sábado, 30 de agosto de 2008

A Amazónia e as Civilizações Perdidas

Regressa o tema das cidades perdidas da Amazónia que durante muito tempo estiveram envoltas em lendas.

Com as técnicas mais elaboradas dos dias de hoje e a ajuda da última tecnologia, especialmente as imagens satélite que permitem a cobertura de grandes áreas e a percepção do que o terreno numa área apreciável poderá ter tido sobre o mesmo.

Mais uma vez se destroem certos "mitos" da super civilização europeia.

Mais pormenores no texto a seguir, do Scientific American:



Ancient Amazon Actually Highly Urbanized
It's not Rio de Janeiro or even ancient Athens but anthropologists uncover evidence of urban settlements
By David Biello

In 1925 British adventurer Colonel Percy Fawcett disappeared into the wilds of the Amazon, never to be heard from again after going there in search of a lost city he called Z. But decades later, a city of sorts—actually a series of settlements connected by roads—has been found at the headwaters of the Xingu River where Fawcett went missing in an area previously buried beneath the dense foliage in what is now Xingu National Park.


View slideshow here.

Anthropologist Michael Heckenberger of the University of Florida teamed with the local Kuikuro people in the Brazilian state of Mato Grosso to uncover 28 towns, villages and hamlets that may have supported as many as 50,000 people within roughly 7,700 square miles (20,000 square kilometers) of forest—an area slightly smaller than New Jersey. The larger towns boasted defensive ditches 10 feet (three meters) deep and 33 feet (10 meters) wide backed by a wooden palisade as well as large plazas, some reaching 490 feet (150 meters) across.

The remains of houses and ceramic cooking utensils show that humans occupied these cities for around 1,000 years, from roughly 1,500 years to as recently as 400 years ago. Satellite pictures reveal that during that time, the inhabitants carved roads through the jungle; all plaza villages had a major road that ran northeast to southwest along the summer solstice axis and linked to other settlements as much as three miles (five kilometers) away. There were bridges on some of the roads and others had canoe canals running alongside them.

The remains of the settlements also hint at surrounding large fields of manioc, or cassava (a starchy root that is still a staple part of the Brazilian diet) as well as the earthen dams and artificial ponds of fish farming, still practiced by people who may be the present-day descendants of the Kuikuro. Although such "garden cities," as Heckenberger describes them in Science, do not match the dense urbanism of contemporary Brazilian metropolises such as Rio de Janeiro or São Paulo, they do blend seamlessly into the jungle and maximize use of limited natural resources. They also suggest that the rainforest bears the marks of intense human habitation, rather than being pristine.

But, ultimately, these cities died; most likely a victim of the diseases brought by European explorers in the early 16th century, according to Heckenberger. Two thirds or more of the original human inhabitants of Brazil are believed to have been killed by such disease, and the forest quickly swallowed the cities they left behind.

As a result, later European explorers had no idea that a civilization had once flourished in the Amazon, despite clues in kilometer-long earthworks and unusually fertile so-called terra preta (dark) soil. The 500 or so Kuikuro may have known of their ancestors' exploits—and they may have drawn the attention of Fawcett and other explorers—but only now can the "lost cities" of the Amazon claim to have been found.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Eis o que assistimos no dia a dia

Pela actualidade do texto, até para casos bem recentes, transcreve-se do blogue DE RERUM NATURA o seguinte texto de Desidério Murcho.



Segunda-feira, 25 de Agosto de 2008

Mentira Política

O excelente post da Palmira põe a nu o estado de mentira política em que vivemos, e é este aspecto que vejo nitidamente no caso do aquecimento global e de muitos outros.

Num texto excelente que infelizmente não foi incluído na recente antologia que preparei para a Antígona, Orwell analisa cuidadosamente as razões que tem para pensar que a Terra é redonda. E descobre que não tem assim tantas.

O que está em causa é o problema da divisão social do conhecimento. Ao longo da história, as pessoas, na sua maior parte, nunca souberam praticamente coisa alguma excepto o que é estritamente necessário para a sua vida quotidiana e para alimentar a sua actividade favorita: a mexeriquice. Mas hoje mesmo quem procura conhecer as coisas não pode saber realmente mais do que uma pequeníssima parte; no resto, tem de confiar em especialistas. Isto é maravilhoso, porque exibe a nossa profunda dependência mútua: o conhecimento está socialmente distribuído e eu preciso dos conhecimentos que outros têm, e eles dos meus.

Mas é também politicamente perigoso, pois dá origem a perversões terríveis. Uma dessas perversões é a manipulação da verdade. A publicidade, quase na sua totalidade, certos tipos de marketing, a propaganda e os grupos de pressão mais não fazem do que poluir a cabeça das pessoas com meias verdades, vaguezas, frivolidades e completas mentiras. Neste clima político, tudo é mentira porque tudo é feito em nome de “uma causa”. E isso é assustador. Eu não sei o suficiente sobre clima nem sobre as ciências relevantes para poder avaliar o que se passa no caso do pretenso aquecimento global; tenho de confiar nos especialistas. Mas quando os especialistas estão profundamente politizados, quando pertencem a uma ou a outra “causa”, não posso confiar em qualquer deles.

E o meu caso não é o mais grave, porque tenho uma formação intelectual que me permite distinguir razoavelmente o disparate mistificador do que é plausivelmente verdadeiro. Mas o que dizer da generalidade da população, que não tem uma formação intelectual sofisticada? Que tipo de opinião pode um taxista que tem apenas o 12.º ano sobre o aquecimento global? Leia-se este artigo, por exemplo; eu compreendo a sua maior parte e sou capaz de ver se defende razoavelmente as ideias que defende ou se faz mera manipulação de palavras e dados a fingir-se ciência; mas poderá a maior parte da população fazer este tipo de juízo? Infelizmente, não. E isto é politicamente muito grave, pois é o que permite o género de manipulação que ocorre com a propaganda política, comercial e ideológica.

Precisamos de inverter a irracionalidade da sociedade contemporânea, que é feita de mentiras inventadas para vender produtos: vender o Dalai Lama, vender o conservadorismo religioso, vender banha da cobra pretensamente medicinal, vender o pânico ecológico para dar poder político a algumas pessoas. Mas não sei como é possível inverter este caminho político que começámos a trilhar e que foi previsto por Orwell. Tudo o que posso dizer é que é importante valorizar a objectividade, o estudo cuidadoso das coisas, a honestidade intelectual e humana, a procura imparcial da verdade das coisas, a atenção cuidadosa à realidade — tudo isto por oposição à ideia de que tudo é subjectivo ou intersubjectivo, que a verdade é relativa aos nossos interesses e desejos, que a realidade e a verdade se devem vergar aos nossos interesses políticos, económicos, religiosos, pessoais ou ideológicos.

Não sei como se pode cultivar o amor à verdade e ao estudo imparcial das coisas. Mas sei que ficaremos todos muito pior, e talvez catastroficamente pior, se não o fizermos.

