quarta-feira, 22 de abril de 2009

Portugueses Pobres e Coitadinhos ou Norte Americanos no Melhor dos Mundos

Mão amiga fez-me chegar o texto que transcrevo abaixo numa análise às sociedades dos dois lados do Atlântico, nomeadamente a europeia representada por Portugal e a americana representada pelos Estados Unidos.

Embora o texto queira mais mostrar a nossa eterna tendência de sermos pobres, coitados, mártires e humilhados (o melhor exemplo vem do presente primeiro ministro de Portugal nas suas charlas televisivas nos dias que correm) também não podemos aceitar a visão doce e fulgurosa do lado americano, ou será que não há pobreza e miséria social nas grandes cidades dos Estados Unidos?

Se calhar nem tudo é negro neste cantinho do Atlântico Leste, nem tão dourado do lado ocidental do Atlântico!


Estava há dias a falar com um amigo meu nova-iorquino que conhece bem Portugal, o Smith...

Dizia-lhe eu à boa maneira portuguesa de “coitadinhos”:

- Sabes Smith, nós os portugueses somos pobres...

Esta foi a sua resposta:

- José meu amigo, como podes tu dizer que sois pobres, quando sois capaz de pagar por um litro de gasolina mais do triplo do que pago eu?

Quando vos dais ao luxo de pagar tarifas de electricidade, de telefone móvel 80 % mais caras do que nos custam a nós nos EUA?

Como podes tu dizer que sois pobres quando pagais comissões bancárias por serviços bancários e cartas de crédito ao triplo que nos custam nos EUA, ou quando podem pagar por um carro que a mim me custa 12.000 dólares o equivalente 20.000? Podem dar 8.000 dólares de presente ao vosso governo e nós não. Não te entendo.

Nós é que somos pobres: por exemplo, em New York o Governo Estatal, tendo em conta a precária situação financeira dos seus habitantes cobra somente 2 % de IVA, mais 4% que é o imposto Federal, isto é 6%, nada comparado com os 20% dos ricos que vivem em Portugal.

E contentes com estes 20% pagais ainda impostos municipais. Além disso, são vocês que têm “impostos de luxo”como são os impostos na gasolina e gás, álcool, cigarros, cerveja, vinhos etc, que faz com que esses produtos cheguem em certos casos até 300 % do valor original, e outros como imposto sobre a renda, impostos nos salários, impostos sobre automóveis novos, sobre bens pessoais, sobre bens das empresas, de circulação automóvel.

Um Banco privado vai à falência e vocês que não têm nada com isso pagam outro, uma espécie de casino, o vosso Banco Privado quebra, e vocês protegem-no com o dinheiro que enviam para o Estado.

Sois pobres onde, José?

Um país que é capaz de cobrar o Imposto sobre ganhos por adiantado e bens pessoais mediante retenções, necessariamente tem de nadar na abundância, porque considera que os negócios da nação e de todos os seus habitantes sempre terão ganhos apesar dos assaltos, do saque fiscal, da corrupção dos seus governantes e autarcas.

Um país capaz de pagar salários irreais aos seus funcionários de estado e de Empresas ligadas ao Estado. Deixa-te de merdas José, sois pobres onde?

Os pobres somos nós, os que vivemos nos USA e que não pagamos impostos sobre a renda se ganhamos menos de 3000 dólares ao mês por pessoas, isto é mais ou menos os vossos 2000 €.

Vocês podem pagar impostos do lixo, sobre o consumo da água, do gás e electricidade. Aí pagam segurança privada nos Bancos, urbanizações, municipais, enquanto que nós como somos pobres nos conformamos com a segurança pública.Vocês enviam os filhos para colégios privados, enquanto nós aqui nos EUA as escolas públicas emprestam os livros aos nossos filhos prevendo que não os podemos comprar.

Vocês não são pobres, gastam muito mal o vosso dinheiro.

Que vou responder ao Smith?

Por favor dêem-me sugestões...

Orgulho Português.... Aonde???

Citando um texto de opinião saído no Público a 13 de Abril de 2009, eis que aquilo que mais no afecta de mentalidade vista em termos económicos e não só, pode ser apreciada na obra em questão.

Trata-se de um retrato por quem estando de fora nos vê, sem perder tempo olhando para o espelho e questionando a célebre frase: "Espelho meu...."


A defesa do orgulho português

Criticar, sem passar por antipatriota, e elogiar, sem passar por bajulador, não é fácil à vez e, ainda menos, em simultâneo.

Principalmente se o tema escolhido for a história económica portuguesa no século XX. Talvez a distância (vive no Canadá) tenha o mérito de fazer temperar emoções e razões, mas o facto é que Álvaro Santos Pereira o conseguiu de forma brilhante.

Sendo um académico jovem, o autor estudou e reflectiu sobre um período que ainda é tratado com pinças por muitos veteranos da intelectualidade portuguesa e escolheu uma linguagem viva, com humor e despojada de "economês" para atacar um tema debatido à exaustão.

