segunda-feira, 27 de julho de 2009

O caso edificante do negócio dos contentores

Pelo interesse do assunto e actualidade transcrevemos, com a devida vénia, o artigo de opinião vindo a lume no Público do dia 27 de Julho.

Pela claridade do focado entendemos que se aplica plenamente o provérbio: "A bom entendedor, meia palavra basta!".




Liscont: quando a

explicação menos má é uma

grande dose de

incompetência

Paulo Ferreira - 20090727

A forma como foi prolongada a concessão do terminal de contentores de Alcântara ao grupo Mota-Engil é um autêntico caso de estudo de "como não fazer".

O relatório do Tribunal de Contas (TC) à concessão do terminal de contentores de Alcântara devia ser de leitura obrigatória (está disponível em www.tcontas.pt).

Para os decisores do Estado ele é um verdadeiro manual de "como não fazer". Para os cidadãos ele é uma das mais escandalosas amostras de como se tomam decisões ruinosas para o Estado. Ou se trata de manifesta incompetência ou de um descaramento ilimitado.

Porque não se vê uma terceira via entre a inaptidão e o caso de polícia.

Invocando urgência quando ainda faltam sete anos para o fim da concessão actual, o Ministério das Obras Públicas decidiu alargar o prazo de concessão do terminal por mais 27 anos, ao mesmo tempo que validou um projecto de requalificação para triplicar a capacidade e aumentar a operacionalidade da infra-estrutura.

Repare-se como foi feito.

Primeiro, foi um ajuste directo. Como aquele é um monopólio regional, não houve concorrência entre a Liscont e outros potenciais candidatos. Este mecanismo óbvio para melhorar a posição negocial do Estado foi descartado. O grupo privado ficou, naturalmente, em enorme vantagem.

Depois, o Estado não estudou devidamente o risco de alternativas a este prolongamento da concessão. Uma delas seria a concessão passar para a APL.

Os investimentos previstos para o aumento de capacidade e requalificação somam, a preços correntes, 474,4 milhões de euros. Deste montante, 52 por cento serão encargo ao Estado, entre despesas e isenção de taxas concedida à Liscont.

As previsões de tráfego de contentores que serviram de base ao contrato são muito optimistas, diz o TC olhando para o tráfego do ano passado e estimado para este ano.

Por que é que isto é decisivo? Porque o Estado ficou para si com uma grande parte do risco do negócio. Se, em cada biénio até 2017, o tráfego ficar 20 por cento abaixo dessas previsões, o Estado compensa a Liscont por isso (até 2031 os desvios permitidos sobem até 25 por cento). Pelo contrário, se o tráfego aumentar em relação ao cenário base e o negócio se mostrar melhor do que se previa, o Estado só partilhará essas receitas extra se "se demonstrar que tal eventual excesso não resultou da eficiente gestão e das oportunidades criadas pela concessionária". Seria interessante verificar como é que o mesmo Estado que não fez o fácil e assinou esta galeria de horrores conseguirá, mais tarde, demonstrar o que é quase indemonstrável.

E, entre outras coisas, verificou-se que ao longo do processo negocial foram sendo efectuadas alterações aos parâmetros da concessão. Sem surpresa, todas elas foram no sentido de prejudicar o Estado e beneficiar a Liscont.

A rentabilidade do accionista, que era de 11 por cento no memorando inicial, no contrato final passou para 14 por cento. Fantástico, se tivermos em conta que o risco para a concessionária está, como vimos, extremamente limitado.

Na recta final de negociação (em Outubro de 2008), em apenas uma semana, o cálculo dos rendimentos líquidos para a Liscont saltou de 4,2 para 7,4 milhões de euros.

Não será isto o sonho de qualquer empresa privada?

Por incompetência ou com intenção, o certo é que as coisas foram feitas assim. Se agora, num assomo de sensatez, alguém decidir rasgar estes contratos ruinosos para o Estado, os contribuintes não se livram de ter que pagar chorudas indemnizações à Liscont.

E porque estas coisas têm protagonistas, eles devem ser nomeados.