Posted by Desidério Murcho at 15:11

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Primórdios Portugueses da Telescopia

Não foram só os outros países a terem ideias e a tentar desenvolver a telescopia que entre outras coisas conduziu à Televisão.

Nos primórdios dessa investigação em Portugal interessou-se sobre o assunto Adriano de Paiva de Faria Leite Brandão (1847-1907), que após a invenção do Telefone (Graham Bell) teve sempre a certeza de que seria possível transformar as imagens e cores em sinais eléctricos de forma similar ao que o telefone efectuava ao transmitir sons transformados em sinais eléctricos.

Foi agora publicado no blog De Rerum Natura um excelente texto da autoria de António José Leonardo acerca desta figura e sob o título: A invenção da telescopia por Adriano Paiva.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Cristóvão Colon = = Cristobal Colón I

Neste assunto referente a Cristóvão Colón ou Cristobal Colón, cada vez existem mais elementos que contrariam a tese romantica da mafia italiana.

Pode ser que não fosse um fidalgo português ou galego mas, a forma como se movimentava na corte de D. João II em Portugal e na dos Reis Católicos em Castela, impunha imediatamente a sua condição de nobre nada consentânea com a pseudo origem humilde genovesa de filho de um tecelão.

Transcreve-se a notícia do jornal La Voz de Galicia.



UNA POLÉMICA QUE SE REAVIVA

¿Era Colón gallego? Arcade defiende que sí

Soutomaior, a través de la recién inaugurada tienda La despensa de Colón, retoma la tesis del historiador Alfonso Philippot por la cual el descubridor de América y Pedro Madruga son la misma persona.

Autor:
Redacción digital Olalla Sánchez


Fecha de publicación:

13/8/2008
Hora:
Actualizada a las 19:00 h


A pesar de que Cristóbal Colón escribió en referencia a Génova «de ella salí y en ella nací» lo cierto es que el descubridor de América casi no hablaba italiano y las referencias sobre su supuesto origen genovés son escasas. Este vacío, juntado a la polémica perenne que acompaña a su figura, han llevado a decenas de personalidades de todo el mundo a cuestionar, a lo largo de los últimos 500 años, la versión que defiende su origen transalpino y a acercar su nacionalidad a la puerta de su casa (en ocasiones, con demasiadas incongruencias y falsedades documentales).

En esta polémica sin fronteras Galicia también tomó posiciones y ya desde que a finales del siglo XIX el pontevedrés Celso García de la Riega pronunciase en Madrid una conferencia en la que daba a conocer unos documentos de los siglos XV y XVI que citaban a varios miembros de una familia de pontevedreses que se apellidaban Colón, diversas personalidades han acreditado su origen galaico.

Como hechos innegables destacan el hecho de que el Colón que se presentó ante los Reyes Católicos era un personaje de habla y maneras portuguesas, muy parecidas a las gallegas, y la elevada participación de la comunidad en el descubrimiento, tanto en embarcaciones, como La gallega, como en tripulantes.

Tras más de un siglo de discusiones y rivalidades, Alfonso Philippot, un vigués de ascendencia italiana y capitán de la Marina Civil, acentuó más el debate al editar el llamativo y voluminoso texto La identidad de Cristobal Colón. En él, y aparte de insertar numerosa documentación sobre el tema, llega a la sorprendente conclusión de que Cristobal Colón y Pedro Álvarez de Soutomaior, más conocido como Pedro Madruga, son la misma persona.

Philippot parte del convencimiento de que el descubridor era de una familia noble, por lo que a través de la observación de los árboles genealógicos de la familia Sotomayor y Colón (la gallega, obviamente) llega a tal conclusión. Como nota a pie de página, señala que el marino, en su larga travesía, parte del puerto de Palos, donde es señor el conde Cifuentes, Juan de Silva y Tenorio, primo de Pedro Madruga, y que Colón, al poner cinco anclas en su escudo, aseguró que él «no era el primer almirante de su familia» (cada escudo significa un almirante). La única familia gallega que contaba con cinco marinos de tal graduación en su linaje era la Sotomayor.

Ahora, retomando este tesis, y mientras la polémica se reaviva, en Arcade se acaba de inaugurar la tienda La despensa de Colón, dedicada principalmente a alimentación, y en donde para apoyar la tesis de Philippot se facilita información sobre el supuesto origen gallego del descubridor. Además, se venden objetos tematizados e, incluso, dispone de un punto de recogida de firmas par solicitar el análisis del ADN Colón-Soutomaior y para que la Real Academia de la Historia toma en consideración esta hipótesis.

Para defender su negocio, sus promotores resaltan un hecho innegable: «por primera vez en las visitas al castillo de Soutomarior los guías empiezan a hacer referencia a la tesis que defiende el origen gallego del descubridor».

PELA PRIMEIRA VEZ (versão espanhola)


Como se pode apreciar pela imagem a política tem uma vantagem enorme sobre muitas coisas da sociedade.

É a única que consegue ser Universal em todos os aspectos.

Embora a imagem se relacione com um país, neste caso a Espanha, podiamos considerar real em qualquer outro inclusivé Portugal.









quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O Mistério da Ilha do Corvo

Tem vindo à estampa em diversos números do Público, nas suas cartas ao director, diversa correspondência onde duas opiniões sobre o tema se têem enfrentado.

A civilização ocidental sempre teve uma certa dificuldade em admitir que, numa determinada época temporal, possam ter existido outras civilizações exteriores que estivessem ao mesmo nível de desenvolvimento e ainda menos que alguma estivesse mais avançada.

Ainda nos dias de hoje, no campo científico, quando alguém obtêm um determinado nível sendo exterior ao meio, logo aparece alguém, inglês ou americano, que exactamente no mesmo dia ou na véspera também tinha chegado a essa mesma situação.

É só vermos as descobertas cientificas recentes ex-aqueo de ocidentais e exteriores.

O caso da ilha do Corvo nos Açores segue a mesma linha.



"A estátua do Corvo - verdade e lenda"

Encerrando a questão: crismar Damião de Góis de ingénuo receptor de fantasias é ousado e perigoso; estranha "lenda de marinheiros" esta, a que exponho na obra O Cavaleiro da Ilha do Corvo, tão bem ornada de detalhes, nomes e datas.

Em 1529, Pedro da Fonseca, o donatário da ilha, foi ao Corvo e recolheu cópia em cera da legenda em caracteres não latinos. Será também o arquitecto Duarte Darmas uma ficção?

Opinião por opinião, leiam-se os argumentos arrolados pelo erudito açoriano António Ferreira Serpa, em favor da existência da Estátua corvina. O que resta do monumento, entretanto desfeito na sua desmontagem, são "a cabeça do cavaleiro, o braço direito do mesmo, que apontava para ocidente, uma perna, a cabeça do cavalo, uma mão que estava levantada e um pedaço de uma perna". Exigiria este espólio uma nau de grande porte?

