava-se ser esta a única peça d’«A Correspondência de Fradique Mendes» que não tinha tido origem numa crónica jornalística, mas era provável que o recorte pertencesse a uma coluna da «Gazeta de Notícias», do Rio de Janeiro, onde Eça publicou durante 17 anos, assiduamente em 1892.

Elza Miné, estudiosa da «Gazeta» e dos seus colaboradores literários portugueses, generosamente enviou do Brasil o microfilme do periódico fluminense daquele ano. Lá estava, sob a rubrica, tão queirosiana, «Notas Contemporâneas», o título «O Caminho-de-ferro de Jerusalém», por «João Gomes», pseudónimo de Eça de Queirós no início dos anos 1890.

A surpresa maior foi o encontro seguinte, no mesmo microfilme, de outra das «Notas Contemporâneas»: nesse ano de 1892, como aconteceu um século mais tarde, o mundo inteiro celebrava o achamento da América por Cristóvão Colombo, e Eça, escrevendo «Colombo e o Seu Centenário» para um jornal do Brasil, legou-nos a sua visão crítica da celebração da descoberta do Novo Mundo, interrogando os motivos que levavam os povos ibéricos a celebrar um acontecimento cujas consequências, afinal, lhes tinham sido pouco proveitosas.

Esta crónica, inteiramente desconhecida desde 1892, porque não foi reaproveitada pelo autor para os seus livros nem foi compilada após a sua morte em nenhuma das colectâneas editadas, publica-se agora: também ela foi assinada por «João Gomes», nome que a encobriu durante 116 anos.

Irene Fialho

quarta-feira, 16 de julho de 2008

A Energa das ondas do mar

A Energia através das ondas do mar continua a ser um tema do momento, especialmente quando actualmente se vive uma situação económica complicada relativamente à energia.

Através do seguinte texto publicado pelo MIT em 2008.07.14 podemos ter mais uma amostra da situação



Monday, July 14, 2008
Energy from Waves
A new technology could provide a cheap way to harness wave energy.

By Prachi Patel-Predd

The ocean's waves have enough energy to provide two trillion watts of electricity, according to the Department of Energy's office of Energy Efficiency and Renewable Energy. Extracting that enormous resource of power, however, has proved to be a herculean challenge.


A new device being developed by U.K.-based Checkmate SeaEnergy could help tap a portion of this wave power. The device, aptly named the Anaconda, is a long, water-filled rubber tube closed at both ends. It currently exists as a small laboratory-scale model, but it could eventually be 200 meters long and seven meters in diameter. At such a size, it will be capable of generating one megawatt of power at about 12 cents a kilowatt-hour, which is competitive with electricity costs from other wave-power technologies.


The one-megawatt Anaconda, which will use about 110 tons of rubber, should be lighter and cheaper than other wave-exploiting designs, says John Chaplin, a civil-engineering professor at the University of Southampton, in the United Kingdom, who is testing the lab-scale device. It is also simpler, with fewer moving parts and hinges, which means less maintenance. Since it is a pliant rubber tube, it should be able to survive severe weather conditions. "We don't really know how Anaconda works in big waves yet, but intuitively, it seems likely that it's going to be able to survive big waves," Chaplin says.


The Anaconda will face plenty of competition from other wave-power devices that have already reached commercial-scale deployment. Scotland-based Pelamis Wave Power's snakelike device was the first to provide power to the grid when it was installed off the coast of Orkney, Scotland, in 2004. In October 2007, Pelamis deployed three of its 750-kilowatt devices--770-ton, 120-meter-long chains of metal cylinders--off the coast of Portugal. Other companies, such as Finavera Renewables of Vancouver, AWS Ocean Energy of Scotland, and Ocean Power Technologies of Pennington, NJ, are testing bobbing buoy-type devices. In addition, others are developing technology to exploit tidal energy.


The Anaconda floats horizontally just below the ocean's surface, tethered to the ocean floor at one end, facing oncoming swells, with a turbine attached, at the other. A wave hitting the tube creates a bulge in the water inside. The bulge travels down the tube with a speed that depends on the diameter of the tube, wall thickness, and elasticity of the material, Chaplin says. The tube is designed so that the speed of the bulge is the same as the speed of the wave. The wave travels outside the tube alongside the bulge, making the bulge bigger and bigger, so that it drives the turbine with maximum power.