Do lado do Estado, o principal responsável político por estes contratos está em funções e chama-se Mário Lino. A Liscont é do grupo Mota-Engil, que há mais de um ano tem como gestor principal Jorge Coelho. Antes disso, o ex-dirigente e ministro socialista já era consultor do grupo.

Mas até nos processos mais duvidosos se encontram protagonistas dignos.

Neste, é Mariana Abrantes, controladora financeira do Ministério das Obras Públicas à data da auditoria do TC, que nas respostas que dá a esta entidade aponta ela própria a generalidade dos grandes problemas deste negócio para o Estado.

Das duas uma: ou não foi ouvida durante as negociações, o que é no mínimo estranho dadas as suas funções; ou os seus alertas não foram considerados. Vá-se lá saber porquê.

domingo, 26 de julho de 2009

Dia 26 de Julho

Embora sendo um dia igual a muitos outros deste mês de Julho, normalmente quente como costumam ser os meses de Verão, este dia tem a característica de ser considerado o Dia dos Avós.

Singularmente o comércio parece não ter grande apreço com o dia se o compararmos com o Dia dos Namorados, o Dia do Pai ou o dia da Mãe. Enquanto estes últimos são agressivamente lembrados na tentativa de que alguém compre algo para o respectivo, já no Dia dos Avós a máquina publicitária/comercial não actua, permanecendo estranhamente muda e queda.

Provavelmente o mercado será mais escasso e a capacidade de mobilização de compras para a geração mais afastada seja bem menor.

Este dia foi escolhido para ser o Dia dos Avós pelo facto de os oragos serem respectivamente S. Joaquim e Santa Ana que eram os avós de Jesus Cristo.

Também já nessa época pouco se referenciavam os Avós se tivermos em conta o que as Escrituras mencionam acerca destas duas personagens da vida de Jesus Cristo.

Portanto, não podemos criticar a posição de hoje do comércio ao dar um relevo relativo ao dia.

Como se costuma dizer: Já vem de trás quem nos empurra!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Dia 22 de Julho de 2009

Este dia podia não ficar marcado por nada de especial, tal como muitos dias deste ano, a não ser por ter como orago do dia Santa Maria Madalena.

Já pelo facto de ter este orago começa a ser um dia diferente, pois estamos a falar nada mais nada menos da esposa de Jesus Cristo. Que por acaso também foi mãe, de Sara, que por ser mulher não podia ser o início de algo que apenas os homens achavam que podiam controlar.

Na realidade, este ramo do cristianismo não vai vingar mas temos a N. S. Negra, por o termo na época igualmente identificar a origem egípcia.

Mas o dia de hoje afinal vai também ficar bem célebre!

E também por ser um dia negro, ou melhor dizendo, escuro.

É que no dia de hoje aconteceu um dos muitos eclipses que regularmente envolvem a Terra, a Lua e o Sol.

Até aqui nada de especial a não ser que o eclipse em questão é o do Sol, provocado pela passagem da Lua entre a Terra e o Sol, originando em certos locais da Terra a situação de o Sol que está iluminando a superfície terrestre nessa região ser obscurecido pela interposição da Lua o que origina uma redução da luminosidade da parte diurna do dia, que será relativamente pouca se o mesmo sucede de forma parcial, mas uma perda total da luminosidade nas zonas em que é total, isto é, a Lua durante algum tempo interpõe-se em relação ao Sol de tal forma, que impede a iluminação solar por completo, havendo assim um curto período de noite.

Ora bem, o eclipse total do Sol que se verificou hoje e que era visível nas regiões do Norte da Índia, do centro da China, e no Pacífico Oeste, tinha dois aspectos importantes:

a) Em certas regiões da China, o período de eclipse total durava cerca de seis minutos e quarenta segundos aproximadamente, o que o torna um dos eclipses de maior duração deste período no século XXI;

b) O próximo eclipse de condições similares só voltará a acontecer no ano 2132 no século XXII.