E se Góis usa a primeira pessoa para asseverar "onde se puseram (os restos da estátua) eu não o pude saber", não será lícito entendê-lo como testemunho pessoal? Porque não se anotaram estes eventos na crónica dedicada a D. Manuel? Porque se trata de uma "cousa substancial" ocorrida no decurso do reinado de D. Afonso V, cujo escopo temporal o cronista integrou na Crónica do Príncipe Perfeito.

As nove moedas encontradas no Corvo não estão sozinhas: e o amuleto recolhido em S. Miguel, datado pela Sociedade Epigráfica Americana como oriundas de entre os séculos VII e IX da era cristã? E as inequívocas referências à função das "estátuas-marco" da historiografia árabe desde o século X? E o mapa dos Pizzigani com a explícita menção "estas são as estátuas diante das Antilhas..."? Conspiração de imaginativos? Enalteço a coragem do nosso grande humanista na salvaguarda das "cousas antigas", em "alumiar o descuido e esquecimento em que a antiguidade dos tempos as pôs".

Joaquim Fernandes

Porto

Os Símbolos Nacionais

Porque os casos com os simbolos nacionais parece que continuam achei muito interessante o texto de opinião publicado no Público e que abaixo se transcreve.

Geralmente considera-se como os símbolos principais de uma Pátria, a sua Bandeira e o seu Hino.

Creio que não há nacional nenhum que mesmo em longínquas paragens ao aperceber-se da existência local desses simbolos não sinta uma certa emoção e os respeite.

Ora aqui é que nasce o problema!

O português pós-25 de Abril não foi educado nos símbolos nacionais porque a cartilha vigente no início do último quartel vivido considerava que o ensino da Bandeira e do Hino Nacional era uma demonstração do regime anterior e nada própria numa ideia política de certa cor.

Resultado:

Já não se sabia de que lado ficavam as cores nacionais (verde e vermelho) e ainda hoje se repetem os casos de içar a bandeira de pernas para o ar com os castelos e as quinas invertidas.

Quanto ao hino nacional, a música era reconhecida vagamente e a letra nem pensar.
E então, quanto a ouvi-lo respeitosamente e de pé, era fatal!

Vergonha das vergonhas, foi preciso vir de um país irmão, ex-colónia e criado à nossa imagem, um Homem que, por força da sua actividade profissional, conseguir fazer aquilo que em Portugal nenhum dos seus filhos era capaz de fazer, muito menos o Ministério que era responsável pelo facto.

Mas hoje já há quem na nova juventude perceba que um Ministério da Educação que não é capaz de ensinar aos jovens os símbolos nacionais pátrios também não deve ser grande coisa na língua materna, o PORTUGUÊS, nem nas restantes ciências e artes.




A todos os chefes militares, a propósito da Bandeira

João José Brandão Ferreira - 20080814

Sejam quais forem as razões pelas quais hasteamos bandeira, essas razões cessam quando está mau tempo?

Na senda da minha chamada de atenção sobre "pormenores", a qual já dura há mais de 30 anos, venho trazer ao conhecimento dos comandos das FA mais um caso que me chamou a atenção, no usufruto de um dom especial da Providência Divina, que me faz reparar em coisas que, pelos vistos, mais ninguém repara.

Assim, no salutar intuito de castigar o físico, certamente para equilibrar o facto de ser relapso a jejuns e outras penitências, que as grandes religiões sabiamente prescrevem, dei outro dia, ao entrar pela porta de armas do Comando Operacional da Força Aérea, com o mastro nu da Bandeira Nacional. Como a hora a que tal se passou incorria no espaço temporal originado pelo movimento de rotação da Terra, conhecido na gíria meteorológica por "entre o nascer e o pôr-do-sol, estranhei.

Feitas as inquirições, apurei da existência de uma determinação que inibe a exibição da Bandeira Nacional quando a fúria dos elementos se prevê atingirem determinada violência. A razão, apurou-se também, reside na tentativa de preservar por mais tempo aquele símbolo das Quinas com origem em Ourique. Não se pode dizer que não seja uma preocupação estimável.

Uns dias depois a cena repetiu-se. Tal facto, quero confessar, desencadeou nas moléculas afectas à parte pensante do meu ser, um movimento algo desordenado e anárquico. Mais tarde seguido, por outro, de cariz mais ordenado.

Lembrei-me então, que a Bandeira Nacional é hasteada nos edifícios públicos sitos no território definido como português, o que inclui embaixadas e consulados em países estrangeiros. Os quartéis onde se instalam forças militares portuguesas destacadas, incluindo navios de guerra e aeronaves, também evidenciam as cores nacionais.Tal facto quer dizer que ali é a nossa casa, que ali mandamos nós; representa ainda uma comunidade de afectos, um símbolo de unidade e de individualidade.

O ponto é este: sejam quais forem as razões pelas quais hasteamos bandeira - e fazemo-lo segundo o estatuído em normas e regulamentos, não o fazemos de qualquer maneira -, essas razões cessam quando está mau tempo?Não me parece que cessem. E creio que a maioria das entidades estaduais também assim pensa, a começar nas autarquias, que devem ter destas coisas, uma ideia assaz mais nubelosa do que os militares.

Quero dizer com isto que a tecnocracia não se deve impôr aos princípios e que a nossa esforçada intendência terá que programar verbas para garantir uma gestão de stocks eficaz, pela não menos operosa logística, quiçá encomendar que tais artefactos sejam feitos com materiais mais resistentes. Basta seguir o mesmo raciocínio que se tem para as botas, os parafusos e demais parafernália que faz falta a uma tropa moderna ou antiga. Embora, salvo melhor opinião, me pareça que a Bandeira de todos nós, não deva estar ao mesmo nível do atrás apontado.

Isto para já não chegar ao ponto de desculpar o sargento de dia que não passa ronda porque troveja, ou passarmos a ter uma aviação apenas de bom tempo.Cá estão os "pormenores" a ligarem-se ao todo. Estando as moléculas em movimento, agora excitadas por electrões e outras partículas menos visíveis, que a Física nos descreve, alongou-se a inquirição, até chegarmos à conclusão que: o Exército hasteia bandeira aos domingos e feriados nacionais; a Armada, porém, fá-lo diariamente, e nos navios com cerimonial próprio; na Força Aérea, depende das unidades...

Parecendo-me a mim desejável e harmonioso, que se uniformizem procedimentos entre os Ramos - salvo se alguma tradição ponderosa justifique a existência de alguma peculiaridade específica - o que só se poderá determinar a nível do Concelho de Chefes, aqui deixo o alvitre.

Quanto à FA a dessintonia resulta, aparentemente, do seguinte: o Regulamento Geral de Serviço Interno, herdado do Exército aquando do grito do Ipiranga aeronáutico, de 1 de Julho de 1952, deixou de se aplicar, salvo erro, por alturas de 1975. Até hoje não foi substituído apesar de algumas tentativas feitas nesse sentido. E como a natureza tem horror ao vácuo e a tropa então nem se fala, os comandantes/directores de diferentes unidades/órgãos/comandos têm produzido "directivas" internas sobre os mais diversos assuntos.