A ideia base de que parte é que o pessimismo luso não é tanto uma característica inata, mas é sobretudo uma reacção a conjunturas históricas e opções políticas que, muitas vezes, nos fazem desvalorizar a capacidade de fazer coisas extraordinárias e participar do progresso.

A mais longa ditadura europeia do século XX, com o seu isolamento económico e cultural, não é factor de somenos importância. Desde logo, o mito da crise. Portugal tem vivido em estagnação, num crescer "devagar e devagarinho" na ordem do 1% desde 2000; mas antes da hecatombe do final de 2008 já a palavra corria há muito de boca em boca.

"Se a nossa economia crescesse ao mesmo ritmo do pessimismo nacional, seríamos por certo a economia mais dinâmica da União Europeia e estaríamos a viver um milagre económico de dimensões irlandesas", escreve o autor nas primeiras páginas, criticando a falta de confiança, mais perniciosa que a falta de meios ou de criatividade.
Num primeiro momento, Santos Pereira analisa as causas dessa estagnação (burocracia, sistema judicial inoperante, sistema educativo desfasado), com grande enfoque no regime salazarista e no impacto da descolonização. Depois, descreve exemplos de "campeões nacionais" e as razões do seu sucesso. Finalmente, a receita para cortar de vez com o pessimismo vem na segunda metade do livro: lutar contra as regras fundamentalistas de Bruxelas (sobretudo no que ao défice diz respeito), deixar para mais tarde obras faraónicas e de retorno duvidoso como o TGV para aplicar as verbas no turismo ou no parque escolar, e apostar numa estratégia AEIOU. O acrónimo para esta "receita pouco mágica" traduz-se em Arriscar mais, Educar melhor, Inovar mais, Organizar mais e melhor, Utilizar melhor as nossas vantagens comparativas.

Em suma, a solução é transformarmo-nos (como o próprio) em optimistas realistas e dar atenção a exemplos como o de Belmiro de Azevedo , construtor do império Sonae.

O empresário, que assina o prefácio, partilha da visão do autor: "A haver um projecto nacional para contrariar o medo colectivo, este deverá ser novo e diversificado, extremamente inovador e, sobretudo, deverá perseguir objectivos adequados à nossa ambição".

Uma nota para dizer que se sente falta de mais reflexão sobre a década que mediou entre o pós-25 de Abril e a adesão à UE - um período vital na construção da "personalidade" lusa, mas talvez fique para outra obra. Para já, este livro dá-nos muito e bom material para pensar sobre o país e o mundo em que vivemos, quase sempre com um sorriso a fugir-nos da boca.

O medo do insucesso nacional

Autor Álvaro Santos Pereira

Editora A esfera dos livros

Páginas 326

Preço 17 euros

Isabel Marques da Silva/José Vegar

domingo, 19 de abril de 2009

Demonstração Plena

Parece exactamente um daqueles casos onde o provérbio se aplica perfeitamente.

Faz o que eu digo, não faças o que eu faço!

No caso presente é mais digno de nota porque durante meses a senhora em questão fartou-se de invectivar os automobilistas porque todos eram infractores da pior espécie.

Afinal, era mesmo. TODOS o eram, inclusivé a senhora em questão.



Regional
Radar apanha Governadora Civil em excesso de velocidade em Portimão


Isilda Gomes

A governadora civil de Faro foi ontem apanhada em excesso de velocidade, apesar de ser a principal dinamizadora da campanha de combate à sinistralidade rodoviária na região do Algarve, noticia o Correio da Manhã.

O jornal acrescenta que Isilda Gomes «foi apanhada pelo radar da GNR a circular a mais de 87 km/hora no Sítio do Malheiro, à saída de Portimão, zona onde o limite é de 50 km/hora por ser cercada por casas e ter várias passadeiras para peões».

O Correio da Manhã acrescenta que Isilda Gomes assumiu a este jornal ter cometido a infracção grave, punível com 120 euros de multa e uma pena acessória de um a 12 meses de inibição de conduzir.

«Quem nunca errou que atire a primeira pedra», reagiu, quando confrontada pelo jornal, acrescenta o CM.

A governadora acrescentou, segundo o CM, «que será punida como qualquer outro cidadão, porque entende que 'ninguém está acima da lei'.

Apesar da multa que, assegura, irá pagar, diz louvar o trabalho das autoridades que estão 'a cumprir os objectivos'».

18 de Abril de 2009 11:35barlavento

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Citações de Salazar

Com a devida vénia transcreve-se um texto de José Pacheco Pereira, publicado na revista Sábado, sob o tema em título:



José Pacheco Pereira


Citações do presidente Salazar

No meio deste surto de Salazar nas livrarias, nos vídeos e, a prazo chegará ao cinema, apareceu nas livrarias um livro preto de citações do presidente Salazar. Não se chama assim, porque seria muito maoista e lembraria o Livro Vermelho de Citações do Presidente Mao Zedong, mas não estão tão distantes um do outro como possa parecer.