Até lá teremos que nos contentar com outros de duração bem menor.

domingo, 5 de julho de 2009

Matemática: Primos

Pelo interesse que estas pequenas lições de matemática têm, transcreve-se, com a devida vénia, o artigo de Nuno Crato, dado à estampa no jornal "EXPRESSO":



Primos misteriosos

Nuno Crato
9:00 Domingo, 5 de Jul de 2009

Conhecemo-los da escola: dizem-se primos os números inteiros maiores que a unidade e que apenas são divisíveis por si próprios e por 1 - 2, 3, 5 e 7 são primos, enquanto 4, 6 e 8 não o são. Dizem-se primos, não por nenhum parentesco especial mas sim por serem primordiais, por serem os tijolos a partir dos quais se constroem todos os outros números. O teorema fundamental da aritmética diz precisamente que todos os inteiros são decomponíveis de maneira única, aparte a ordem, no produto de primos. O número 12, por exemplo, é o resultado do produto de 2 por 2 e por 3, e não há nenhuma outra colecção de primos capaz de o obter.

Sendo tão elementares que recebem esse curioso nome, pensar-se-ia que os números primos são triviais para os matemáticos, e que estes andariam à procura de segredos em matérias mais complexas. Na realidade, os primos têm-nos intrigado durante séculos e continuam a ser objecto de investigação.

Três séculos antes de Cristo já se sabia da existência de um número infinito de primos. Euclides apresentou nos seus "Elementos" uma demonstração simples e brilhante. Em três linhas mostra que, qualquer que seja a lista de primos que se obtenha, é sempre possível construir um outro: basta fazer o produto de todos os números da lista e somar-lhe 1 - o número que resulta é primo e não estava na lista inicial.

Sabe-se pois que há um número infinito de primos, mas, curiosamente, não se lhes conhece nenhuma fórmula geradora. Distribuem-se aleatoriamente entre os números inteiros, mas fazem-no de forma muito regular. À medida que progredimos na contagem, a sua percentagem entre os inteiros reduz-se de acordo com uma lei simples. Quando procuramos perto do número dez mil, por exemplo, aproximadamente um em cada nove números é primo. Mas quando estamos perto mil milhões, apenas um em cada 21 números o é.

O estudo estatístico dos primos tem-se desenvolvido nas últimas décadas, mercê de meios computacionais cada vez mais eficientes. Sabe-se, por exemplo, que os primeiros dígitos significativos dos primos se distribuem uniformemente. Assim, há aproximadamente tantos primos começados com o dígito 1, como começados com o dígito 2, como 3, e assim sucessivamente até se chegar a 9 (o dígito zero nunca pode ser primeiro significativo).

Há poucos dias, dois matemáticos espanhóis acabaram de descobrir outro facto surpreendente. Se é verdade que os primeiros dígitos significativos dos primos têm todos igual probabilidade, o mesmo não se passa para sequências finitas. Se pegarmos nos primeiros mil primos, por exemplo, encontramos 149 começando com o dígito 1 e apenas 15 começando com o 9. É uma distribuição semelhante à da chamada lei de Benford, que tem sido encontrada em muitos exemplos reais, tais como a contabilidade de empresas, os números de porta de rua e os índices de preços.

Os matemáticos Bartolo Luque e Lucas Lacasa, da Universidade Politécnica de Madrid, num artigo publicado na revista "Proceedings of the Royal Society A" (DOI: 10.1098/rspa.2009.0126), mostram que uma lei de Benford generalizada, que se aproxima da uniforme à medida que o número de casos aumenta, se ajusta bastante bem aos primos conhecidos. É uma lei descoberta por físicos, no decorrer do estudo de processos naturais aleatórios. Reaparece agora no estudo de um tema de matemática pura. O grande mistério do mundo é o da unidade da matemática.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Quem chegou primeiro ?

Mais uma porta aberta nas investigações históricas em que cada vez mais chegamos à conclusão que os cânones clássicos, habitualmente anglo-saxónicos, não são tão correctos como parecem.

Tudo aponta a que se tenha criado uma "escola de super-civilizadores", que gozaram sem dúvida de uma boa máquina publicitária-divulgadora, que na realidade muito pouco têm de pioneiros ou melhor dizendo, de terem sido os primeiros a cortar a meta.