Não quero terminar sem deixar claro que nunca estive, não estou, e não penso vir a estar, ligado a qualquer negócio relacionado com a fabricação ou comercialização de bandeiras e seus acessórios.

Eis pois o que as minhas moléculas pensantes discerniram sobre tão subido assunto e vêm - agora já mais acalmadas - expôr ao superior julgamento de V. Exas.

Tenente-coronel piloto aviador (Ref)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Portugal e o Dia do Cheque

Portugal já tinha uma instituição que foi transitando da Monarquia para a República. A única diferença que as últimas Repúblicas introduziram no sistema foi o de instituicionalizar um dia no ano para o acto de entrega, o que não existia antes.

Assim ao dia 10 de Junho existe uma distribuição de medalhas, condecorações, aonde o País dá o prémio que alguns acham que certos portugueses têem direito.

Claro que a ideia merecia ser desenvolvida por um Ministério que tem tido uma grande preocupação em nada contribuir para aquilo que ele próprio existe. Daí a passar a para o Dia do Cheque foi um passo.

Artigo de opinião no Público de 2008.08.06:




Uma lógica mercantil só agrava a falência do sistema de ensino

Nuno Pacheco - 20080806

A ideia, importada, de pagar prémios de 500 euros aos melhores alunos do secundário só acentua a falência deste sistema de ensino. Não o salva nem o melhora, só agrava a sua agoniaAs escolas devem pagar aos alunos que tirem boas notas? Esta pergunta foi, há dias, título de um artigo do PÚBLICO (edição de domingo, 3 de Agosto) e suscitou, no próprio texto, várias reservas e algumas reacções de indignação. Curiosamente, num país em que tanto e sobre tanta coisa se discute, ficou-se por aí. A iniciativa, anunciada pelo Ministério da Educação, de instituir um prémio anual de 500 euros para o aluno que em cada escola tenha concluído o secundário com melhor aproveitamento (ou com melhores notas, o que nem sempre é a mesma coisa), afundou-se no silêncio.

Mas devia ter suscitado uma forte discussão. Porque a simples ideia de tornar a escola permeável a tais prémios é, no mínimo, inquietante. Têm razão os que, perante tal notícia, falaram em "deturpação de valores" ou em "truque ridículo". Porque, a pretexto de valorizar (é o ministério que o diz) "o mérito, a dedicação, o esforço no trabalho e desempenho escolares" dos alunos, o que se pretende é, na verdade, reduzir as margens de insucesso à custa de dinheiro que, em lugar de ser investido nas escolas e para melhorar a qualidade do seu ensino, é entregue num envelope a cada aluno como se fosse um brinde de um concurso televisivo. Ora mal vai a escola que não consegue fazer da aprendizagem um valor em si, prémio bastante para quem aprende mais e melhor.

O que fará o aluno com o dinheiro? Esquece de imediato a escola e vai comprar uma consola de jogos, que certamente o diverte mais. Pior: passa a trabalhar com um único fito: o de receber o cheque, não o de se preparar para a vida. Porque a vida que a escola já lhe ensina fica reduzida a isto: o conhecimento serve apenas para ganhar dinheiro.

Claro que o ministério não institui só o cheque, também institui um diploma. Mas o aluno há-de preferir o primeiro ao segundo, porque tal "moral" a isso o leva. Diplomas há muitos, cheque há só um. Ou dois, no máximo, em cada escola (o diploma prevê que os cursos científico-humanísticos e os cursos profissionais/tecnológicos tenham, em cada ano, um cheque de 500 euros para cada um, para a melhor classificação final).

No Brasil, em 2007, este tema foi muito discutido. Uma faculdade paulista tinha má classificação nos rankings. Solução? Dar dinheiro aos alunos. Uns acharam bem, outros ficaram aterrados. Uma aluna ouvida pelo jornal Folha de São Paulo disse ter ficado estarrecida ao abrir o envelope. Sentia-se como se comprassem o seu conhecimento. Para ela, faria muito mais sentido que a escola investisse na sua própria infra-estrutura. Mas o responsável pela faculdade defendeu-se. Não queria ter problemas e queria, acima de tudo, resultados. Assim, se não conseguia convencer os alunos a participar nos exames nacionais (o Enade), pelo menos comprava a sua "adesão" a tal sacrifício.

E por cá? O meio milhão de euros que o ministério vai investir em cheques, que serão gastos em tudo menos em educação, há-de evaporar-se rapidamente. A escola continuará mal, porque é essa a sua triste sina. E ninguém tirará proveito de mais esta desastrada medida disfarçada de investimento. Se é preciso melhorar o desempenho, torne-se o ensino compensador. Distribuam-se diplomas, sim, mas faça-se com que os alunos sintam que eles são mais do que um papel lustroso. Instituam-se, se for preciso, distinções ou quadros de honra nas escolas. Mas não se confunda tal prática com a venda a retalho do conhecimento. A ministra quer que o dia 12 de Setembro seja, já este ano, o Dia do Diploma. Mas o papel que tristemente assinou fará dele o Dia do Cheque.

China e abertura dos Jogos Olímpicos

Conforme se esperava a questão dos Jogos Olímpicos na Chna nunca seria uma questão pacífica até por causa das políticas e linhas de força desse país.

Mas é sempre bom tomar outros pontos de vista, pelo que se transcreve o artigo de opinião do Público de 2008.08.06.




O triunfo da vontade da China


Nina L. Khrucheva - 20080806

A escolha de Albert Speer Jr. pelos dirigentes chineses não pode deixar de evocar os totalitarismos do século XXQuando tiver lugar a cerimónia de abertura dos Jogos Olímicos de Pequim, os espectadores vão ser presenteados com um espectáculo meticulosamente coreografado e banhado no mais puro kitsch nacionalista.

É claro que a última coisa que a China deseja para os seus Jogos Olímpicos é vê-los associados a imagens que recordem as tropas de choque hitlerianas marchando a passo de ganso. Não esqueçamos que o nacionalismo oficial chinês proclama que o "progresso pacífico" do país evolui num idílio de "desenvolvimento harmonioso". Mas a verdade é que, tanto do ponto de vista estético como político, o paralelo não tem nada de rebuscado.

Na realidade, ao escolher Albert Speer Jr. - o filho do arquitecto favorito de Hitler e designer chefe dos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936 - para conceber o plano geral dos Jogos de Pequim, é o próprio Governo chinês que torna impossível esquecer a radical politização da estética que foi uma marca dos totalitarismos do século XX. Da mesma maneira que fizeram esses regimes, fascistas ou comunistas, também os líderes chineses tentaram transformar o espaço público e os eventos desportivos numa prova visível das suas competências e do seu direito a governar.