Mas, dito isto, é de leitura obrigatória, e sabem que quem recomenda esta leitura não tem qualquer visão idílica do ditador, nem sequer as que correm hoje, revistas pelo tempo e traidoras à memória. Eu sei muito bem quem foi Salazar e o que significou a longa ditadura de 48 anos, fonte de muitos dos nossos atrasos e, pior do que isso, dos nossos piores atavismos, que ou fomentou ou gerou. Mas nenhuma história é a preto e branco, nem sequer linear, e Salazar não é a encarnação do Mal, e se o é, muito do mal também era nosso, dos portugueses, do país, da nossa complacência nacional.

Isso não o desculpa, mas ajuda a explicá-lo.

Uma das coisas interessantes das citações, que são sempre ilusórias, porque seleccionam o melhor e deixam pelo caminho, muita rama inútil, onde se esconde muita asneira, é revelarem o Salazar agudamente conhecedor do seu país, dos portugueses, inteligente até dizer não, e cínico até dizer sim e não e talvez. Cínico como poucos, e é no seu cinismo que mais brilha a inteligência e o conhecimento.

Veja-se o que escreve sobre os jornais, a censura, a propaganda e como Salazar parece um teórico actual do marketing político.

Com palavras dele, escreveu António Ferro:“a opinião pública é indispensável ao governo dos povos, constitui por vezes um grande estimulante, mas nunca se deve perder, a bem da sua própria saúde, o controle da sua formação”

E suspeito que o nosso Primeiro-ministro pensa exactamente o mesmo.

Claro que o que “parece, é”, mas o problema é que o “parece” acaba por ser puído pela realidade, sejamos nós capazes de ter ainda uma remota relação com ela.

Veja-se o célebre discurso do “não discutimos”. “Não discutimos Deus e a virtude”, “não discutimos a autoridade e o seu prestígio”, etc, etc, A verdade é que o “não discutimos” acabou por ser no quotidiano uma outra coisa. A Censura encarregava-se de que não “discutíamos” a pobreza, a miséria dos “indígenas” das nossas colónias, a circulação entre os governantes e as grandes empresas (ainda hoje há quem acredite que no tempo de Salazar não existia...) , a corrupção, a repressão, e a míriade de pequenas coisas, a pederastia, as violações, os “acidentes com armas de fogo” (vulgo suicídios), a incúria pública que gerava acidentes mortais, as prepotências contra os trabalhadores, a africana taxa de mortalidade infantil, o reino infinito das cunhas, etc, etc.

http://www.youtube.com/watch?v=rEIiE46A3rw

E certamente que nos impediria de ver no filme de propaganda acima, que as tropas parecem de opereta, e o melhor sinal do “progresso do país”, são uns guindastes que os alemães tiveram que nos dar para reparação de guerra, obra dos negregandos republicanos de antes do 28 de Maio.

As citações são muito interessantes e quase sempre certeiras, mas Salazar era mais do que as suas citações, era o poder de as impor pela força, num reino mais de fancaria do que de gloriosa Nação, que não podíamos “discutir”.

sábado, 4 de abril de 2009

Declaração de desinteresses

Com a devida vénia transcreve-se o texto da autoria de Alberto Gonçalves na revista Sábado de 2 de Abril:

Declaração de desinteresses

Através do seu advogado, o eng. Sócrates jurou processar por difamação quatro quintos dos media que o rodeiam. E acrescentou: logo que acabe a investigação ao caso Freeport.

Noutras circunstâncias, perguntaria: qual investigação? Nestas, pergunto: qual caso Freeport? Que eu saiba não existe caso nenhum, mas uma "campanha negra" concebida por almas vis a fim de sujar a honra de Sua Excelência, o primeiro ministro de Portugal. O que aquela baixa gente não sonha é que há honras que, como a roupa sujeita a Presto, são à prova de sujidade. A de Sua Excelência é uma delas, para felicidade dos portugueses que não fazem da ingratidão modo de vida.

Modestamente, incluo-me nesse grupo. E não, não é o receio de represálias que me move: é o orgulho. Querem que imite os alcoólicos anónimos ? Eu imito: chamo-me Alberto e tenho orgulho no eng. Sócrates. O único problema é que a palavra não exprime metade das emoções que Sua Excelência me suscita. "Devoção" seria mais adequado.

Ainda assim, não chega para definir o que sinto quando Sua Excelência salva empresas que a economia decreta falidas, ou excomunga o "liberalismo selvagem" em que os mortais nunca repararam, ou aplica o intervencionismo estatal que os livros garantem desastroso, ou reivindica a modernização de um país que o país imagina afundar-se a ritmo acelerado, ou, sobretudo, afirma a verticalidade de uma carreira que aos pobres de espírito parece uma sucessão de trapalhadas.

O líder competente vê além das aparências. O Líder excelso, por sorte o nosso, vê além dos factos.

Eis porque desperta a inveja do mundo em geral e da imprensa em particular, os quais Sua Excelência arrasará legitimamente em tribunal.

Note, porém, que na SÁBADO tem uma página dedicada a louvá-lo, e no seu autor um criado e, se necessário, uma desinteressada testemunha de acusação.