É que nos dias de hoje ainda há quem defenda a teoria de que só no século XVI se conseguiu começar a explorar o planeta em que vivemos, sendo que antes ninguém saía dos locais onde viviam, não viajavam, não procurava oportunidades.

Transcreve-se uma notícia vinda a lume no jornal La Voz de Galicia:



investigación

¿Fueron los gallegos los primeros en llegar a Nueva Zelanda?

Un investigador de las antípodas busca conexiones en A Coruña para esa teoría
Autor:
Francisco Espiñeira


Fecha de publicación:

1/7/2009

Una pequeña ciudad de la costa noroeste de la isla norte de Nueva Zelanda llamada Aranga podría tener la llave que explicara que los gallegos fueron los primeros en llegar a las antípodas y no los holandeses de Abel Tasman, como indican los libros de historia. Bajo esa teoría, una organización del país de los maoríes, bautizada con el nombre de Underwater Heritage, trata de encontrar los vínculos que justifiquen esa hipótesis.

Uno de los investigadores, Winston Cowie, pasó junto con su colaborador Angus Fraser una semana en España intentando «reunir y dar sentido a las piezas de este rompecabezas» en colaboración con el español Juan Piñeiro, de la localidad de Mabegondo, uno de los miembros más activos de Underwater Heritage. «Yo soy de la Aranga de Nueva Zelanda y hace años que investigamos la relación de dos barcos hundidos cerca de la costa donde vivo yo (Dargaville), que podrían ser dos fragatas inglesas o españolas», cuenta Winston Cowie.

Una de esas embarcaciones, una carabela, podría ser, a falta de confirmación definitiva, el San Lesmes , un buque cuya última singladura partió de A Coruña, tras casarse su capitán en la iglesia de San Jorge, en el año 1527. «Tasman llegó en 1624 y Cook fue el primer europeo que se asentó en Nueva Zelanda, al menos de forma documentada, en su expedición de 1769. Sin embargo, cuando él llegó allí ya se encontró a algún aborigen pelirrojo, que, evidentemente, debería tener una procedencia europea», insiste Cowie.

Otro nombre de la geografía gallega que también tiene eco en el otro lado del mundo es el de Tui, que en Nueva Zelanda es como se conoce en lengua maorí a un pájaro de la especie Prosthemadera novaeseelandiae . El pasado martes, la expedición neozelandesa se desplazó a la localidad fronteriza con Portugal para buscar más conexiones, aunque sin demasiado éxito.

En esa línea de trabajo de probar la existencia de nuevos nexos de relación de la isla norte con Europa, Underwater Heritage ha ido reuniendo en los últimos años diferentes pruebas que podrían avalar la teoría de que los gallegos fueron los primeros en llegar a Nueva Zelanda. Ahora, buscan el respaldo institucional para conseguir los fondos para demostrar esa tesis. Y ahí entra en juego de nuevo A Coruña. El árbol más antiguo de la ciudad es un metrosidero, que es el típico de Nueva Zelanda, también conocido como el christmas tree por su singular ramaje. Según la tradición, esa especie llegó a bordo de un barco mercante que transportaba jabón entre el Pacífico y la vieja Europa. Fue plantado hará más de dos siglos, aunque Cowie espera que las pruebas recabadas estos días en Galicia sirvan para conseguir la financiación suficiente del Gobierno de su país para organizar una expedición científica más amplia. «Nosotros hemos hecho una medición aproximada para datar el árbol, pero en nuestro país hay personas especializadas en este tipo de trabajos, un dendrocronólogo, que podría hacer una medición más exacta, porque podría ser la llave para alterar la fecha del descubrimiento de Nueva Zelanda», añade Winston Cowie.

El investigador regresa hoy mismo a Qatar, donde se encuentra su centro de trabajo, pero no descarta nuevas expediciones a Galicia para ampliar los datos recabados. «¿Tú sabes lo que significa Aranga?», pregunta a modo de despedida sin encontrar respuesta.