A encomenda que foi feita a Speer Jr. foi a de conceber o plano geral para o acesso ao complexo olímpico de Pequim. O seu conceito central consistiu na construção de uma imponente avenida que liga a Cidade Proibida ao Estádio Nacional, onde vai ter lugar a cerimónia de abertura. O plano do seu pai para "Germânia" - o nome escolhido por Hitler para a Berlim que planeava construir depois da Segunda Guerra Mundial - também se organizava em torno de um eixo central, igualmente poderoso.

Os dirigentes chineses vêem os Jogos Olímpicos como um palco para demonstrar ao mundo a extraordinária vitalidade do país que construíram nas últimas três décadas. E essa demonstração serve um objectivo interno ainda mais importante: legitimar a futura permanência do actual regime aos olhos dos chineses comuns. Dado este imperativo, uma linguagem arquitectónica que se caracteriza pela grandiloquência e pelo gigantismo parece quase inevitável.

É por tudo isto que não é uma surpresa que os Jogos de Pequim se pareçam com os orgulhosos Jogos que mereceram tanta atenção do Führer e seduziram as massas alemãs em 1936. Tal como os Jogos de Pequim, as olimpíadas de Berlim foram concebidas como um baile de debutantes, uma grande estreia. A máquina de propaganda nazi de Josef Goebbels foi utilizada a fundo. As imagens de atletas - utilizadas de uma forma brilhante no aclamado documentário de Leni Riefenstahl, Olímpia - pareciam criar um laço entre os nazis e os antigos gregos e confirmar assim o mito nazi segundo o qual os alemães e a civilização alemã eram os verdadeiros herdeiros da cultura "ariana" da Antiguidade clássica.

Enquanto desenhava os planos para os Jogos de Pequim, Speer Jr., um reputado arquitecto e urbanista, também pensou, tal como o seu pai, criar uma metrópole futurista global. Mas é claro que a linguagem que usou para vender a sua ideia aos chineses foi muito diferente da que o seu pai usou para apresentar os seus planos a Hitler. Em vez de sublinhar a magnificência dos seus projectos, o jovem Speer preferiu insistir no seu carácter ecológico. A ideia era transportar a cidade de Pequim, com a sua história velha de 2000 anos, para a hipermodernidade - enquanto a Berlim que o seu pai tinha planeado em 1936 era "simplesmente megalómana".

É evidente que os filhos não devem ser julgados pelos pecados dos pais. Mas, neste caso, quando o filho usa elementos essenciais que constituíam os princípios arquitectónicos do seu pai e serve um regime que tenta usar os Jogos para as mesmas razões que animaram Hitler, não estará ele conscientemente a reflectir esses pecados?

Os regimes totalitários - os nazis, os soviéticos em 1980 e agora os chineses - querem ser anfitriões dos Jogos Olímpicos para mostrar ao mundo um sinal da sua superioridade. A China acredita que encontrou um modelo próprio para desenvolver e modernizar o país e os seus dirigentes olham para os Jogos da mesma maneira que os nazis e Leonid Brejnev olharam: como uma maneira de "vender" o seu modelo a uma audiência global.

É evidente que os chineses mostraram ser politicamente insensíveis ao escolher um arquitecto cujo nome tem tais conotações políticas. E é possível que o nome de Speer não tenha pesado da sua escolha. O que os chineses queriam era encenar uns Jogos que pusesse em evidência uma certa imagem de si mesmos e Speer Jr., inspirando-se na arquitectura do poder que o seu pai dominava, pôde apresentar a solução desejada.

A concretização da visão olímpica de Speer Jr. e da dos seus patronos assinala o fim de um bem-vindo interlúdio. Durante os anos que se seguiram ao fim da guerra fria, a política esteve afastada dos Jogos. Uma medalha de ouro representava as qualidades desportivas e a dedicação dos atletas individuais e não os supostos méritos do sistema político que os produzia.

Mas agora regressámos a uma estética de mesmerismo político, que se reflecte na declaração do Governo do país anfitrião, segundo a qual a China deverá ganhar mais medalhas de ouro do que qualquer outro país até aqui.

Quando a tocha olímpica acabar o seu percurso - que foi aliás uma ideia dos nazis, usada pela primeira vez nos jogos de 1936 - ao longo da avenida do poder imaginada por Speer Jr., o mundo poderá de novo testemunhar o triunfo da vontade totalitária.

Nina Khrucheva é professora de Relações Internacionais na New School University, em Nova Iorque, e é senior fellow do World Policy Institute de Nova Iorque. É autora do livro Imagining Nabokov: Russia between Art and Politics. © Project Syndicate, 2008 (www.project-syndicate.org)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

China, Jogos Olimpicos e a Sociedade

Com os Jogos Olímpicos que realizar-se-ao em Pequim (Beijing) a partir do próximo dia 8 de Agosto, a sociedade actual chinesa sofreu uma grande mutação e igualmente deve a sociedade ocidental olhar essas mudanças sem os óculos culturais com que o costuma fazer, talvez por ser seu defeito intrínseco.

O artigo do correspondente do jornal La Vanguardia em Pequim é nesse aspecto elucidativo.

Recomenda-se a sua leitura em:

http://www.lavanguardia.es/lv24h2007/20080804/53513654881.html

sábado, 2 de agosto de 2008

Computadores MAGALHÃES

Todos os diversos membros da comunicação social deram eco da notícia dos computadores que o governo ia distribuir a todos os alunos dos 6 aos 10 anos, o Magalhães.

Depois houve uma pequena correcção. Não se tratava de DISTRIBUIÇÃO mas de DISPONIBILIZAÇÃO.

Esperemos que os papás dos ditos "infantes" tenham um nível de língua portuguesa disponibilizado pelo Ministério da Educação no seu tempo, deles papás, suficiente para conseguirem deslindar a diferença dos dois verbos:

Distribuir e Disponibilizar



Publicidade enganosa

Primeiro foram as notícias que davam conta de uma nova fábrica da Intel em Portugal. Um sucesso, garantia-se, que já tinha 4 milhões de encomendas ainda antes de ser instalada a primeira pedra. Um investimento que iria criar 1000 postos de trabalho qualificados, na zona de Matosinhos, graças à diligência do Governo. A apresentação foi ontem. Com pompa e circunstância a imprensa andou dois dias a anunciar o “primeiro portátil português”. O Magalhães é um computador inspirado no navegador, diziam ontem as televisões em coro. Para dar credibilidade à coisa, o mais famoso relações públicas nacional e o presidente da Intel subiram ontem ao palco do Pavilhão Atlântico para a "apresentação mundial" deste computador de baixo custo.