Chaplin is testing a model that is 25 centimeters wide and about eight meters long. So far, it seems to do what a simple theory predicts that it should, Chaplin says. The lab tests will last three years.


Deployed along the U.S. coast, wave devices could provide the United States--and the world--with a substantial renewable-energy boost. The contiguous United States has a wave-energy resource of 2,100 terawatt-hours per year--about half the country's total electricity consumption, says Roger Bedard of the power-industry-funded nonprofit Electric Power Research Institute.

But how much of the ocean's energy can be exploited in the United States is open to speculation, Bedard says. The technology is still immature and does not have nearly as much support from the government as solar and wind power do. What's more, its implementation faces tremendous regulatory and social hurdles in the United States. Bedard estimates that about 250 terawatt-hours of energy in the United States could reasonably come from waves--about as much as the country gets from hydropower.

Aquecer a Água e a Nanotecnologia

Não será propriamente para os artefactos das nossas cozinhas, mas a tecnologia ou melhor a nanotecnologia poderá ser muito interessante em sistemas de transferência de energia que necessitem de ser muito eficientes.

A seguir o artigo publicado pelo Scientific American em 2008.07.08:



Pot Boiler: A New, Faster Way to Heat Water
Tiny particles known as nanorods may make cooking utensils more efficient, using less time and energy
By David Biello

Many recipes and procedures call for bringing water to a roiling boil—from making the perfect cup of tea to generating electric power. But the bubbles that denote the rapid transformation of water from a liquid to a vapor, otherwise known as steam, actually slow the process. The normal, microscopic imperfections—holes, gaps and voids—on the surfaces of everything from industrial boilers to pots and pans create pockets where air is trapped and liquid water can become steam. But the process in each void ends after a steam bubble develops and travels to the surface, because water subsequently fills the gap where it formed.

But researchers report in the engineering journal Small that water in pots coated with tiny copper rods—just 450 nanometers tall and 40 to 50 nanometers around (one nanometer is 40 millionths of an inch)—may speed the process by creating more air pockets and, so, more bubbles.

Mechanical engineer Nikhil Koratkar of the Rensselaer Polytechnic Institute in Troy, N.Y., and his colleagues discovered this by coating the bottom of a copper pot with a layer of copper nanorods. By depositing these rods at an oblique angle, the scientists created an uneven film with various gaps in it. These nanoscale imperfections triggered faster-forming, more furious bubbles because they provided more air-trapping pockets where liquid water could be transformed into a gas.

"The density of the bubbles you create was 30 times more when we had these rods," Koratkar says. (Translation: the coating produced 30 times more bubbles than an ordinary pot.)

The more bubbles, the more efficiently and quickly the water boils. Koratkar says the discovery paves the way for development of pots and pans in which water would heat up in a jiffy. "Depositing the nanorods across a five- by five-inch [12.7- by 12.7-centimeter] vessel is something we can do right now," he says. "If we can provide these features to the base of a vessel that you use at home, then the potential for saving energy is enormous."

He believes that cooling computer chips might be the first place to utilize the new technology, however, given that such chips already use copper interconnects and often overheat as they continue to become ever tinier.

"The techniques we use to deposit nanorods are compatible with what you use to make chips," Koratkar notes. "The smaller the application, the more likely it is for this to be cost-effective," noting that coating the entire base of an industrial boiler in nanorods using current technology would be too costly to make it worth the high price tag.

Another snag: before copper nanorod pots become common in kitchens, researchers must first make sure they are safe. After all, the reason the effect diminishes with each repeated boil could be because the nanorods are actually detaching from the bottom of the pot, leaching into the contents as they are exposed to the turbulent boiling water. "If these rods start coming off the surface," Koratkar says, "then we have to think of a way of attaching them more strongly," such as coatings that bind the nanorods together. "If you're using pans to cook food and you have copper nanorods that are coming off the surface, that's a major problem."