Um único problema. Não só o computador não tem nada de novo como a única coisa portuguesa é a localização da fábrica e o capital investido. A "novidade mundial" ontem apresentada, já tinha sido
anunciada a 3 de Abril - no Intel Developer Forum, em Shangai - e foi analisada pela imprensa internacional vai agora fazer quatro meses. O tempo que tem a segunda geração do Classmate PC da Intel, que é o verdadeiro nome do Magalhães. De resto, o primeiro computador mundial para as crianças dos 6 aos 11 anos, características que foram etiquetadas pela imprensa lusa por ser resistente ao choque e ter um teclado resistente à agua, já está à venda na Índia e Inglaterra. No primeiro país com o nome de MiLeap X, no segundo como o JumpPC. O “nosso” Magalhães é isso mesmo, uma versão produzida em Portugal sob licença da Intel, uma história bem distinta da habilmente "vendida" pelo governo para criar mais um caso de sucesso do Portugal tecnológico.

Fábrica da Intel nem vê-la e os tão falados 1000 novos postos de trabalho ainda menos, tudo se ficando por uma extensão da actual capacidade de produção da fábrica da JP Sá Couto. Serão
80 novos empregos, 250 se conseguirem exportar para os Palops. Os tais 4 milhões, que já estavam assegurados, lembram-se? Só que as 4 milhões encomendas não passam de wishful thinking do nosso primeiro. E muito pouco credível. Em todos os países onde o computador está à venda é produzido através de licenças com empresas locais. Como explicou o presidente da Intel, a empresa continua à procura de parceiros locais para ganhar quota de mercado com o Classmate PC, não o Magalhães.

A guerra de Intel é outra, como se pode perceber no
relato que um dos mais reputados sites tecnológicos - a Arstechnica, do grupo editorial da New Yorker - faz da apresentação da Intel e do governo português: espetar o derradeiro prego no caixão do One Laptop for Child, o projecto de Nicholas Negroponte e do MIT para destinar um computador a cada criança dos países do terceiro mundo. É essa a importância estratégica para a Intel. O resto é fogo de vista para português ver.

PS: Não tenho nada contra a iniciativa em si, parecendo-me meritório um projecto para garantir um contacto precoce de milhares de alunos com a informática. Mas isso não quer dizer que aceite gato por lebre. Não seria nada mau sinal se a imprensa nacional, que andou a vender uma história ficcionada, também cumprisse o seu papel.

Concursos Públicos, Gestão e Transparência

Em outro local deste blogue olhámos da gestão neste País e neste alerta do Público que abaixo se transcreve verifica-se mais uma vez a pecularidade nacional.

Um decreto-lei é publicado a 29 de Janeiro com efeitos a partir de 29 de Julho.

Entretanto é necessário publicar a legislação regulamentadora para o funcionamento do estipulado no decreto-lei.

Como já temos uma gestão conveniente tal legislação foi publicada no dia 28 de Julho.

Felizmente não sucedeu como em casos similares de portarias regulamentadoras que nem dois ou três anos depois foram publicadas.

Note-se que o dia 28 de Julho é véspera do dia 29 de Julho.



Chuva de concursos públicos precedeu entrada em vigor do Código da Contratação

Em apenas dois dias foram lançados mais de 300 concursos. Entidades quiseram evitar as novas formalidades e as regras que têm a transparência e o rigor como objectivo

Foi uma verdadeira chuva de concursos públicos o que se verificou nos dias que antecederam a entrada em vigor do novo Código dos Contratos Públicos (CCP) - quarta feira, 30 de Julho. Trezentos nos últimos dois dias, uma média de 40 por dia no últimos dois meses. Em períodos normais, a média de concursos públicos anunciados por dia no Diário da República é de cerca de uma dezena.

Serviços municipalizados e empresas municipais, regiões autónomas, hospitais, câmaras e juntas de freguesia, ministérios e empresas públicas como a Rave, a Refer ou a Estradas de Portugal (vários por dia, quase todos os dias), e até o Tribunal de Contas. Com tantos exemplos, parece que as empresas e instituições andaram numa correria para evitar as novas regras do CCP, pelo que lançaram os concursos para empreitadas e para fornecimentos de serviços ao abrigo da anterior lei.

De então para cá, parece que não se passou nada em termos de contratação pública: nos últimos três dias não foi publicado um único concurso no jornal oficial; e no BASE, o portal dos contratos públicos (www.base.gov.pt) tambem não foi divulgado nenhum ajuste directo. Esta é, aliás, uma das novas regras: as empreitadas até um milhão de euros podem ser entregues por ajuste directo, e também os contratos de aquisição de bens e serviços de valor inferior a 206 mil euros, mas esses ajustes devem ser publicitados no portal dos contratos.

O Código dos Contratos Públicos foi publicado a 29 de Janeiro, altura em que se estabeleceu um prazo de seis meses antes da sua entrada em vigor. Determinou-se também a necessidade de serem publicadas várias portarias que iriam regulamentar o novo quadro legislativo. Mas tal só aconteceu na véspera da entrada em vigor do código, a 29 de Julho.

O novo regime introduziu alterações profundas na área da contratação pública. São elas, em última instância, que justificam a verdadeira "corrida aos concursos" dos últimos meses. Por um lado, estão em causa as alterações das regras, que têm como objectivo aumentar o rigor e a transparência no acto da contratação e no período de vigência dos contratos. Por exemplo, passou a ser obrigatória a publicitação, durante seis meses, de quaisquer modificações do contrato que representem um valor acumulado superior a 15 por cento do preço contratual, sob pena de pôr em causa a própria eficácia da adjudicação).

Por outro lado, não é negligenciável o facto de a grande maioria dos cerca de 5500 donos de obras públicas e entidades que se submetem à regra da cont=ratação pública (como as instituições de solidariedade social) não estarem ainda apetrechadas técnica e formalmente para montar concursos de acordo com as novas regras.

A obrigatoriedade de lançar concursos pela via electrónica, e a intenção de desmaterializar por completo os actos com eles relacionados, por exemplo, têm trazido algumas dificuldades de adaptação. O longo caminho a trilhar tem vindo a ser desbravado pelas (poucas) empresas que estão no mercado na área da contratação electrónica, como a Vortal e a Construlink, que têm estado no mercado a "angariar" os 5500 potenciais clientes.

5500 é o número de entidades que se vão submeter às novas regras da contratação pública. Engloba toda a administração do Estado e as empresas que controla, excepto as que estão em mercado concorrencial n
Luísa Pinto

O Primeiro de Janeiro

Conseguem habitualmente os jornais atravessar várias gerações durante a sua vida, mas as alterações sociais por vezes são tais que por vezes os próprios jornais têm dificuldade em se adaptar e a partir daí o seu final de vida aproxima-se rapidamente.

Artigo de opinião no Público de 20080802:




A morte de mais um jornal diário

José Manuel Fernandes - 20080802

Quando um jornal perde o respeito dos seus leitores, passa a ser uma questão de tempo saber quando desapareceráTorna-se difícil perceber como é que se encerram as instalações de um jornal, se dispensam todos os seus trabalhadores e, ao mesmo tempo, se diz que este vai regressar, remodelado, daqui por um mês. Contudo, foi isso que aconteceu anteontem com O Primeiro de Janeiro. E isso foi lido como representando a morte definitiva daquele diário portuense mais do que centenário.

Mas a verdade é mais dura: há mais de uma década e meia que O Primeiro de Janeiro já não existia. Nem sequer como sombra do que chegou a ser o mais respeitado diário do Porto. Comprado por um grupo de investidores ligados a pequenos jornais regionais, do velho título sobrava pouco mais do que o cabeçalho. Mas a decadência começara antes, sinal de que a memória do passado, por mais glorioso que este tenha sido, não é garantia de futuro. O futuro faz-se no presente, e O Primeiro de Janeiro começou a perdê-lo quando, sobretudo nos anos que se seguiram ao 25 de Abril, se afastou da linha independente, liberal e de aposta no rigor e seriedade que havia feito dele o jornal de referência do Porto.

Nascido depois da "janeirinha" de 1868, um movimento de protesto que levaria à queda do Governo de Fontes Pereira de Melo e ficou associado ao fim do período conhecido por Regeneração. O jornal nasceu na sequência desse movimento e, como muitas publicações da época, começou por ser essencialmente um folheto político, só passando a ser um jornal de características mais profissionais em 1870. O seu período de ouro seria vivido entre as décadas de 1940 e 1960, sob a direcção de Manuel Pinto de Azevedo, época em que apostou no noticiário internacional e criou um suplemento cultural, Das Artes, das Letras, onde colaborariam os mais importantes autores da época.

Com uma linha editorial favorável à causa dos Aliados durante a II Guerra Mundial e uma orientação mais liberal numa época de censura, O Primeiro de Janeiro começou a perder terreno quando, sob a direcção de Freitas Cruz, o rival Jornal de Notícias se tornou no grande diário popular das causas do Grande Porto. Com a revolução, numa época em que a imprensa se politizou até limites hoje intoleráveis, o velho diário foi gradualmente perdendo o rumo e os leitores. E entrou na mesma espiral destrutiva que levou ao fecho de tantos outros títulos, com ciclos sucessivos de desinvestimento, logo de perda de qualidade, logo de perda de leitores e de bons anunciantes. Só se estranha como, mesmo assim, sobreviveu até hoje - ou talvez não se estranhe, porque nem sempre terá sido pelas melhores razões.

Infelizmente tem sido este o destino de milhares de diários um pouco por todo o mundo, por vezes num processo de saudável renovação - se O Primeiro de Janeiro mantivesse em 1990 a mesma qualidade que fizera a sua diferença, talvez não tivesse havido espaço para a afirmação do PÚBLICO... -, as mais das vezes vítimas de um mercado adverso onde os erros se pagam caro.

Sobretudo os erros que desvirtuam o que deve a marca de água de qualquer publicação: a qualidade e identidade do seu jornalismo.Se alguma lição podemos tirar do destino de O Primeiro Janeiro é que desviar-se de uma linha que se afirmara por ser independente e respeitada é sempre fatal para um jornal com leitores exigentes, como era o seu caso.

P.S. A independência é uma das qualidades intocáveis do jornalismo de referência, por isso é de lamentar que haja quem procure, pela manipulação ou pelo boato, atacar este espaço de liberdade e frontalidade que é o do PÚBLICO. Ontem uma colunista instrumentalizou o conteúdo de uma resposta de Pacheco Pereira ao Diário de Notícias para "provar" que neste jornal haveria "uma cruzada declarada contra José Sócrates". Ora Pacheco Pereira começa por responder "sim" a uma pergunta em que essa hipótese era colocada, mas logo a seguir clarifica: "Não digo que haja uma cruzada, acho que o jornal fez uma coisa corajosa que é ter quebrado um tabu que nunca teve razão para existir." Em causa estava termos noticiado as dúvidas sobre a licenciatura de José Sócrates, e Pacheco Pereira até conclui a resposta manifestando-se preocupado com "o silêncio incomodado dos outros órgãos".

Como se isso não fosse suficiente, foi posto a correr o boato de que eu próprio teria jantado com um político conhecido no dia de uma eleição importante, assim se provando que estava comprometido com ele. Quem pôs a correr e quem alimentou o boato teve azar: por princípio, não revelo onde e com quem janto em privado, mas nesse dia, por coincidência, estive num jantar de gala, público, pelo que posso revelar que ele teve lugar numa bela cidade a uns três mil quilómetros de Lisboa.

Portugal e gestão

Pretende o autor chamar à atenção, mais uma vez, para uma situação que em Portugal é um "must".

Quer durante o Reyno, quer durante as Repúblicas, este país sempre se demonstrou pela característica de uma política de compadrios, onde o politicamente correcto é que vingava e não o que desejavelmente devia ser feito.

A única excepção, que se calhar confirma a regra geral, que encontramos é na segunda metade do século XV onde tivemos o único governante que até hoje se guiou unicamente por critérios de gestão não contaminados onde o resultado era avaliado e premiado se alcançados os objectivos definidos previamente.

Por vezes os métodos podiam ser um pouco excessivos, mesmo para a época, mas os resultados alcançados mostravam o merecimento.

A seguir um artigo de opinião publicado no Público.




Thatcher e gestores públicos

José Miguel Júdice - 20080801

Os portugueses acham que os gestores não devem ser remunerados pelo sucesso, palavra maldita da língua portuguesa

Era Margaret Thatcher primeiro-ministra do Reino Unido. Um dia, um escândalo rebentou. Soube-se que o Governo tinha contratado um sócio do famoso banco de investimento Lazard Brothers para presidir à British Steel. Somando a indemnização ao banco pela saída temporária do seu sócio, o ordenado e os prémios de sucesso, o valor era astronómico. Thatcher teve de responder, na habitual sessão da Câmara dos Comuns, ao fogo da oposição. A resposta foi simples, cortante e esclarecedora: para atingir tais valores, ele teria de transformar a Bristish Steel numa empresa com resultados positivos. Nesse caso, o que lhe seria pago - a tal conta astronómica - correspondia a um dia dos prejuízos anuais da empresa, ou seja, a cerca de 0,27% dos prejuízos anuais existentes! Se tivesse sucesso, por cada libra que ele ganhasse, o erário público ganhava 364 libras. E salvava a empresa da falência. Os britânicos calaram-se e esperaram. E, ao fim de alguns anos, o sócio do famoso banco teve sucesso. Ganhou o Reino Unido e ganhou ele. E devíamos todos ter ganho uma lição.

Em Portugal, estão os jornais cheios com notícias sobre o que ganham os gestores públicos. A inveja entre nós, é sabido, dá-nos lugar no Guinness (e já Camões, et pour cause, terminou simbolicamente Os Lusíadas usando essa palavra que é a que melhor nos define como povo); e a compreensível revolta contra as dificuldades gerais facilmente se transforma numa irritação contra quem ganhe mais do que outros.

A minha tese é que os gestores públicos deviam poder ganhar muito mais do que ganham, se atingissem difíceis objectivos que seriam negociados antes de tomarem posse. A tese dominante em Portugal é que devem ganhar bem, mas não muito, e que não devem ser remunerados pelo sucesso, que sabemos ser a palavra mais maldita da língua portuguesa.

Se o gestor da British Steel viesse para Portugal (as grandes figuras do mundo também têm as suas maluqueiras), teria de aceitar que a sua equipa fosse escolhida com o beneplácito do partido que estivesse na altura no poder, iria ganhar de acordo com uma tabela que é igual para todos, beneficiaria de um bom automóvel e de umas viagens, teria um pequeno prémio que pouco dependeria do que fizesse. Vamos imaginar, por exemplo, que aceitava gerir a CP. Quer mudasse a empresa, quer não mudasse, tudo seria para ele financeiramente mais ou menos irrelevante. Não teria por isso nenhum estímulo real para mudar o que estivesse mal e para melhorar fortemente os resultados. Para ter sucesso, teria de discutir duramente com fornecedores (incluindo os trabalhadores), clientes (incluindo o Estado, que, ao impor certos preços, funciona, na prática, como grande comprador), alterar práticas e atitudes. Seria, claro, estigmatizado pelos media, incomodado pelos partidos, boicotado pelos quadros (que não podem ser substituídos), os seus colegas de administração tudo fariam para lhe tirar o lugar, os ministros demorariam meses a tomar decisões que eram urgentes, acabaria seguramente por desistir ou - o que é pior - por se acomodar.

Lembro-me de um médico que dirigia um importante serviço num dos maiores hospitais portugueses. Estávamos na primeira metade dos anos 90. Com muito esforço e capacidade negocial, conseguiu obter dos fornecedores reduções de cerca de 250.000 contos no custo do que tinha de encomendar para o serviço. Ninguém, evidentemente, lhe agradeceu. Pelo contrário, só deve ter tido problemas com isso. E o resultado foi que... no ano seguinte o orçamento do seu serviço foi reduzido em 250.000 contos! Para aprender. E para perceber que não deveria voltar a ousar o que fizera.

E quem não se lembra do que teve de ouvir o anterior director-geral dos Impostos, apesar ou por causa do seu sucesso, da inviabilidade de lhe pagar à altura do seu valor, da inveja de que foi vitima?

Uma grande parte dos problemas portugueses nasce neste tipo de mentalidade. A generalidade dos opinion makers, dos burocratas que a si mesmo se chamam - e não estão a gozar connosco - "políticos", dos jornalistas travestidos em comentadores nas suas intervenções e nos títulos das suas peças, não tem dúvidas. Se querem ser populares, devem embarcar na luta contra o sucesso, o êxito, a exigência, o rigor, o prémio. Devem comparar o que ganha o contínuo com o que ganha o presidente da administração e rasgar vestes e arrancar cabelos com horror. No fundo, no fundo, a mentalidade dominante em Portugal acha que pouco ou nada distingue o que faz um e o que faz o outro e que, por isso - como se dizia que acontecia na China maoísta -, todos deviam ganhar o mesmo em cada empresa.

Os gestores públicos em Portugal ganham em regra pouco. Mesmo as empresas que funcionam bem, como a CGD, remuneram claramente abaixo dos valores de mercado. Ora essas empresas estão num mercado competitivo e o que ganham os seus dirigentes deve ser comparado com os concorrentes e não com o que ganha cada um dos portugueses ou cada um dos empregados das mencionadas empresas.

Não tenhamos ilusões. Se em Portugal fosse culturalmente possível fazer o que Thatcher fez no caso da British Steel, se o director de serviço do hospital e a sua equipa tivessem - para formação, por exemplo - metade do que pouparam, se o director-geral dos Impostos fosse remunerado por objectivos, Portugal tinha mudado.

Se o Estado tiver coragem, deve avançar nessa direcção. Infelizmente, não o vai fazer. É a vida, como terá dito António Guterres.

Advogado

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Damião de Góis e a estátua equestre

Nos dias que passam ainda aparecem uns certos "maduros" que, não tendo estado no local e no momento para que pudessem ser testemunhas oculares, nem tendo elementos que possam ser discutidos, analisados e, se válidos, admitir uma nova hipótese, lançam atoardas para o ar e atingem aqueles que já não podem defender-se directamente.

A carta ao director do Público que se transcreve é mais um exemplo.




CARTAS AO DIRECTOR
- 20080725

A credibilidade de Damião de Góis

Neste espaço, um leitor, descrente de inovações em Ciência e História, pretendeu beliscar uma dupla credibilidade: a de Damião de Góis, que descreve com algum detalhe o episódio da "estátua equestre" encontrada pelos portugueses na ilha do Corvo, e o historiador, no papel de autor do romance O Cavaleiro da Ilha do Corvo, que, embora em tons de ficção, fá-lo com a segurança e credibilidade que lhe confere uma investigação documental de centenas de referências bibliográficas, de Aristóteles à pesquisa actual, disponível ao leitor no final do citado livro.

Ao modo leviano com que o leitor tenta anular o testemunho do insígne humanista e cronista da corte manuelina acumula-se a fácil inferência de que Damião de Góis "não viu" os destroços do monumento, que D. Manuel I mandou guardar nos aposentos régios do Paço da Ribeira. Não viu? Como o prova? Se houve alguém que à época tivesse provado tão de perto como soberano, esse foi certamente o jovem Damião, pagem, irmão de Frutuoso de Góis, ambos íntimos da câmara régia. Não temos, no depoimento de Góis, nomes, detalhes e testemunhos acessórios que se corroboram entre si? Desde o arquitecto Duarte d'Armas, que el-rei mandou ao Corvo fazer o desenho da estátua, aos pedreiros enviados ao ilhéu com a incumbência de trazerem o monolito para Lisboa, passando pelo donatário Pedro da Fonseca, que, em 1529, se deslocou ao Corvo para recuperar uma legenda em caracteres não-latinos e que fora descoberta no sopé onde antes existira a estátua do cavaleiro "com traços africanos", seguindo a descrição de Góis. E o mapa dos irmãos Pizzigani, de 1367, que confirma a tradição árabe das estátuas-marco no centro do Atlântico?Ou seja, o autor da Crónica do Príncipe D. João é digno de crédito para descrever a chegada do primeiro rinoceronte a Lisboa; mas já não serve quando relata a chegada ao Paço dos destroços do monumento, que a imperícia dos pedreiros provocara... E sobre as moedas, "que ninguém viu", não existem delas sobejas imagens e referências publicadas por revistas da especialidade - que o romance reproduz - e avaliadas pelo mais renomado numismata ibérico, o padre Florez, em Madrid?

Quatro séculos passados persistem aqueles que, minimizando a integridade de Damião de Góis, tentam fazer da História um livro fechado. Ingenuidade ou má-fé?"

Joaquim Fernandes

Porto